domingo, 15 de março de 2015

A insatisfação de Tolstoi.

À insatisfação no prazer, e sua incessante busca por vias tortuosas, que encontrei em Grey, junto-lhe agora a insatisfação na vida de Tolstoi, também este por caminhos tortuosos, e que se traduz nas seis perguntas desconhecidas, às quais deveria responder:
  1. Para que viver?
  2. Qual o motivo da minha existência e da de qualquer outro indivíduo?
  3. Qual a finalidade da minha existência e da de qualquer outro?
  4. Que significa a distinção entre o bem e o mal que sinto em mim, e para que existe ela?
  5. Como devo viver?
  6. Que é a morte, — como posso salvar-me?

Tolstoi - Religioso e Sociólogo (Stefan Zweig - A Marcha do Tempo)

Dei por mim a fazer este paralelo quando, por acaso, lia este artigo de Stefan Zweig sobre Tolstoi, e que podem encontrar AQUI. Rapidamente confrontei as duas personagens, ambas com vidas de sucesso:

GREY              TOLSTOI
Ficção            Real
Séc. XXI (EUA)    Séc. XIX (Russia)
Magnata           Aristocrata
Cidade            Campo
Empresário        Escritor
Vintes            Cinquentas
BDSM(?)           6 Perguntas

É a marcha do tempo, de fundo e a de cada um. Apesar do hiato temporal entre ambas as personagens, têm um século a separá-las, as preocupações de cada um são as decorrentes das suas idades, o que é normal: aos vinte pensa-se no sexo, aos cinquenta pensa-se na morte, caricaturando e simplificando. O que não é normal no nosso tempo, digo nosso tempo porque é o tempo que me interessa, pois é o tempo em que estou vivo e que posso fazer coisas, entenda-se ser feliz,  é querer reduzir a felicidade ao mito do eternamente jovem, seja em orgias bizarras, seja no consumismo, que não é mais do que ter sempre coisas novas. É bom ter coisas novas, mas só isso não chega, há que crescer, quanto mais não seja porque o relógio de cada um não pára, a bem ou a mal vais crescer e morrer, literalmente, e depois pode ser tarde para ser feliz... termina-se infeliz e amargurado.

Stefan Zweig, autor do texto que referi, e que ando a ler e a descobrir prazerosamente, neste momento tenho em mãos "A Marcha do Tempo", é facil de encontrar nos alfarrabista, a preços simpáticos (este custou-me 2,50€), foi um autor famoso e muito lido, mas que caiu no esquecimento, e que terminou os seus dias no Brasil, na maior de todas as insatisfações: o suicídio. Vale apena ler a sua Declaração de despedida e a foto da sua morte.

Tudo começou com um filme, e de insatisfação em insatisfação termino com um filme: Grand Budapest Hotel, baseado vagamente na vida e obra de Stefan Zweig (Gustave H. no filme). Uma triangulação na insatisfação: 3 personagens, 2 filmes, 1 livro, e a minha curiosidade insatisfeita, não esta, mas as que se seguem ;)

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