domingo, 28 de junho de 2015

Pessoana.


Tão limpo... o alvo base, as letras, o logotipo da editora... folheei... o que o exterior indiciava confirmou o interior... não é mais um livro de citações, as "amputações" são menos do que q.b., dito de outra forma, a prioridade é o "corpo" de onde sai a palavra chave, e fica tão fácil encontrar, de onde veio, só nos "Desassossegos" fico perdido, de como achar. No final encontrei uma pérola (deslumbramento meu, mas é coisa de nada), para mim que tinha ficado intrigado com uma pertença citação de Pessoa, daquelas que circulam por e-mail, que toda a gente reenvia, em mil e um blogues, que toda a gente copia, passa os olhos, e pensa que... ou não pensa nada... sim, eu tinha desconfiado, intrigado pesquisei, e encontrei a verdade, pois bem na página 202 também lá estava o que já sabia: pedras e castelos não "rimam" com Pessoa.

São, ainda tem a cartolina onde se encontrava exposto o falso Pessoa?

O mentor desta Pessoana é o Nuno Hipólito, que já "conhecia" de "As Mensagens da Mensagem", quando esta obra estava apenas disponível em formato digital, e que este disponibilizava gratuitamente a todos que a solicitassem.

Não conheço o Nuno, perdi a oportunidade de estar com ele na Feira do Livro de Lisboa deste ano, mais do que um autógrafo, dar dois dedos de conversa, o estar e acontecer, como pessoas que gostam de Pessoa, descobrir coisas que gravitam à volta de Pessoa e de nós próprios, outras coisas, outros nadas improváveis do acaso, ou ficar só pelo nada do autógrafo. Somos Pessoas :)

O desassombro, o despojamento do Nuno encantam-me, tão limpo ele também. No meu blogue não existe o copiar e colar (só dos links), mas abro uma exceção, eia a apresentação da sua Pessoana... eu sei que não é só tua Nuno, mas é...


