domingo, 22 de novembro de 2015

Ascensão de Maria.

Não foi no dia 14 de novembro de 2015, nem nos dias seguintes, que aconteceu a ascensão de Maria, mas ao longo de uma vida, longa de tudo, coerente na palavra e ação, e na ação na palavra, uma relação biunívoca com a vida, que começou no dia 20 de maio de 1916.

Tudo junto, e cultivado, sem pretenção de maior que não tenha sido o caminho da virtude, podemos hoje dizer, e aproveitando a coincidência das palavras do seu nome com o percurso da sua vida, longeva e resistente como o carvalho, uma pequena pedra de valor (Pedrina), firme e inabalável (Rocha), que cumpriu a sua parte em vida.


As memórias de vó Maria em livro, escritas por ela.

É assim vó Maria, nas palavras que nos deixa, com aquela simplicidade que se basta a si mesmo, sem complicações ou pretensões, direta, quando escreve: apesar de tudo, sou feliz e estou convicta do dever cumprido.


Vó Maria em oração, que se nos oferece...






... Roberta estou oferecendo esta oraçaos com lembrança da vó não estou obrigando a rezar. Só quero dizer que a oração é a fortaleza da nossa existencia. É onde se encontra a paz. Não que agente só tenha paz mas se vier algo que desanime agente tem de olhar para o crucifico de Cristo como ele morreu




Vó Maria sapeca...


Vó Maria bordadeira...



A sua alegria e fé é para mim é um duplo mistério. Não a sua fé em particular, nem a sua ligação com a alegria, e como ela articulou ambas, mas a fé no geral, e aquele mistério de acordar todos os dias alegre, com aquela sensação de ter uma folha em branco para escrever, e sem a angustia de a preencher. Não a ligação entre ambas, que certamente existirá, mas de onde vem a fé?... será um recurso de sobrevivência?... e especialmente a forma como espraiava a alegria, não ostensiva, com uma certa constância e naturalidade, e não foi certamente porque a vida fosse fácil.

É a forma como passamos pelas dificuldades da vida, como as ultrapassamos e o que fica delas: as cicatrizes, os medos, o fechar sobre si mesmo, a desconfiança e a inveja, tudo o que nos torna mesquinhos e amargos, ou pelo oposto, a reagir no excesso quando se tem, ou se promove aquilo que se não teve, e que na abundância, leia-se excesso, se julga encontrar... a felicidade.

É um equilíbrio delicado que a sorte de cada um dita, o destino como se diz, mas também, e muito, a resiliência de cada um, que também se constrói no meio do caos, quer da abundância, quer da escassez. Não é a mesma coisa ter ou não ter um braço, certamente isso altera o curso da vida, fica mais difícil, mas se ficar amargo, fechado, mais dificil ainda fica. Por vezes são esses choque que nos abrem os olhos, e nos fazem superar a nós mesmo, por vezes nem damos por isso, carregamos o fardo... andamos entre o sucumbir e o progredir.

Completou 99 voltas ao Sol, chegou ao elemento químico Einstênio, no dia de... e tantas outras coisas, mas o que importa, e é supreendente, é que são 99 voltas de coerência, é obra. Testemunho dado, dever cumprido.

A...deus vó Maria.

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P.S.
A Solidão dos Moribundos, de Norbert Elias;
Ser Mortal, de Atul Gawande.

1 comentário:

  1. Carlos

    Você me surpreende com esta publicação.
    Temos sua lembrança, mas você trás à minha memória fatos que estava escondido no meu inconsciente. Ela gostava e continua gostando muito de você, Beta e Gustavo.
    Roberta postou uma foto tirada na última vez que aqui esteve.
    Ela está muito viva no meu coração e assim continuará para sempre.
    Ela não morreu. Morreu o corpo, como um casulo, mas ela, como espírito, voou como uma borboleta.
    AGORA ESTÁ EM PAZ, LIVRE DAS DORES FÍSICAS QUE LHE ATORMENTARAM DESDE MAIO, ATÉ O COMO QUE OCORREU HA APROXIMADAMENTE UM MÊS DO ÓBITO
    Mais uma vez obrigado
    MUITA PAZ PARA VOCÊ E TODA MINHA FAMILIA PORTUGUESA.
    QUE A COMADRE LAURA LOGO SE RECUPERE

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