domingo, 29 de março de 2020

Ensaio de uma tradução.

Robert Southey e Sintra, assim o descobri no blogue do Pedro Macieira, que conheço pessoalmente de nos cruzarmos no Mucifal e no Bananeiro [o Sr. Fernando, fundador da loja, já falecido, era madeirense] em Colares, meu cliente de longa data.

O Pomarinho / Bananeiro fica em frente [01/10/2019]

De quando em vez espreito o Rio das Maçãs, que "invejo" pelo cuidado, curiosidade e persistência do Pedro, que nos dá a conhecer a nossa região de Sintra. A semana passada trocamos cumprimentos breves no talho do Mucifal, mas não deu tempo, nem era oportuno por causa da situação de pandemia que estamos a viver, alongar-me na conversa. É que andei todos estes anos sem dar pelo Robert Southey. Fantástico Pedro!

Imagem: https://restosdecoleccao.blogspot.com/2012/07/etp-estudio-tecnico-de-publicidade.html

Não se fica indiferente a Sintra, pelo óbvio, pelas razões de cada um, como espelha o cartaz acima de 1920, mas também quando se critica. Por exemplo, o Palácio da Pena, bem vistas as coisas também tem um certo lado kitsch, amálgama de bric-à-brac. A primeira vez que fui confrontado com tal apreciação achei injusta, mas estava ofuscado. É tão bom contemplar-te do "Trono da Rainha" [sem contradição].

Quando descubro o artigo da Professora Maria Zulmira CastanheiraRobert Southey, o primeiro lusófilo inglês, publicado na Revista de Estudos Anglo-Portugueses, número 5 de 1996, páginas 59 a 120, o "fantástico Pedro" sobe de tom. E da sua leitura chego ao ponto onde me encontro: o citado poema "Musings after visiting the Convent of Arrabida" [página 95], que procurei, com a titular palavra Musings que desconhecia.

De Sintra derivei para a Serra da Arrábida, as duas generosas companheiras de Lisboa, e partindo da bruta tradução do Google irei cinzelar a minha, na medida dos meus parcos conhecimentos de inglês. Exercício prazeroso que me pode levar a misturar vivências e leituras da Arrábida [Sebastião claro está].

O PONTO DE PARTIDA: a portabilidade de uma folha, e o efeito multiplicador [uma constante da vida, tão concreta e definida, como outra coisa qualquer] de um poema na cabeça. Fica prometido o resultado, aqui, para depois.


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Post scriptum


De certa forma enraizei-me em Sintra, alienei-me nela, e na minha inépcia subi ao meu gólgota. E castigo supremo: só passo, não permaneço. Fica registado. 

domingo, 22 de março de 2020

O meu Freixo.

Folhas mimosas de verde tenrinho, das primeiras a despontar, é por isso muito fácil dar por eles no final do inverno. Nos arredores de Lisboa são fáceis de encontrar, na cidade nem tanto, e os que tenho encontrado parecem ser obra do acaso [não plantados].

Estou a falar do freixo, também presente na toponímia do nosso país. Freixo de Espada à Cinta será, provavelmente, o topónimo mais conhecido dos portugueses, pelo surreal: uma árvore guerreiro; classificada de interesse público.


Livro das Fortalezas de Duarte de Armas, 1510, folha 77 - recorte, Freixo de Espada à Cinta, vista Sul. Copa do freixo pintada de verde por mim. É a primeira imagem do freixo recuperado que chegou aos nossos dias. Passaram 510 anos.

Mas existem outras localidades, como o nosso Freixoeiro [na freguesia de Cardigos], ou a Freixianda do meu amigo Jorge.

Fraxinus angustifolia Vahl, vulgo freixo-das-folhas-estreitas, está praticamente disperso por todo o Portugal. Da família da oliveira, «o freixo é, ao contrário do que anuncia o provérbio berbere “Se não existisse a oliveira, eu seria a primeira das árvores”, na perspectiva europeia, a árvore primordial, da qual até a Humanidade provém.» [AQUI].

Freixo vem do latim fraxĭnu, que na tradução que consegui encontrar dá pálido, a ash tree dos ingleses, ambas as designações misteriosas, embora próximas, pois as cinzas [ashes] na lareira são de cor cinzenta clara, só que não encontro o cinzento no meu freixo.

A primeira das árvores a ter folhas, antecipando a primavera, e coincidentemente a preparação para a Páscoa, que começa com a Quarta-feira de Cinzas [Somos feitos para o fogo que arde sempre, não para a cinza que desaparece]. A pagã preparação que o meu freixo anuncia: o retorno à fertilidade das terras, à luz, à vida.

Mas o ash é também um carácter rúnico ["an Old English runic letter (so named from the word of which it was the first letter)"; AQUI]:



æsce do inglês antigo, que por sua vez vem do germânico, de onde provem a palavra portuguesa áscua ["Spanish and Portuguese ascua "red-hot coal" are Germanic loan-words"; AQUI].

A árvore das primeiras folhas, a runa da primeira letra/palavra, do renascer; e estamos nós em quarentena, no tempo da Quaresma. Tanto simbolismo junto.




Continuo à procura de... "biografias de palavras".


Poente, nascente, abaixo, acima, panorâmica, companheiro.