domingo, 15 de julho de 2018

Conexões.

A conferência anual da CEI [Caretakers of the Environment International], subordinada ao tema "Let's Experience Nature", terminou ontem na Áustria. AQUI podemos ver o Gustavo a praticar tirolesa [zip-line].

O regresso é assegurado pelo João XXI [CS-TON], do mesmo ano e modelo do Fernão de Magalhães [CS-TOO].




Fotografia tirada por Max Hrusa a 22 de agosto de 2016, no Aeroporto Internacional de Viena [Vienna Schwechat - VIE]. Mais fotografias AQUI.

«Mas é precisamente devido à sua produção científica e, especialmente, a estas duas obras em particular – o Thesaurum pauperum e as Summulae logicales – que Pedro Hispano, o Papa João XXI, deve muito da sua celebridade posterior, sem o que não passaria de uma pequena nota de rodapé na História, não obstante o seu notável percurso eclesiástico, que lhe valeu a chegada ao lugar mais importante da Igreja Católica Romana. Em especial, foram as Summulae Logicales, que cercaram de larga fama o seu nome. A esse livro, aludiu Dante na Divina Comédia. E foi por causa desse livro, que o autor florentino reservou a João XXI um lugar no Paraíso.» AQUI

Não existe termo de comparação entre o viajar hoje, mesmo em termos marítimos, e as condições em que o fez Fernão de Magalhães. Incerteza máxima versus a nossa incerteza mínima, a omnipotência presumida e regateada com Deus. Parece que temos o mundo nas mãos, mas é o planeta Terra que nos tem em mãos. Por enquanto não temos alternativas, nem meios tecnológicos que nos permitam sobreviver fora dela. Metaforicamente a Gaia existe.

Stefan Zweig socorreu-se das informações e dos materiais históricos fornecidos pelo Visconde de Lagoa [João António Mascarenhas Júdice]. Ainda hoje a sua biografia "Fernão de Magalhãis – A sua vida e a sua obra, vol. I e II", editada no mesmo ano da biografia romanceada de Stefan Zweig [1938], continua a ser uma obra incontornável sobre o feito.

domingo, 8 de julho de 2018

Verbindungen.

Chama-se Fernão de Magalhães, é um A330-202, com o número de registo CS-TOO [CS é o prefixo aeronáutico para Portugal, o outro é CR, e as restantes letras a matrícula do avião].

Este domingo viajou para Viena, voltou a Lisboa, e foi para Nova Iorque. Vai cirandando pela Europa e pelas Américas.




 A fotografia foi tirada por Kiskockas a 28 de julho de 2017, no Aeroporto Internacional de Viena [Vienna Schwechat - VIE]. Mais fotografias AQUI.

"A biografia mais conhecida e, provavelmente a mais vendida", de Fernão de Magalhães, foi escrita pelo vienense Stefan Zweig. "Um caso único de tradução (directa) no mesmo ano da sua publicação original (1938) na editora vienense Reichner, e no mesmo ano da passagem de Zweig por Lisboa." AQUI 


8.ª edição de 1956. Aparada, provavelmente para obviar o trabalho de abrir uma a uma as muitas páginas fechadas [casadas] do livro, decorrentes do seu processo de fabrico [redução de custos?].
O livro tem uma nova tradução, e novo título, que respeita o original.

"A subtil influência que deu origem a este livro" [palavras suas na Introdução à obra] ocorreu a bordo do navio que o levava à América do Sul.


Stefan Zweig cruzando o Atlântico na sua primeira viagem ao Brasil, em 1936. AQUI

"Lembra-te tu, ó impaciente, lembra-te tu, ó insaciável, como tudo se passava antigamente! Compara por momentos esta viagem com as de outrora, sobretudo pensa naqueles aventureiros que descobriram estes mares portentosos, que descobriram o mundo para nós – e envergonha-te." [página 15, na Introdução]


Da direita para a esquerda: Stefan Zweig, João António Mascarenhas Júdice [4.º visconde de Lagoa e historiador, que o ajudou na preparação do livro] e Américo Fraga Lamares [editor da Livraria Civilização], na sua passagem por Lisboa em 1938. AQUI

Em 1938 Stefan Zweig esteve hospedado durante três semanas no Hotel Atlântico, no Monte Estoril. "Aproveitou a estadia para tentar convencer os governantes portugueses a usarem parte de Angola para a criação de um Estado judaico." AQUI

O meu pai tinha-me falado vagamente sobre o assunto, e fiquei surpreso ao encontrar esta informação, mais ainda por envolver Stefan Zweig. Averiguei e encontrei a resposta [AQUI, página 10]:

O seu biógrafo brasileiro Alberto Dines, que o conheceu e conviveu com ele, defende na biografia Morte no Paraíso (Dines 2005 na 1ª edição portuguesa, o original brasileiro é de 1981, 3ª ed. brasileira 2002) que Zweig tinha querido sondar junto de Salazar as possibilidades de Angola vir a acolher os judeus fugidos a Hitler, mas o ditador não o recebeu, apesar da mediação da comunidade judaica. Acrescente-se, porém, que Zweig tinha outros contactos com figuras do regime que o ajudaram na passagem da sua primeira mulher Friderike von Winternitz por Portugal a caminho do exílio americano.

"Da estância estância balnear do Estoril, Zweig escreveu duas cartas aos seus amigos Joseph Roth e a Siegmund Freud, convidando-os para passarem um «intermezzo meridional» nesse «local tranquilo da Riviera» portuguesa." AQUI

Stefan Zweig cresceu na "cultura de café vienense", que vem desde o final do século XIX, e chega até aos nossos dias com a sua inclusão, em 2011 [no mesmo ano do Fado], na Lista do Património Imate
rial da Humanidade [UNESCO]. Neles se aprende o "Vive e deixa viver".

