domingo, 27 de dezembro de 2020

Princípios.

Água, rocha e movimento...

Alvo incomplexo...

Porque  do pouco que se vai ao muito, é do perto que se vai ao longe, é do pequeno que se vai ao grande" [AQUI]...

E "muda-se pouco, mas a vida muda por nós" [AQUI]...

Estenderam-me as mãos, deixaram-me à vontade,

Obrigado Jorge e Paula.


P.S. Temos os mesmos princípios.

sábado, 10 de outubro de 2020

Diérese.

 Dear Carlos,

I came across this poem by accident this week.  I was moved especially by the last two lines.  I think you may like it.

Somehow your raindrops on spiders' webs reminded me of it.

Patrick.

Em março de 2018 apresentaram-me Nostos... e por extensa curiosidade a autora. Anteontem o seu nome ressoou-me. Lia-o como se não existisse trema, e estranhei o i pronunciado na televisão. Pelos vistos é assim na nossa língua, mas o seu nome foi pronunciado ASSIM ao darem-lhe a notícia.

Ao tempo descobri que não estava traduzida, e continua, salvo poemas esparsos, em boa versão bilingue, fundamental em poesia: amparo linguístico para os menos capazes [eu].

Da nota biográfica de atribuição do Nobel revejo [-me]: her own severity and unwillingness to accept simple tenets of faith. No artigo do jornal Público comprovo que “escrever não é decantar a personalidade” e que “a verdade, na página [do livro], não precisa de ter sido vivida, mas é antes tudo aquilo que pode ser contemplado”; boquiaberto, como se não o experimentasse na carne: não chegou a licenciar-se, o que não a impediu de ensinar poesia em diversas escolas e universidades, após anos a sustentar-se com um emprego de secretária; consolo-me, triste consolo, com a mera sobrevivência é já um quase inacreditável milagre.

A professora, a poetisa Gluck, assim mesmo como a pronuncio [sem o sinal ortográfico da separação de um ditongo em duas vogais].

“A maioria das coisas que tenho para dizer é transformada em poemas. O resto é só entretenimento” [AQUI]

Poemas...

domingo, 27 de setembro de 2020

Ei-lo que parte.

Por sua iniciativa arranjou trabalho e rumou a Lisboa, tinha 17 anos [1955]. Da hora da partida recordava os conselhos da mãe Rosário e o desagrado do pai Américo, mas estava decidido: não via futuro nos negócios da resina, ou do transporte de mercadorias em juntas de bois, por estradas de macadame serpenteando serranias, entre Alferrarede, onde chegava o comboio, e a nossa região [resina, madeira, cera, sal, ferro]. A agricultura era de subsistência.

Chegou com a vontade do poema "Fala do Homem Nascido". Esteve empregado apenas 8 meses, despediu-se e começou a trabalhar por conta própria, subindo na vida a pulso, com aquele instinto para o comércio que tinha observado no seu adorado avó paterno Joaquim Carolino: recordava que este tinha clientes em Proença-a-Nova com os quais só fazia contas uma vez por ano, tudo na palavra: vendia-lhes peixe.

Desenho feito pelo menino Elias, dois dias depois de ter completado 12 anos. Andava na 4.ª Classe.

Primeiro de bicicleta com cesto, depois de motorizada, já na companhia do seu irmão mais novo José Maria, iam descendo pelo Alentejo, vendendo os queijos que recebiam pelo comboio, pernoitando em pensões: das Minas de São Domingos, em Mértola, seguiam para Vila Real de Santo António, avançando pela costa algarvia, desbravando a geografia com o vigor da juventude.

Começou assim, como tantos outros da nossa freguesia, que foram construindo as suas vidas a par das suas empresas, estabelecendo, sem o saberem, uma rede de comércio atomizada e desconexa, arcaica, que chegou até aos nossos dias, e que a pandemia, nalguns casos, ressaltou: resiliente e capilar, capaz de chegar a onde outras formas não chegam; a nossa esteve sempre a funcionar.

O Elias permaneceu na sua até ao último dia dos seu 82 anos: "vende produtos de qualidade", "só tem um preço", ouvia-se... outros tempos.

Adeus Pai, deixei de ter a quem perguntar.

sexta-feira, 25 de setembro de 2020

A unidade e o infinito de pé.

 Há aqui espaço para a unidade e o infinito de pé. Pareceu-me estranho a desproporção entre algarismos, no tipo Georgia, e por isso resolvi verificar no elegante Bodoni, ou no minimalista Gill Sans: bem sei que gostas do clássico Times New Roman, por isso estou a utilizar o mais parecido que tenho, mas vamos ao que interessa: inicias hoje nova volta ao Sol, e se ando às voltas de um número para pescar palavras e agarrar pensamentos, o certo é que atingiste a maioridade.

