segunda-feira, 10 de julho de 2017

50 anos de Corto Maltese.

A personagem apareceu a 10 de julho de 1967 na revista Sgt. Kirk, publicação mensal italiana de fumetti, lançada por Florenzo Ivaldi, Claudio Bertieri e Hugo Pratt [desenhador, e outras palavras terminadas em dor, criador da personagem], faz hoje precisamente cinquenta anos. A Balada do Mar Salgado, nome da história que continuaria a ser publicada até fevereiro de 1969 [curiosamente, primos, "aparecemos" todos nesta janela de tempo].


Numa cruz de Santo André [a jangada subjacente lembra a grelha de São Lourenço], faz a sua aparição o martirizado Corto Maltese... não combina... bem vendo as coisas até combina, porque mártir é aquele que vai até ao fim [aprendi na missa de sétimo dia], e à sua maneira o Corto Maltese vai até ao fim. Da mesma forma que, à sua maneira, traça o seu destino [do latim fortūna]...



Corto assim o revelou a Pandora na Balada do Mar Salgado... [falta-me fazer o meu ZAC... talvez o medo da dor]. Pandora... Gisela Dester, a vida do autor, Hugo Pratt, que estou a descobrir na leitura do seu livro de memórias e reflexões «O Desejo de Ser Inútil»... ó glorioso título!

Não me recordo ao certo por onde comecei a ler Corto Maltese, não foi A Balada, pela qual não me entusiasmei na primeira leitura, talvez pelas Célticas, no princípio/meio [?] dos anos 80.

Esta imagem está aqui por causa do subtítulo.
O amarelado de base é a patine do tempo. Sim, já são velhos estes livros.

Publicado pela Edições 70 [excepto A Balada publicada pela Bertrand], paulatinamente ia comprando e lendo, e foi assim que juntei todos os títulos publicados. Vinha da fase do Tintim e do Alix [esqueci-me do Astérix, bem lembrado Jorge], digamos que fiz um upgrade em sintonia com a maturidade crescente.

A personagem inspira admiração, mas é inacessível, não dá para ser como o Corto, alto e espadaúdo [eu]; na maneira de pensar e de agir [a coragem do Corto] muito menos, verdadeiramente nunca sei o que está na cabeça do Corto. Tudo somado é o lado nonsense de tudo, as ambiguidades, os pormenores, as referências propositadamente [assim o entendo, mas posso estar enganado] esparsas e ecléticas, o toque e o cheiro da poesia [intuída]. Passaram algumas décadas e não reli Corto, o que acabei de escrever foi o que ficou das leituras dos anos 80. Da mesma forma que a Hipazia da Fábula de Veneza,

Esta imagem está aqui por causa do gato :)

Esta imagem está aqui por causa da frente do Corto.

ou a Boca Dourada e os cangaceiros em Sob o Signo do Capricórnio,

Esta imagem está aqui por causa da genealogia do Corto, e do par de mãos dadas [voluptuosa elegância].

Esta imagem está aqui por causa do perfil do Corto... e os chapéus.

Afinal os chapéus existiam mesmo, era um Brasil que não conhecia [ao tempo].

Falta-me terminar a leitura de «O Desejo de Ser Inútil»... afinal o Universo Corto tem tanto de ti [As Etiópicas, por exemplo, ganham outro sentido], e ler, pela primeira vez, as derradeiras obras As Helvéticas [1988] e  [1992], para poder recomeçar, num tempo diferente.

Esta imagem está inclinada porque assim está no meu livro; e está aqui porque... [é linda]
Penúltima página da Balada.


Post scriptum

Tanta coisa vai ficando para trás: o Conselheiro Segurado [obrigado Osvaldo]; o kitsch visto numa capa de Thoreau; acerca de «Uma selecção para ouvir no carro do Abel»; a vida de um cardo; o esboço da minha Sintriana [o Chá da Pena, ou a arte do professor Emílio de Paula Campos, por exemplo]; as subtilezas do poema Liberdade, a pensar no Gonçalo; os contos da Maria Archer que não acabei de ler; uma placa para um diospireiro ou a "coroa" para uma coluna num miradouro.

Do pouco tempo que tenho para mim,
O Muito do pouco que me é cortado.
Amachucado...
Irra!

[Intencionalmente escrito em Helvetica]

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