«Desde pelo menos os meus 20 anos que leio Fernando Pessoa. Quando digo leio, devia dizer leio obsessivamente, visto que, depois do meu primeiro encontro com ele, nunca deixei de querer ler mais dele e sobre ele. A minha obsessão começou com a colecção de livros de bolso da Europa-América, provavelmente a menos refinada das edições de Pessoa, mas também a mais importante porque dava acesso a todos, pelo simples facto de ser barata. Cada livro custava cerca de 3 euros na altura. Sem esforço, mesmo para alguém sem grandes posses como era o meu caso, podia coleccionar um livro a cada mês; levar cada um deles para casa, anotá-lo nos transportes públicos enquanto ia para a Universidade ou para o trabalho. E foi isso que eu fiz, até ter todos os volumes. Apesar de terem passados tantos anos, os pequenos livros da Europa-América continuam a constituir a base indispensável da "minha Pessoana".
Se pudesse dizer a mim mesmo, há tantos anos, que um dia teria a oportunidade de lançar uma colecção parecida, isso iria parecer descabido e até um pouco ridículo. Este foi um sonho que nunca tive grande coragem de perseguir pela impossibilidade e que concretizou, como todos os grandes sonhos, pelo acaso. O acaso foi ter a oportunidade de publicar um livro sobre a Mensagem na mesma editora que publicou a Mensagem em 1934. Também isso me pareceu, e ainda me parece hoje em dia, como algo difícil de ter acontecido enquanto coincidência. A Parceria A. M. Pereira, apesar de antiga, a mais antiga editora em Portugal, era e é frágil, de pequena dimensão; um sonho em si mesmo que persistiu nem se sabe muito bem como através de mais de 160 anos de revoluções, crises e guerras. Há algo de belo na persistência dos sonhos, sobretudo quando não os perseguimos e somos mesmo assim alcançados por eles. Tanto no caso da Parceria como no dos meus livros, o sonho era e sempre foi, apenas existirmos. 
Desde que conheci de dentro a editora, em 2007, não me fazia sentido que eles não tivessem o Pessoa deles, que Pessoa não permeasse o catálogo e os infectasse como me infectou a mim na mesma obsessão incrível e iluminadora. Quando apresentei, em linhas vagas e quase  fora do meu próprio corpo, o projecto de uma "Colecção Pessoa" ao responsável editorial da Parceria, Carlos Cabral, num café estranho no meio de um parque estranho, perto do Estoril onde o próprio Pessoa habitava estranhamente por vezes a casa da irmã, não acreditei que fosse algo que se realizasse. Foi como contar um sonho que temos a um amigo - e o Carlos tornou-se amigo pela cumplicidade de o ouvir - mas sempre na estranheza de ser um sonho que só eu compreendia. Mais tarde o Jorge, director da Parceria juntou-se a esta trindade imaginada e tornou-se também familiar ao discurso vago do projecto, com um entusiasmo que merece reconhecimento adicional e grato. O último elemento entre nós, o Zé, responsável pelo design, fez-se quarta presença alta, como espírito que salvaguarda e conhece apenas à distância mas em mistério. 
A colecção será, como o Carlos, o Jorge, a Parceria e eu, frágil e simples, despretenciosa. Sinto que agimos todos em sonho e é a melhor forma de o fazermos, porque assim ficamos aquém dos horrores da realidade. Era o que Pessoa iria querer. Temos planeados já vários volumes, mas logo se vê se acontecem ou não, depende claro da realidade horrorosa os aceitar. Mas, mesmo que não os aceite, este sonho, ao se concretizar tornou-se, estranhamente, maior do que ele mesmo. Pessoa sempre disse que a realidade mata o sonho, mas é caso para dizer que agora é ela que o pode alimentar. 
Começamos com um volume de citações. Ideia do Jorge, claro, porque o Jorge é a realidade. Mas o sonho entrou pelo Jorge adentro e o conteúdo do livro não é nada parecido com outros livros de citações de Pessoa. Porquê? Não vale a pena explicar, mas quem conhece Pessoa vai perceber certamente e quem não o conhece vai ficar intrigado para que o tenha de conhecer, sem fuga possível. A única forma de ignorar Pessoa é não olhar para ele. Tenho a certeza disto. A seguir a este volume, vamos lançar um dedicado à diarística e escritos mais íntimos. O objectivo é revelar aos poucos os níveis paralelos desta grande alma sofredora que tantos desconhecem ainda em profundidade. E é pena. Muita pena. Pessoa é tanto e pode ser tanto mais, não só porque é Pessoa, mas porque é um de nós, o melhor e o pior de nós - o sonhador que nunca desistiu, como o Carlos, o Jorge e eu, dos sonhos que não se perseguem mas que sempre nos alcançam se forem sinceros.»



Vai no segundo volume, e vou ficar à espera do seguinte, e vou oferecer quando for de oferecer, dos familiares aos amigos e de quem se gosta, não importa há quanto tempo, muito.

Quem é Pessoa para os portugueses, o que pensam dele, qual a sua importância para o país e para cada um de nós... lê Pessoa? Isso torna-o mais feliz?... Isto tudo importa para alguma coisa?... A moda das sondagens, o quantificar... e O binómio de Newton é tão belo como a Vénus de Milo?... e o vosso desassossego?... está na hora de partir, é fácil com o Nuno como nosso mentor :)

Pessoa não foi feliz, teria sido preferivel que tivesse casado com a Ofélia, que a obra fosse às ortigas, e que tivesse feito pela felicidade. Ninguém saberia que teria existido, eu não estaria aqui com estas banalidades, e teria outros poetas para me contentar/deslumbrar/descobrir, mas a estória dos "ses" não existe, e é assim e está bem, e isto tudo é nada... e eu gosto de ti meu caro Pessoa... e para que é que isto me serve, isso interessa?... cala-te!... straight...

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P.S.

Fiz alterações no texto e acrescentei uns Bonecos do Stuart na minha mensagem anterior, confirmem AQUI :)

Não tem nada a ver, mas a semana passada também tive o meu torna-viagem, fica para uma próxima mensagem, este torna-viagem é da Parceria.

sábado, 20 de junho de 2015

António e Francisco.