O pai, como sempre, recomenda-te umas leituras, hoje até com um título “pop”, ouvindo na cabeça o “Find a girl, settle down” da canção “Father And Son” do Cat Stevens, ou o nosso Ricardo Reis a dizer “Para ser grande, sê inteiro: nada teu exagera ou exclui”, a mãe, como sempre, uma “roupa nova”, ai tanto simbolismo no aparente banal, e nesta ambivalência vais crescendo, e estás quase feito, e estamos sempre a aprender.

voltas ao Sol!.. Muitos parabéns Gustavo, e nunca te esqueças, acima de tudo cavalheiro... cavalheiro: homem de boas ações e sentimentos nobres, dicionário dixit.


Post scriptum
  • Um Porto à nossa... à vossa...
  • A vida veio ter connosco à saída do cemitério: uma semente de tília rodopiava no ar, dei por ela e agarramo-la pelo olhar até poisar, peguei-lhe e mostrei-te o engenho: a natureza a funcionar. Ambos vimos pela primeira vez, e entendemos a forma diferente de uma "folha".

domingo, 13 de setembro de 2020

Notícia necrológica do nosso Elias.

Elias do Rosário da Silva
[Elias Carolino]
Pé da Serra - Amêndoa - Mação

Fotografia do seu Bilhete de Identidade, no ano de emissão: 2003, tinha 65 anos.

Cumpre a nós, esposa Laura, filho Carlos e filha Manuela, neto Gustavo, nora Roberta e genro Tiago, comunicar a morte por causas naturais do nosso Elias. O funeral realizou-se a 5 de setembro de 2020, no Cemitério de Benfica, em Lisboa.

Nasceu no Pé da Serra, a 1 de março de 1938, em casa de seus pais, e faleceu em Lisboa, a 4 de setembro de 2020, em sua casa, onde residia desde 1966, ano do seu casamento. De uma a outra, sempre pelo seu pé, percorreu 82 anos.

Por sua iniciativa arranjou trabalho e rumou a Lisboa, tinha 17 anos [1955]. Recordava sempre os conselhos da mãe Rosário e o desagrado do pai Américo, na hora da partida. Chegou com a vontade do poema Fala do Homem Nascido. Esteve empregado apenas 8 meses, despediu-se e começou a trabalhar por conta própria, subindo na vida a pulso, com aquele tino para o comércio, que tinha visto no seu adorado avó paterno Joaquim Carolino [Joaquim da Silva].

Como bom Carolino falava alto, e com o coração na bocaHomem de dar a quem precisava ou considerava, cioso dos seus juízos, e de palavra, foi um prático da vida. 

Reaprender a viver com a ausência, na saudade e na memória, no que de melhor nos legou: coragem, sagacidade e honestidade, e não cultivarmos em nós os seus defeitos: teimosia, mágoa e rigidez. Como um rito de passagem.

A todos os que estiveram presentes no funeral, de facto e ou pensamento, o nosso obrigado. Aos que não estiveram presentes por minha [Carlos] falta peço perdão: intencional palavra final, no tempo das espigas e das uvas.


[Texto em apreciação / reconstrução.] 



TEXTO FINAL PARA O JORNAL «VOZ DA MINHA TERRA»


Elias do Rosário da Silva
[Elias Carolino]
Amêndoa



Cumpre a nós, esposa Laura, filho Carlos e filha Manuela, neto Gustavo, nora Roberta e genro Tiago, comunicar a morte, por causas naturais, do nosso Elias. O funeral realizou-se a 5 de setembro de 2020, no Cemitério de Benfica, em Lisboa.

Nasceu no Pé da Serra, a 1 de março de 1938, em casa de seus pais, e faleceu em Lisboa, a 4 de setembro de 2020, em sua casa, onde residia desde 1966, ano do seu casamento. De uma a outra, sempre pelo seu pé até ao fim, percorreu, com coragem, sagacidade e honestidade, 82 anos.

A todos os que estiveram presentes no funeral, de facto e ou pensamento, o nosso obrigado. Aos que não estiveram presentes por minha falta [Carlos] peço perdão: intencional palavra final, no tempo das espigas e das uvas.

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Post scriptum


segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Uma pele de raposa.

