segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Na sombra do tempo.

Na sombra do tempo é por anda perdido o João da Silva, fabricante de "medianas" (relógio de sol de bolso), objetos que orgulhosamente ostentam o seu nome, marca registada, alguns até com as iniciais do seu nome em latim (I. S.), Ioannes da Silva.

Terá visto o artesão algum exemplar dos famosos relógios de sol em marfim de Nuremberg, ou "ecos" destes em objetos mais recentes?

Papel de parede para a sua área de trabalho.

Belos, sofisticados e caros, preparados para o mundo global (Lisabona, entre outras cidades do comércio mundial) e as elites, são o contraponto dos seus: naïfs, simples, baratos, preparados para o mundo local, para o povo. Será que o João da Silva leu algum livro sobre a construção de relógios de sol?... ou comprou algum exemplar asturiano e depois o adaptou (ou o inverso)?






As "medianas" vendiam-se nas feiras, baratas e fiáveis, no entanto poucos exemplares sobreviveram (o Museu de Etnologia não têm nenhuma exposta). Curiosamente o exemplar de Oxford foi comprado em Espanha em 1900, o que indicia que este tipo de relógio não só foi popular em Portugal, como "passou" a fronteira (ou teria sido o inverso?).




A primeira vez que tive conhecimento deste tipo de relógio foi nos anos 80, em conversa com a minha avó Maria do Rosário, tentei mesmo construir uma "mediana" com base no seu relato, pois o objeto já não existia. Bastante mais tarde, 2010 creio, comprei uma "mediana" feita por um artesão de Aboboreira (concelho de Mação, onde começava a antiga província da Beira Baixa).


Passou o tempo, e a memória reacendeu em 2013, quando em conversa com o Amilcar (Vila de Rei) descobri que tinha uma "mediana". Pela primeira vez pude ver, manusear, fotografar, o objeto de que me falara a minha avó, e descobrir que tinha o nome do fabricante: João da Silva. Foi apartir daqui que a minha busca foi relançada.




Primeiro na Internet, depois na biblioteca do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (2013), mas infelizmente não consegui obter nenhuma informação sobre a marca "João da Silva". Consultei os 9 Boletins da Propriedade Industrial disponíveis, referentes aos anos de 1885 a 1900 (escolhi este limite superior pois na "mediana" de Oxford referem que foi comprada em 1900).

Pesquisando, descobri que foi em 1883 que foi introduzido o registo de "marcas de fabrica e de commercio"(página 192); será que o "João da Silva" se encontra neste "espaço" (1883-1884)? Onde procurar estes anos? Será que "deixei escapar" o "João da Silva" na pesquisa que fiz? Foram cerca de duas horas a vasculhar os 9 volumes, com cerca de 200 a 300 páginas cada, mas só consultava a parte referente ao registo de marcas, e alguns volumes tinham um índice geral (3 ou 4 volumes), o que facilitava muito a pesquisa.

A funcionária que me recebeu sugeriu-me que consultasse a Inspeção-Geral das Atividades Culturais (IGAC) e a Sociedade Portuguesa de Autores (SPA). Fiz a primeira abordagem na Internet, e só a segunda me parece ter alguma viabilidade, tanto mais que na "mediana" aparece destacada a palavra AUTOR.

O trabalho "físico" de pesquisa encontra-se parado (2014), por motivos pessoais e profissionais, no entanto tenciono regressar à biblioteca do Instituto Nacional da Propriedade Industrial. Entretanto as buscas na Internet continuam (OLX, Coisas, eBay, Oportunity Leilões, Todocoleccion), e lentamente mais "medianas" João da Silva,









e outras, vão aparecendo...






As fotos anteriores estão agrupadas aos pares, que correspondem à mesma "mediana", aberta e fechada. O nome do ficheiro da foto, por exemplo,

M_JS_Macedo_de_Cavaleiros_1909_70x50x00_200_aberta.jpg

também tem informação relevante:

M_ - "mediana", igual para todos os ficheiros;
JS_ - "mediana" João da Silva;
Macedo_de_Cavaleiros_1909_ - local e ano de origem, ou local onde se encontra atualmente;
70x50x00_ - medidas em mm (comprimento x largura x altura, 00 quando a medida não é conhecida);
200_ - valor em euros (pela qual foi transacionada, ou pedido pelo vendedor);
aberta - foto da "mediana" aberta.

