terça-feira, 21 de abril de 2020

NADA[S]_MEU[S]_0016_PRECISO.


As pequenas coisas que tenho por perto...



Abstrações a que me agarro...



Para ser capaz... chego ? [sexto]



domingo, 19 de abril de 2020

Sarapatel de Caminha, Pêro Vaz.

Assim o encontrei, numa enjorcada, concluo agora, estória de 10 de junho de 2010 [AQUI].

Aflorou esta semana porque ficou no meu subconsciente a ideia de mais um nosso andarilho de quinhent
os, que neste caso se perdeu na Índia em prazeres lascivos: Khajuraho, na capa de um livro.




O seu espanto tinha começado antes, na viagem que o conduziria à danação. Das outras índias escreveria [AQUI]:
Ali andavam entre eles três ou quatro moças, bem moças e bem gentis, com cabelos muito pretos, compridos, pelas espáduas; e suas vergonhas tão altas e tão çarradinhas e tão limpas das cabeleiras que de as nós muito bem olharmos não tínhamos nenhuma vergonha. 
O Prof. Luís Adão da Fonseca refere que «quando, na carta de achamento, se sublinha a inocência, ou seja a não consciência da nudez por parte dos indígenas, está-se provavelmente a pensar – e todos quanto em Lisboa a vão ler provavelmente também o pensam – no versículo do Génesis (3.7.), onde se conta que a Adão e Eva, depois do Pecado, abriram-se-lhes os olhos a ambos e perceberam que estavam nus ... Isto é, no discurso da Carta, a inocência é prova de que não houve pecado, ou seja, é ela que redime a bestialidade dos índios brasileiros.» [AQUI, página 43, ou 6 do PDF]

O que se sabe é que, chegados a «Calecute surgiram desentendimentos e o porto foi bombardeado, tendo morrido vários elementos da armada cabralina, entre os quais Pero Vaz de Caminha.» [AQUI] Era dezembro de 1500.

A partir deste ponto o suposto historiador goês Rabindranath Fernandes, que não consegui encontrar, e cujo antropónimo remete para Tagore, e o apelido para a família paterna de Pêro Vaz [e outros goeses], inventa/cozinha a sua ressurreição às mãos de um velho brâmane, e uma confissão do atormentado Pêro Vaz a Frei Estêvão da Santa Cruz [também desconhecido], após pesquisa nos arquivos do Convento de São Francisco Xavier, que também não encontro [será que existe ou existiu este convento? Peço a tua ajuda Osvaldo.]

Na busca do paraíso na terra, Pêro Vaz, entretanto convertido ao hinduísmo, terá demandado o vale de Khajuraho, onde terá terminado os seus dias como prostituto [confusão com as bailadeiras / devadasi?] no templo de Kandaya Mahadeo, como atestaria escultura de homem barbado, de vestes e fisionomia diferente, em prática libidinosa.

O problema é que em Khajuraho não existe nenhum templo Kandaya Mahadeo, o mais parecido em termos de grafia é Kandariya Mahadeva/Kandariya Mahadeo , o maior de todo o conjunto classificado como Património Mundial. Este templo do deus Shiva, também conhecido como Maadeva / Mahadeva, terá sido concluído cerca de 1030, e alvo de destruição [vandalização] por parte dos muçulmanos em 1495 [AQUI], ou seja, pouco provável que Pêro Vaz por lá se encontrasse [relembro que os dados históricos apontam para a sua morte em 1500], e ainda fosse posteriormente imortalizado, anonimamente, na pedra. Entretanto Khajuraho fora abandonada, e os templos ao redor tomados pela floresta nos séculos que se seguiram.

Eis-me aqui a dar conta do sucedido, porque encontrei no meu amigo Jorge, da Livraria Nunes, o livro da capa que me fez recuperar, e tirar a limpo, o que tinha ficado de um relance passado na web.