"Para compreender isto é preciso saber que o café vienense era uma instituição de características únicas, não havendo no mundo nada que se lhe possa comparar. Trata-se, na realidade, de uma espécie de clube democrático, acessível a qualquer um pelo módico preço de uma chávena de café, e onde o cliente, em troca deste pequeno óbolo, pode ficar sentado horas seguidas, discutindo, escrevendo, jogando às cartas, recebendo a sua correspondência e, sobretudo, consumindo um número incontável de jornais e revistas. Em qualquer bom café vienense estavam disponíveis todos os jornais da cidade, mas não só, também os de todo o Império alemão, juntamente com os franceses, os ingleses, os italianos e os americanos, além de um conjunto de importantes revistas literárias e artísticas de todo o mundo"

in "O Mundo de Ontem", Stefan Zweig, Assírio & Alvim, 2.ª edição, reimpressa em agosto de 2015, página 61.

No final da II Guerra Mundial, Stefan Zweig foi um dos que sucumbiu, quando parecia que o nazismo estava para ficar, vieram para Portugal, entre 1947 e 1958, mais de 5500 crianças austríacasA região do Médio Tejo acolheu 100 crianças, assim distribuídas: 26 em Abrantes, 21 em Ourém, 15 em Torres Novas, 11 em Tomar, 9 em Mação, 9 na Sertã, 4 em Vila de Rei e 1 em Ferreira do Zêzere. O meu pai ainda se recorda de as ver em Cardigos, eram crianças como eleNo recente Nº 31 da revista Zahara encontra-se um artigo sobre as crianças que vieram para Mação [ainda não consegui a revista]. Entretanto a doutoranda Ana Regina Pinho prossegue o seu trabalho sobre estas crianças [AQUI]. Em 2005 foi publicado um livro com testemunhos destas crianças [vem a caminho].


Imagem retirada daqui.

Conexões!... Verbindungen!...

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Post scriptum

domingo, 1 de julho de 2018

À pala [de]...

Foi este domingo, a entrada não é paga, e porque Palla [Victor] é um dos arquitetos do livro [o outro é o Costa Martins]. E aqui arquitetos é em sentido literal e figurado, tal como a exposição e o seu título: «Lisboa 'Cidade Triste e Alegre': Arquitetura de um Livro». Está no Museu de Lisboa [Palácio Pimenta] até 16 de setembro de 2018.

Arquitetado e concretizado, coube ao tempo dar-lhe o estatuto de livro de culto sobre Lisboa: o "poema gráfico".




«É o que costuma acontecer com os livros de culto – que não são bem o mesmo que livros raros. O livro raro é quase impossível de encontrar, está a um passo de estar perdido, mas pode não valer nada. O livro de culto, pelo contrário, está em todo o lado mas não se lhe pode tocar. Tantaliza. Não pela escassez mas, porque, apesar de estar em todo o lado, insiste em escapar-se.
[...] limitamonos a participar de um processo coletivo e constante de recuperação, um formigar de interesses, de instituições, de eventos, de palestras, de exposições, que alimentam o livro e o mantêm vivo, atualizando o seu significado para novos contextos.
[...] é um livro moderno porque acumula esses sentidos: é um passeio disperso por um espaço urbano pobre, provinciano, rural, que se torna moderno porque dois arquitetos fotógrafos o olharam e registaram esse olhar de maneira moderna, sob a forma de um livro que acarinha o próprio ato de ser folheado.
[...] o índice é a parte mais linear, onde os autores constroem uma narrativa documental quase literária a pretexto de fornecer os dados técnicos e o contexto por trás de cada uma das imagens. É um índice que se lê para um livro que se vê.
[...] Cada fascículo era precedido e acompanhado de notas explicando o processo, o livro, seduzindo os leitores para o processo. Até o material incluído em cada fascículo era selecionado de maneira a que o leitor pudesse ir lendo o livro aos poucos. Ou seja, havia também um modo periódico de o ler, concebido para desaparecer no momento em que os fascículos se tornavam num livro.
[...] Era também um exemplo da economia modernista: a partir de um conjunto limitado de peças, módulos, e da sua disposição engendrava-se um repertório aparentemente ilimitado de leituras, de usos.»

in "Outra vez te releio", Mário Moura. Catálogo da Exposição [páginas 147 a 152].


Montagem minha, a partir da digitalização da capa e da lombada do catálogo da exposição, em virtude de exceder a área do meu scanner. Na lombada a palavra arquitetura está na grafia anterior ao AO. Provavelmente uma gralha.

Alguns dos meus momentos de apropriação. Dúvidas e pensamentos desconexos que estas "legendas" ajudaram a por um pouco de ordem. O lento método de tentativa e erro de um autodidata. 


A técnica não é senão o instrumento...
Halo de poeira cuprosa assinalando as mãos, foi o que também vi.


... a simples atitude selectiva e a escolha consequente são já factores que começam por negar o acaso.


Assisti ainda, quase na totalidade [mais de 30' de um total de 44'], ao documentário 'Lisboa, Cidade Triste e Alegre' de Luís Camanho, 2005.


Saída da sala onde podemos ler o texto do José Rodrigues Miguéis, encomendado para a obra,  qual friso cronológico... deslumbrante. Texto completo AQUI, de leitura imprescindível.


Estou a "ler o livro aos poucos", através da reedição da primeira versão do livro em fascículos, que o Jornal Público entretanto lançou. [Reduzida 15% lineares nas dimensões da edição original por decisão contratual da maioria dos Herdeiros dos Autores.]


Montagem minha, a partir da digitalização separada dos fascículos. Por vezes o scanner funciona como uma quase máquina fotográfica.

"Bato a pala" a tudo isto, e é para voltar.