Ainda tenho muito trabalho pela frente:

- Encontrar o registo da marca "João da Silva (I. S.), e tentar descobrir / inferir dados biográficos do autor João da Silva;

- Foi uma ideia original sua? Copiou, foi copiado, adaptou, recriou;

- Qual a evolução no fabrico da "mediana", elementos decorativos, porque estruturalmente, quer em termos de materiais utilizados (madeira de choupo?, fio vermelho do gnómon, fechos de latão, cobre?, bússola), e dimensões, são relativamente constantes. Existiu mais do que uma "linha" (maior ou menor qualidade na ornamentação, com preços diferenciados) de "medianas" em simultâneo?

- Estabelecer uma sequência cronológica dos exemplares conhecidos, com base na análise comparativa dos desenhos e datas conhecidas (1900 e 1909);

- Qual o período temporal de fabrico e comercialização.

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P.S. Relógios de sol;
Os relógios de sol e a matemática;
Oficina de relógios de sol (ciência, arte e história para os mais novos. Uma sugestão para o URSO :);
A primeira notícia em português sobre a utilização de um relógio portátil.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

12 voltas ao Sol...

Sou capaz...


Juizinho...


Vamos descobrir a marca e o modelo...

O teu presente surpresa :)


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P.S. Sempre presente...


http://poemasemimgem.blogspot.pt/2010/05/pequeno-poema.html

No teu dia aconteceu:
25 de setembro
September 25

domingo, 21 de setembro de 2014

Ao léu...

Mas, "porque é que o Stuart desenha tão bem pernas? - Não vê a menina que eu vivi muito tempo... em Pernes?!" (Stuart Carvalhais, in “Sempre Fixe”, 20/4/1933).


Amadora parece estar a negrito, será a preferência do autor ou apenas um erro?
A pisar: STUART 1932.

Por baixo da linha: S T U A R T.



Ao léu também o dia a dia, a gente simples, as mulheres...


Marinheiro... Samuel?... quem sabe?...

«Não saias agora, que vem aí a carroça dos cães vadios...».




Para conhecer o homem e a obra:


Revista História N.º 29 - março 1981



A página 30 é o boneco Águas Passadas.


Expresso Revista 6 julho 2013.



Mais imagens aqui, "A Sátira" acolá, e Queluz também está!?...

Hoje tirei o dia para a bonecada :)

Só mais esta para a despedida, aliás o meu interesse pelo Stuart começou no dia em que vi este painel numa exposição em Colares.





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P.S. Pernas no mar (Carcavelos) ou pernas em terra (Lisbon Mini Maker Faire), para este domingo... pernas para que te quero.

domingo, 14 de setembro de 2014

Chuva...

((Misantropo)) De guarda-chuva em riste, passo apressado, cortando as ruas, cortando a chuva, rosto salpicado, cocuruto a salvo, a caminho do banco.

Depositado o pecúlio, mão no peito protegendo papéis no bolso para não se molharem, resoluto regresso à chuva, em passo apressado, cortando as ruas, rosto orvalhado, cocuruto molhado, de regresso ao início, alguém pergunta: o chapéu de chuva?... ficou no banco!

Aconteceu comigo a 10 de setembro de 2014... desligado.

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P.S. O quarteto que não dispenso: FJV, JPC, MEC e JCN, por ordem de leitura, não de importância, mas de disponibilidade. Por agora, e na minha janela de tempo, mas convém estar atento, aberto, curioso ao mundo.

Poesia é transmutar pensamentos em papel e tinta (lápis). Escrita mais ou menos intuída, pensada, desenhada, conseguida, acabada?... mais ou menos abrangente, universal ou pessoal. Quanto menos presa no tempo e no corpo melhor. Fica só este registo do que me passou pela cabeça (em construção).

((Misantropo)): esta grafia remete para um momento absorto.