Mais do que deslumbre crédulo, ou cretino reenviar, quiçá convencido de que comprou ouro por latão sem o saber, e o prazer do esforço que desconhece, a satisfação maior está na procura, e na descoberta do que mais se aproxima da verdade.

Certo é que Pêro Vaz escreveu a Carta, e o pintor paraíbano Aurélio de Figueiredo, meu conterrâneo por afinidade, o imaginou assim:


Imagem de domínio público.

a ler para Pedro Álvares Cabral, Frei Henrique de Coimbra e Mestre João.

Colateralmente encontrei o romance de Mircea Eliade, Uma Segunda Juventude, [seria mais feliz o literal Juventude sem Juventude, do título em inglês, também diferente do original em francês: Le Temps d'un centenaire], que deu origem a um filme de Coppola, Francis Ford. Mas está aqui este apontamento porque, e foi apenas uma coincidência do dia, Mircea Eliade contagiou-se com o português em Calecute, e Camões ficou-lhe para sempre.

Quem começou o sarapatel, mal cozinhado, arrisco eu, foi Rabindranath Fernandes [existes?], espero que o meu fique melhor.
És a mulher que passa
como uma folha
e deixas nas árvores um fogo de outono...
Na página 21, e estou quase a lá chegar, à outra página, está este excerto de poema de Ungaretti, que merece isto:



Pena que não estamos no outono, para conspirar mais uma coincidência... jardim misterioso.

domingo, 12 de abril de 2020

NADA[S]_MEU[S]_0015_A FOCAGEM ESTÁ NO CHÃO.


Assim... Ambiguidade explícita! Confusão de planos, que o rasgo oblíquo procura... O funil, forma perfurada de folhas... Cravo em lintel, em dia de Páscoa.

Quase no final da escada que desço, para voltar a subir... carregado?

Prumo vivo / de vida.


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Cortaram-me... a 23 de junho, pela manhã, ainda lá estava, no final da escadaria. Contemplava-te no desce e sobe diário, e aferia o teu estado pela retidão do verde, pensava até regar-te, se te visse em aflição.


Limparam-te, provavelmente sem dar por isso, com sanha, mas senti logo a tua falta. Cada dia era uma vitória, e até onde chegaríamos? Conseguirás renascer?

O Dr. Ricardo Jorge e o "vírus".

«Tal o organismo que inoculado pelo virus luta contra a infecção, assim o cérebro penetrado da alienação luta no domínio artístico contra a influência da psicopatia; sentem-se na obras as vicissitudes do combate, ora a resistência prodigiosa contra a afecção, ora o seu efeito depressivo e aniquilador.» [página 692]

O médico, deleitante das artes, olhava para a estética grequiana como arte de evolução patológica, a compasso de uma vida possível de misérias, que «se quedaria a vegetar em Toledo, a viver, sabe Deus como, de igrejas de pouca renda e de fidalgos de meia tigela.» [página 669]


Vista de Toledo, c. 1599–1600, AQUI. [Imagem do domínio público, manipulada por mim.]

Aquele que «levava até à megalomania o conceito das suas faculdades artísticas; a sua craveira excedia a dos mais grados, o seu pincel não tinha preço. Um génio deveras complexivo e rico de dotes, afectado de uma hiperestenia de personalidade, levada até ao delírio.» [página 669]

A placagem que se resolve no plano estético em força centrifuga, de espiral crescente de repetições e deformações, até ao fim. Mais tarde, outros o redescobririam , na senda do percursor incompreendido, no limite da consciência da ténue loucura que a todos nos perpassa. Só que na análise do médico Ricardo Jorge, Domênico Theotocópuli, El Greco, estava além desse limite.

«A composição do mestre de Toledo não tem em si que de maior se lhe diga. Sóbrio e concentrado, foge em regra ao efeito fácil do acessório e da decoração; [...]
[...] Moe e remoe os mesmos assuntos sem a minima novidade ou melhoria, [...]
O timbre mais aparente do nosso artista é o colorido; [...] Uma paleta em regra de poucas tintas, num tom dominante de gris argênteo.» [página 678]


IMAGEM: Um El Greco ainda sem fantasmas, mas já com “aquela luz”.

