segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

Espairecer...

Há aquela vontade/falta de jardim, de caminhar, hoje sem livro, só arejamento, pensamentos, e forma de levar algum olhar para casa. Mas a visita começa, obrigatoriamente, pelo interior. E assim vou revendo o que me apraz, como esta pintura representado a preparação e serviço do chá:



Pelo caminho vou espreitando pelas janelas disponíveis, hoje, mais do que o exterior que se vislumbra, sou uma flor de estufa, sentindo o calor no rosto, prestando atenção às vidraças riscadas... mantenho-me assim, ao escutar passos apressados a chegar, o som do obturador, literalmente, a disparar, e os mesmos passos a se afastar. Parcos segundos de caça furtiva. O que se ganha e o que se perde?



Uma descoberta do dia: o serviço tetê-à-tetê para chocolate:



Não resisto a fazer a transcrição do que descobri [AQUI], pesquisando depois em casa:
O tabuleiro é oval e apresenta no seu fundo uma reserva oitava, com uma reprodução da pintura de Rubens As três Graças [surpresa] realizada em esmaltes policromos. Esta pintura é rodeada por uma cercadura de folhas a ouro brilhante e mate, e pela figuração de dois jasmins. Por sua vez, pode-se ler no verso a inscrição “L´original peint par Rubens, se trouve dans la galerie de Monsr. Le Comte Ant. de Lamberg à Vienne; cop. Par Claude Herr. 1816.” que nos permite identificar, ao contrário do serviço do acervo do P.N.A., o autor. Bem como que a mesma foi realizada dois anos depois da estrutura do tabuleiro estar fabricada, uma vez que apresenta inciso na pasta o número 814 referente ao ano de 1814 mas a legenda refere o ano de 1816 como o da elaboração da pintura.As duas chávenas, tal como as do conjunto do PNA, seguem o modelo “jasmin”, em porcelana branca em doublée or e estão embelezadas no seu exterior por uma cercadura de folhas em ouro mate, e no interior, junto ao bordo, ostentam uma faixa branca com cercaduras de folhas em ouro que também figuram nas chávenas do serviço do PNA. Os pires que as acompanham, são apresentados em porcelana branca doublée or e são adornados com cercaduras de folhas em ouro mate.A chocolateira em porcelana branca doublée or assenta sobre um pé circular e expõe um bocal em forma de bico de pato com tampa amovível e encimada com uma pinha. A tampa apresenta uma corrente ligada à pega e, toda a peça é decorada a ouro brilhante e mate com cercadura de folhas no bojo. A leiteira, também, em porcelana branca doublée or não tem um formato distinto do anterior, nem mesmo em termos decorativos. Já o açucareiro, igualmente de porcelana branca em doublée or detém a morfologia de uma naveta apoiada sobre um pé oval que assenta sobre uma base retangular e todo o bojo é decorado com uma cercadura de folhas de ouro mate.
Continuando pelos pequenos prazeres: bebendo chocolate. A figura é apenas identificada como sendo um militar. De passagem, nunca esqueço de mirar as mãos, bem como o magnífico tampo de mesa em pedra, ao canto da sala, com incrustações coloridas e desenho geométrico, que hoje não me apeteceu fotografar [há ocasiões assim]:




Ou os frascos de chá, que me intrigam acerca da sua funcionalidade, por causa da abertura estreita. Estou tentado a comprar uma réplica, lindas AQUI, para testar.



Todo o "quarto de vestir" [Sala do Toucador] é um encanto, mas o lustre e o teto... [fico vidrado a olhar, de respiração prolongada... de saboreio].



Chegada à premissa: no Canal de Azulejos encontro estes remendos, que o ângulo de luz procurada acentua.



Quando vislumbrei lembrou-me o deck [foi a palavra que saiu no momento] de um paquete.



Perto do Jogo da Pela encontrei esta bola...



E o som da água que se estrela na queda, em luz difusa:



Ou a decoração natalícia das amargoseiras, sem folhas, com os frutos a apurar a cor: mais umas semanas e temos bronze.



Geometrias de caos, numa trama de azulejos e cabelos de árvores:



O escudo de Minerva/Atena [escultura de John Cheere] com a cabeça decapitada de Medusa, que lhe permitia petrificar os seus adversários em combate [AQUI, num artigo que traz à liça a mitologia e a poesia de Judite Teixeira, que descobri por acaso ao tentar saber mais sobre a ligação Atena e Medusa, bem como o texto de Sigmund Freud A cabeça de Medusa].



A fechar: a cruz do tempo.



Passeio e leituras improváveis, que certamente se renovarão a cada nova visita. Negativos?

Ainda não sei porque escrevi esta palavra, sendo certo que o que se segue é um negativo trabalhado, de um pessimista racional: autorretrato tentado.




A chegada e o anseio pelo, perfeito, acompanhamento destes pastéis de nata: chá e...



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Post scriptum

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