Não sei se por irritação ou graça, um pouco das duas, ou outra razão que não alcanço, o Abel resolveu batizar o primo com uma alcunha: «Receitas», «O Receitas».
Foi alcunha que ficou só entre nós (Lourdes, Paulo, Elias, Laura, Carlos, Manuela, Maria Elvira, Lurdes e José Maria), nunca a revelou ao primo, nem a outros familiares.
Esta semana o primo abalou (ver palavra abalar no Dicionário de Regionalismos e Arcaísmos (DRA) | José Leite de Vasconcelos), o Abel está com Alzheimer, será que ainda se recorda do «Receitas»?, e dou comigo a relembrar tudo isto ao som dos Baile Popular, música «20 ou 30» («cada qual tem o seu jeito, de mostrar o seu respeito, ao primeiro que abalou»).
É o desfilar implacável do tempo à minha frente, com os seus avisos, o que está ao meu alcance para o obviar, reescrevendo o meu fim a cada dia, e alcançar um fim mais feliz. Foi nesta linha de pensamento que partilhei convosco, Paulo, Manuela e Roberta, no velório do primo Ricardo, o meu entusiasmo pelo livro «Ser Mortal», e a referência que fiz ao prefácio do neurocirurgião João Lobo Antunes, que termina assim: Este livro sobre o qual escrevi estas palavras ficará na minha Biblioteca, esperando que um dia alguém o leve… como jóia.
Também vos falei do artigo da revista National Geographic (Paulo, tens aqui uma surpresa para ti) de janeiro de 2016, «Eis o seu cérebro ao ar livre» (O poder da natureza), o aporte que a natureza pode dar à nossa saúde mental, a juntar aos fatores rendimento, formação e emprego. O problema é que esquecemos, e o tempo passa, e não é a moda ou o pontual que faz a diferença, mas a constância de uma inquietude saudável, num corpo ativo e leve, que vai desfrutando a vida, com sabedoria, no equilíbrio... e a alegria surge... não é fácil, é sempre tempo de mudar, mas quanto mais tempo passar mais difícil o mudar, e conseguir contrariar o lastro de desequilíbrio acumulado. Por vezes é preciso «atirar borda fora».
E foi assim o fim de um dia, do fim de alguém, espelho do fim ou o fim no espelho... e como será enfrentar o fim?
«Últimas palavras» e «Mais «últimas palavras»» títulos de dois artigos do Eugénio Lisboa na Revista Ler, maio de 2015 e verão de 2015, respetivamente. O fim no «sopro» da palavra, passado à letra, com uma certa leveza e descontração, patética talvez, mas que já por inumeras vezes tinha pensado abordar e apresentar. A pretexto do momento aqui ficam os dois artigos (o melhor será imprimir e ler).
Acrescento as minhas últimas palavras: agora vou saber se tu existes.
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P.S.
- Gostei tanto destes mapas (agradeço ao Osvaldo a sua descoberta) que resolvi incluí-los todos numa folha, para imprimir e colar na parede. São o que são, estereótipos, que todos nós entendemos.
hoje... tal como ontem resolvi seguir o conselho da National-Geographic... e acabei com um semi-banho... ao contrário do italiano que acabou com um real banho... na boca do inferno... "salpicos" do ofício..
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