Comentou comigo que também caçava coelhos e raposas com armadilhas, como aquelas da notícia do jornal, e mostrou-me a fotografia:


A leitura do Correio da Manhã, no seu escritório do armazém, era uma rotina diária.

Teria 12 anos, e no local onde a armou não a encontrou, mas a vegetação rasteira estava revolvida, talvez do animal a se debater. Mas não se ficou por aqui, indagou nos meandros da aldeia e encontrou nas traseiras da casa do António Eugénio uma pele de raposa, preparada numa armação e a secar ao sol.

Foi ter com o seu pai, o meu avô Américo, e contou-lhe o sucedido. Este disse-lhe para ficar descansado, que iria falar com o homem. Assim foi, e quando o abordou perguntou-lhe se não teria encontrado uma armadilha com uma raposa: foi o meu rapaz que a armou. Prontamente lhe respondeu que sim, e disse-lhe: é um bom moço, ele que venha ter comigo, leva a armadilha e a pele já preparada.

Foi a última estória que o meu pai me contou, e posso dizer que é um bom resumo do que ele era: observador, inteligente [a professora pediu a seu pai para que prosseguisse os estudos, concluída a 4.ª classe], não baixava os braços facilmente, e honesto [atente-se na forma como pai e filho abordaram o problema]. Adjectivos facilmente comprováveis por quem com ele conviveu.

Tinha a sua vaidade e ciume, mas com parcimónia, palavra que aprendeu comigo e que passou a usar, mandão [como diz a minha mãe], não gostava de ser contrariado, e na disputa um leão [também era do Sporting], era a sua alcunha na escola primária dos Martinzes, onde andou e tinha família da parte da sua mãe. Não aceitava que lhe pisassem os calos, por vezes dado a extrapolações imaginativas, era a sua sagacidade, mas sempre bem disposto. Homem de dar a quem precisava ou considerava, cioso dos seus juízos, e de palavra. Um prático da vida: com 17 anos vem trabalhar para Lisboa [Rua do Convento da Encarnação], no emprego que ele próprio arranjou [Manuel da Silva Barreiros & Filhos, Lda.]. Passados 8 meses despede-se e começa a trabalhar por conta própria, até ao fim da vida.

Em desassossego, esqueci de mandar colocar as duas datas...


Nasceu no Pé da Serra, a 1 de março de 1938, em casa de seus pais.
Faleceu em Lisboa, a 4 de setembro de 2020, na sua residência.
De uma a outra, sempre pelo seu pé, percorreu 82 anos.

Adeus Pai... deixei de ter a quem perguntar.


P.S. Osvaldo, fico em falta para contigo, tu que és meu amigo de longa data, padrinho do único neto do Elias, e que estás sempre presente por tua iniciativa, esqueci-me de te dar a notícia. Só agora, ao escrever estas linhas, me dei conta. Paula, tu também.

sábado, 20 de junho de 2020

Flor de jacarandá na sobremesa.

Estão no meu caminho diário, agora em floração. Deixei escapar, a meio da semana, o lindo tapete violeta, mas não me canso de os olhar. Em queda, aquela flor atraiu a minha atenção e veio comigo para casa.







Fica bem assim, na sobremesa a decorar, à espera que olhes para a flor de jacarandá...




[Aconteceu há minutos.]


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Post scriptum


Passou e murchou... efémera expectativa.
Comi o pastel de nata... também aqui há surpresa, para vós, a minha foi o passar despercebida, pois que me tenho quedado em Macau.

Perfeito imperfeito.

De frente e aproximando, ou esgrimindo com a luz o ângulo à superfície, encontra-se o momento da criação material: a tinta na superfície do papel e os sulcos de pressão: eis a impressão, é como olhar para a superfície da nossa pele com atenção. Os mais antigos têm esta verdade muito exposta, estão nus: tenta-me um certo prazer voyeur...









No caso presente talvez não haja casamento perfeito entre papel e tinta, o que pode explicar os deslizes: por culpa de quem? falta no prelo?



Como eu gosto destas páginas...



Imperfeitas.



Nos alfarrábios testa-se os sentidos: os óbvios visão, tato e olfato, na ordem arbitrátia da ocasião e de quem o tem na mão:  a audição inventa-se, por exemplo, desfolheando na mão e prestando atenção ao som, que também indica a secura das folhas. Do paladar nada sei, são as inimigas traças.






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Post scriptum


As imagens são do opúsculo A Gruta de Camões, de Wenceslau de Moraes, onde também se descobre a contradição. Escancaro um exemplo da pejada imperfeição. Mas há mais subtilezas pelas páginas fora.