Segura delicadamente o Menino nos braços, do lado esquerdo (como na maioria das representações), atente-se no pormenor do mindinho da mão esquerda de António. Entreolham-se com familiaridade (imagino ternura), e o menino traquina, que mais parece uma personagem de Quim e Manecas com o seu narizinho arrebitado e cabeçinha redondinha, segura-se ao hábito de António com a sua mãozita, perto do pescoço. O rosto barbado... lembra Francisco e não António... o negativo revela o velho Francisco, o original o novo António, são as imagens que tenho encucadas.

Na vida real foram amigos, António mais novo cerca de 10 anos. Partiram para "a vida", Francisco em Assis e António em Pádua, e por esta razão estão associados, oficialmente, a estas duas cidades, como manda a regra. António também é de Lisboa, do Brasil, do mundo, teve até posto de capitão.

António e Francisco são de todos nós, mas isso de posse de pouco vale, há que seguir e praticar o exemplo. Por minha parte vou-me esforçando, na simplicidade e frugalidade das decisões diárias da vida, orientadas pelo bem, a Terra nossa casa comum, que partilhamos com outras formas de vida no presente, e em que estado a deixaremos para a vida que virá depois de nós (medida do nosso grau de egoismo e inconsciência)e finalmente na pedagogia do olha para o que eu faço e não para o que eu digo.

O desenho é de Stuart Carvalhais, as divagações minhas.

Podem usar as imagens como papel de parede no vosso computador, foi assim que surgiu o negativo do António, que logo me pareceu velho, o menino fica lourinho... o que a minha imaginação tece! Por uma questão de economia de recursos e simplicidade, a cor base da minha área de trabalho é o preto.

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P.S. Iconografia antoniana;
     Variantes iconográficas nas representações antonianas;
     Restos de Santo Antônio expostos em Pádua;
     Iconografia Franciscana.

Hoje é Dia do Relógio de Sol (irmão Sol, irmã Lua).

Um poema que, comigo, liga bem com a imagem do início:

EM QUE SE FALA DO MENINO JESUS

Fiz a maldade e olhei Jesus.
Ele baixou os olhos e corou,
e toda a gente julgou
que quem fez a maldade foi Jesus.


E todos Lhe perdoaram...


- Obrigado, Menino! Mas agora
tira os olhos do bibe e vem brincar,
que eu prometo, pra não Te ver corar,
já não fazer das minhas.
Anda jogar ao pé das flores, no chão,
comigo, às cinco pedrinhas...;
anda jogar, pra esqueceres
o preço do meu perdão...

Sebastião da Gama, in Serra-Mãe (página 69, 6.ª edição, Edições Ática)


O meu problema é que sou "esquecido" (acontece o mesmo convosco?), por isso nada melhor do que colocar um "lembrete" num local de passagem diária, com parede de azulejo onde posso fixar com fita cola sem danos de maior, a cozinha. Também tem a vantagem de outros puderem ver e ler, é a pedagogia :)



Sugestão de apresentação, outras cores disponíveis.

domingo, 14 de junho de 2015

Um homem claro.

António Manuel Baptista.

Recordo de o ver na televisão nos anos 70, ainda hoje tenho na memória uma experiência por ele efetuada, e o gosto pela ciência que ele plantou em mim. Quando era menino queria ser cientista, dizia desassombradamente e com um certo orgulho, mas acabei por não o ser.

Continuo sem saber qual o nome do seu programa, já tentei e pesquisei no site da RTP, na web, mas nada, o melhor que consegui foi este programa que podem visualizar AQUI. Alguém se recorda do nome do programa?

Só mais tarde aparceria o Carl Sagan e a série Cosmos, mas António Manuel Baptista é primordial na minha existência, em cima da Terra e debaixo do Céu, e só os gatos andam no telhado. A entrevista que se segue foi publicada no N.º 88 da revista Ler (fevereiro 2010), é uma forma de estar um pouco com o António Manuel Baptista, de o dar a conhecer. Se for mais cómodo para vós podem transferir e imprimir as imagem, pois as digitalizações foram feitas no tamanho original.







Soube da sua morte pelo Francisco José Viegas, no seu Blog no Correio da Manhã.



Comprei, li e releio os seu livros, sempre deleitosos e oportunos, encontram-se disponíveis para venda AQUI.

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P.S.