«Amachuca os panejamentos num pregueado de rede; afila e requebra as saliências musculares em ondulações de cobra;» [página 679]


IMAGEM: Batismo de Cristo, c. 1597 - 1600. Corte feito por mim. ©Museo Nacional del Prado

«[...] a Madalena contorce-se como uma histérica.» [página 684]

As mãos de Madalena na cruz... envolvem?


IMAGEM: A Crucificação, c. 1597 - 1600. Corte feito por mim. ©Museo Nacional del Prado


«[...] o homem de pernas para o ar lembra um epiléptico,» [página 684]


IMAGEM: A Ressurreição de Cristo, c. 1597 - 1600. Corte feito por mim. ©Museo Nacional del Prado

«Ora o GRECO vai-se à cabeça humana, e , deformando-a com a violência dum Inca, aperta-a, comprime-a, redu-la a apêndice insignificante do corpanzil, [...]
Este toutiço minúsculo tem de ser pobre em miolo, e é sob o aspecto dum descerebrado que o artista talha a figura dos seres espirituais e divinos. A aparência chega a ser a do imbecil de marca. Que contrasenso êste tão flagrante, que faz mais pensar em alucinação que em reflexão!» [páginas 680 e 681]


IMAGEM: São Sebastião, c. 1610 - 1614. Corte feito por mim. ©Museo Nacional del Prado

«Se depois destas insuspeitas apreciações, a alguêm sobejarem escrúpulos, recomendo que se poste perante a fotografia de dois quadros macabros. Um, aquela peça misteriosa (Zuloaga), que passa hoje pela representação da scena apocalíptica do rompimento do 5.º sêlo (ap. MAYER); atente-se naquelas almas nuas que parecem fogos fátuos, e no anjão, um giganton de festa, espécie de espantalho de corpo em X, metido numa camisa de onze varas.» [páginas 687 e 688]


O Quinto Selo do Apocalipse (Visão de São João), c. 1608 - 1614, AQUI. [Imagem do domínio públicomanipulada por mim.]

«Outro, A ceia em casa de Semeão [...] Um mostruário de horrores e de grotescos; não são almas repassadas da celestial beatitude, são almas penadas, rebutalhos de gente desfeita por todas as misérias físicas e morais, a doença e o vício, a loucura e o crime; há de tudo, caras patibulares, figuras imbecis, acéfalos e hidrocéfalos,» [página 688]


A ceia em casa de Semeão, c. 1608 - 1614, AQUI. [Imagem do domínio públicomanipulada por mim em três cortes, e nas cores.]

«Tenho o GRECO por um paranoico escrito e escarrado. Êste diagnóstico retrospectivo está impresso no seu inventário artístico, e confirma-se pelos indícios colhidos dos testimunhos e documentos que dão o homem como um inadaptado, extravagante, excêntrico, egocêntrico, megalómano e demandista [página 692]

Perante as asserções proferidas, que também não deixam de ter o seu toque moralizante, relembro a observação do Prof. Fernando Rosas sobre as mediadas "profilático moralizantes" recomendadas pelo Dr. Ricardo Jorge aquando da pneumónica [AQUI, episódio 13: A Gripe Pneumónica, a Pandemia de 1918-1919]:

«Acabar com os cumprimentos de uso, apertos de mãos e ósculos de cerimónia, gestos que repugnam à higiene e até à cultura, restos como são de passado selvagem.
As reverências chegam, bem mais inocentes do que os toques suspeitos do próximo, e logo coisas tão polutas como beiços e dedos.» [AQUI, página 13; para os mais curiosos consultar a Biblioteca Digital do Instituto Ricardo Jorge]

Remate final, o antigo logótipo do Ministério da Saúde, com o seu quê de "aparelho circulatório", apresenta figuras, aos meus olhos, de rasgo grequiano [um desculpável castelhanismo].


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