A Chave e o Livro, primeiro episódio de uma série de programas do saudoso António Manuel Baptista.



[Todo o Começo é Involuntário...]

segunda-feira, 15 de junho de 2020

O caminho para o céu pode ser espinhoso.

Há um verde inesperado, porque embutido



E a densidade de espinhos, a subir



E não é só no tronco que se procura a luz



Completa-se assim a sua imponência



Que a base denuncia.



De verde e espinhos se faz vida


Montagem fotográfica.

Mas há que esperar pelo encanto, quando florir.

Uma paineira [
Chorisia / Ceiba speciosa] no Jardim Botânico Tropical.



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Post scriptum

«O tronco está coberto de acúleos, como protecção contra os primatas que trepam pela árvore para obter os frutos. Quando é jovem, o tronco desta espécie, é verde e tem capacidade fotossintética, que permite a realização de fotossíntese quando não tem folhas.»
[AQUI]

«acúleos são semelhantes a espinhos, mas diferem destes por não apresentarem vascularização e, portanto destacam-se das plantas com facilidade sem provocarem maiores danos ao vegetal.»
[AQUI]

quinta-feira, 11 de junho de 2020

Hoje, no jardim da Vila Sassetti, em Sintra.

Nublado chovia, e da tensão superficial criaram-se gotas e brilho...



que puxavam pelo lustre da cor



numa quietude



num desejo



numa ordem



de olhos ofegantes



de lágrimas



de tempo



de chão



de caminho



de coisa nenhuma



de não poder mais


e desejar




todo eu



e o meu brazão.



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Post scriptum

Ordem das fotografias e palavras soltas sem premeditação, num ato espontâneo de contrição, de tanto belo que vi e senti. É o momentum do dia. Trouxe travesseiros e queijadas, da Piriquita, que saboreei em casa, com chá e companhia.



CRAS INGENS ITERABIMUS AEQUOR
Horácio, Ode I, VII, vv. 30-32.

11 de junho de 2020, Corpo de Deus; se me importa, ou se entendo, e sem ofensa.

segunda-feira, 8 de junho de 2020

Formalismos técnicos.

Começo por avisar que o título, como tantos outros, aparece, rumina-se, mais ou menos tempo, e nos repentes fica... desajeitado?

Andar num jardim, nesta estação, não tem nada de pensar, é seguir com os olhos o que está provado resultar: de cor... e odor. Sem o querer acabei por descobrir que existe todo um processo de découplage...



até ao resultado final:



Um espanto... de agapanto [Espécies do Género Agapanthus].

Dispensáveis mais formalismos técnicos.

domingo, 31 de maio de 2020

Lilases.

Andará pelos 400 a 415 nanómetros, mas não é como medir a febre, é sim sinal de primavera, por onde quer que se ande. É cor de cardo no campo...


Ou de cidade, no jacarandá aprofilhado...


Chama pela cor aos nossos olhos, convida...


Não pela sombra, mas pelo sabor do queijo, e a lembrança da Quinta dos Lilases.

Falta o mel de rosmaninho, e poema à nossa natureza.


Recupera rápido, meu caro Samuel.

domingo, 24 de maio de 2020

Alinhavado.

Quando se vai por pouco gastar muito tem de se cobrar um tributo, assim, sem virgulas que permitam ganhar fôlego. Aquela aflição de que a manhã está a passar, e alguém me espera ou me controla... ah! mas tenho o tributo a que tenho direito, e então o tempo pára e esqueço. Estou como quero.

Procurava exemplo para "Beco do Kotter", e por perto havia um, mas também abrir um Cinatti do livro que levei, e encontrar algo sobre os dois. O ponto de partida é recorrente, tenho raízes aqui...




E assim fico a olhar, construindo o meu silêncio alheado, posto nas folhas, a que dou descanso no plano vertical, e desço.


Trinta e sete anos, precisamente.

Há de tudo o que quero, e quando menos espero saiu rima chinfrim, e vou inseguro no tempo que levo. Escadinhas de apertado insalubre, perdoam a sua insignificância no significado que lhe quero encontrar, e assim me justificar.

Caminhando...







Alinhavei pensamentos, encontrei flores, e de regresso, desfasado, voltei à inflorescência de tília, do dia anterior. Outro tempo de tributo, de tão tarde que já não passa.




Tudo tão banal, eu sei, meu caro Ruy Cinatti. Perdoa-me José Cutileiro, esqueci-me de ti.


Não será pedante esta minha falsa familiaridade? Qual a necessidade?








P.S. Era para ter sido NADA[S]_MEU[S]_0019.