domingo, 7 de fevereiro de 2021

O prego.

Carne grelhada metida num pão, para comer na mão. Carnes, temperos, gorduras, utensílios e tempo, segredos, há de tudo de norte a sul.

Prego também é apelido de gente, objeto que fixa, peça de carne sem osso, correspondente à parte posterior do peito e que resultou da separação do peito alto. [Prego do Peito, AQUI, página 14].

Permeando os anteriores parágrafos conjeturam-se aceções para o "prego" que comemos:
  1. «Segundo Vitor Sobral, a origem deste prego «remonta ao séc. XIX, na taberna do Sr. Manuel Dias Prego» [Praia das Maçãs], onde era servida esta sandes de carne de vitela em pão de forno.» [AQUI];
  2. «A razão pela qual um bife Prego é chamado Prego, é porque a carne em Portugal éra conhecida por ser "tão dura como pregos". O recurso de usar um amaciante de carne, que é moldado como um martelo para amaciar a carne, também é outra razão para o nome.» [AQUI]; 
  3. O Grande Dicionário de José Pedro Machado inclui no verbete de prego o significado, característico da gíria lisboeta, de «pedaço de carne grelhada ou frita metida num pão». Na mesma entrada, encontra-se também uma acepção que parece próxima e pode lançar alguma luz sobre a génese da expressão: «carne do peito do boi. É curioso ver que a 3.ª edição (de 1923) do Novo Dicionário da Língua Portuguesa de Cândido de Figueiredo regista esta última acepção, mas ainda não acolhe prego, «carne no pão», o que pode querer dizer que o significado em análise não estava ainda consagrado no princípio do do século XX.». [AQUI].
Quanto à suposta origem na Praia das Maçãs, remeto para as palavras de José Alfredo da Costa Azevedo [as imagens também são deste livro, e no nome do ficheiro consta a página]:

«Da nota que me foi dada também consta que, nesses tempos longínquos, existiu uma cabana, junto ao areal, a qual pertencia a um pescador chamado Prego, onde este preparava caldeiradas para os visitantes que por ali apareciam, bem como petiscos de mexilhão e percêbes que abundavam nas rochas.

Teria essa cabana (não prédio) sido um primeiro «estabelecimento» do Manuel Dias Prego?

Pela fotografia do Prego vê-se que este, quando construiu o seu prédio, já não era criança [1889]. Enfim! tudo é possível.»


A disponibilidade dos alimentos, a sazonalidade, o aprovisionamento e formas de conservar, condicionam a ementa da futura Casa de Pasto Prego [ver tabuleta]: razoável suposição.




O turismo balnear chegava à Praia das Maçãs, mas não a tempo de ser incluído no Guia do Banhista e do Viajante de Ramalho Ortigão, As Praias de Portugal, de 1876, embora se esforçar-se para ser O ponto mais Occidental da Europa.




O prego mais não é do que uma forma de resolver, rapidamente, um problema: seja a junção de tábuas, ou colmatar uma refeição em falta; é a minha sugestão para o verbete prego.

Pregos há muitos...


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P.S. Descobri o Prego do Martinho em Boticas, ao ver hoje na TVI o programa Mesa Nacional, num total acaso que não é mais do que isso. O mais interessante é a explicação para a utilização da vitela, vejam o vídeo, porque ser Barrosã não tem mistério nenhum, é como a caldeirada, o mexilhão e os percêbes, cozinha-se o que se tem à mão, quando as distâncias são grandes, porque o eram, ou porque os transportes eram lentos, e os frigoríficos não existiam.

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