domingo, 18 de dezembro de 2016

Por cima ou por baixo?

O feijão é como se fosse o cascalho, a fundação no prato. O arroz leve e solto virá depois, preenchendo os espaços, cobrindo. No prato esta seria a minha ordem natural, respeitando a gravidade e o meu gosto enxuto, como uma estrada romana ou uma parede de alvenaria... engenharias.

O arroz branco de cor e de gosto é a base. O feijão meloso de caldo e de sabor deverá pois se sobrepor ao primeiro, derramando o seu tempero. No prato é outra possibilidade em que não pensei, mas que respeita a gravidade e o apurar de gosto de quem aprecia... químicas.

Cada qual tem a sua opinião unívoca e prioritária. E pode não ser assim, normalmente não é assim, da mesma forma que normalmente somos assim, de opiniões feitas e exclusivas.

A propósito desta nossa conversa (Roberta e Osvaldo) lembrei-me dos "mandamentos" do Fernando Pessoa, que de seguida transcrevo, mas que podem encontrar AQUI:

1. Não tenhas opiniões firmes, nem creias demasiadamente no valor de tuas opiniões.

2. Sê tolerante, porque não tens a certeza de nada.

3. Não julgues ninguém, porque não vês os motivos, mas só os actos...

4. Espera o melhor e prepara-te para o pior.

5. Não mates nem estragues, porque, como não sabes o que é a vida, excepto que é um mistério, não sabes que fazes matando ou estragando, nem que forças desencadeias sobre ti mesmo se estragares ou matares.

6. Não queiras reformar nada, porque, como não sabes a que leis as coisas obedecem, não sabes se as leis naturais estão de acordo, ou com a justiça, ou, pelo menos, com a nossa ideia de justiça.


7. Faz por agir como os outros e pensar diferentemente deles. Não cuides que há relação entre agir e pensar. Há oposição. Os maiores homens de acção têm sido perfeitos animais na inteligência. Os mais ousados pensadores têm sido incapazes de um gesto ousado ou de um passo fora do passeio.

E onde quero chegar?... começar pelo primeiro, talvez o que mais se ajusta, e depois decorrer pelos restantes. Por enquanto é mesmo assim, decorrer... ser excêntrico... excêntrico de sair do seu eixo.

BOM NATAL.


Fernando Pessoa aos olhos e mãos de Júlio Pomar. AQUI.

domingo, 4 de dezembro de 2016

Como se nada fosse.

Dei por mim quase a pisar, molhadas, e que bonitas estavam, nos seus corpos expostos e dilacerados, breves repositórios de estações palimpsestas, até que tudo se dissolva e da pedra fique, por enquanto, a limpeza da morte.

Dei por mim bem a olhar, em sobressalto, hoje, 4 de dezembro de 2016.










A meus pés estais... perto dos Jerónimos [Mosteiro], indiferentes a quem passa... e o que se passa?