domingo, 15 de janeiro de 2023

Vida contemplativa...



















 “Ao ir-me afundando no cepticismo racional, por um lado, e, por outro, no desespero sentimental, incendiou-se-me a fome de Deus, e o sufoco do espírito fez-me sentir, com a sua falta, a sua realidade. E quis que haja Deus, que exista Deus. E Deus não existe mas antes sobreexiste e está sustentando a nossa existência existindo-nos.”

Miguel de Unamuno, citado por Guilherme d’Oliveira Martins, nesta iluminada invocação do escritor, mestre e amigo António Alçada Baptista. Mas onde a encontrou?

E foi ao procurar esclarecer uma dúvida, sobre livros do António Alçada Baptista, que revejo o meu desespero nas palavras de Unamuno, na condição da minha existência atual, e numa possível caminhada a Santiago de Compostela: será que o herege Prisciliano usurpou o lugar de São Tiago?

Dilecto [Prisciliano] sobretudo porque, nada ou quase nada se conhecendo a seu respeito, posso imaginar para ele e lho atribuir tudo quanto a mim me apeteceria ser e proclamar.

Afirmaria Agostinho da Silva, mas também, passo a citarQuando interrogado sobre a temática dos seus graus académicos, Agostinho da Silva respondia invariavelmente ser licenciado em liberdade e doutorado em raiva. Estes são precisamente dois dos termos fundamentais da sua antropologia, que estão na base da sua visão do homem e do mundo: a liberdade, «a liberdade de se ser, plenamente, aquilo que se é» e a raiva, ou seja, a indignação, a bravura, a fúria, o assanho de construir um mundo melhor, pois para ele a sua noção de cultura era tão somente a de «tornar melhor a vida das pessoas.»


Liberdade e raiva, junto mais estas duas palavras ao meu alforge. Começo os dias a pedir, "também tens que querer crer", relembram-me... acompanha-me a pequenina luz bruxuleante, a esperança do fôlego diário, e como faz a diferença, quando se está no fio, confia!

domingo, 1 de janeiro de 2023

A espuma...

Praia de São Julião, 23 de dezembro de 2022, 17h42.

Mudei-me para o instante quotidiano, agarro as imagens da minha atenção, na estética de enlevo melancólico, um chá de palavras em pensamento. Tudo muito disperso e de fraco improviso: remendo, corro, perde-se!

Deixou de haver tempo para remoer e cinzelar, não rabisco no papel, é o tempo da háptica, que puxou logo pela palavra apática. Confirmo, confio no tato e no som, a partilha narcísica da circunstância: fotografias, músicas, frases estafadas, gostos!... serei chato?

Dos dias ou do tempo, a espuma...




P.S. Pela fácil disponibilidade o WhatsApp tem assegurado o [meu] propósito mínimo, em detrimento do Melancolia comum. Dá pena esta minha apatia...