domingo, 30 de agosto de 2015

Sobras de tempo.

Uma ausência, que não é de férias, mais parece antiférias, como a antimatéria, o oposto de um certo continuum, picotado relâmpago, ou rasgo de luz muito breve, por vezes violento e doloroso, ou calmo e prazeroso, mas de tão breve que passa, a dor e tudo o resto.

Neste rasgo de ausência, o meu continuum foi feito de obstáculos, que se foram vencendo é certo, mas à custa dos meus poucos rendilhados de luz, como o estar aqui, uma pausa que se inala ou se escuta, desenhar no olhar a linha do horizonte a quatro olhos, ou um poema que se lê ao deitar, quando o corpo exausto não é apenas «cadáver adiado que procria».

Dando espaço à perspetiva, não é muito diferente do que se passa numa vida, no entanto é preciso ter cuidado, o que passa pode ser nosso, e o que se nos vai passando?...

Ontem foi um resumo de rendilhados de luz, assim...

Guarda que bella...




Rumo
Autorretrato


Gentileza
Momento
O resto já passou, mas é bom que se não passe (que não se repita, a perda de tempo).

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P.S. Quarenta e duas voltas ao Sol, parabéns Cármen. O teu presente...

Texto retirado da Revista Gulbenkian Descobrir Março a Setembro 2015.

Foto-composição minha, que andou em bolandas, e que teve vários inícios, desde "O prato", "O que me mantém", e agora é tua.

1 comentário:

  1. É bom passar pelo tempo e descobrir que é o tempo que não passa.
    Rever a saudade é sentí-la visitando-a de quando em vez, na janela
    que o tempo dispõe, para o deleite dos que sabe refletir na ordem do pensamento.
    A vida é assim. É preciso descobrir dentro de nós, a razão do momento e o momento que a razão dispõe na vida que procuramos viver.
    É paradoxal, mas visitar lugares, parece nos fazer felizes, mas a felicidade é o estado da alma que encontra prazer em rever o passado, mesmo aquele que não vivemos no presente mas que foi um rasgo de tempo na memória espiritual. Não é o lugar que nos faz feliz, mas o prazer que sentimos por rever momentos em que o prazer despertou em nós a felicidade momentânea.
    Parabéns a familia Manso/Lucena por esses momentos de entrelaçamento familiar.
    Do sogro que vos ama muito
    Samuel

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