sexta-feira, 1 de maio de 2020

A Paixão da Tipuana.

Local de passagem, ilhéu de sombra e cor, verde contracorrente de estações trocadas e atapetamentos dourados, tudo a seu tempo, e conforme os tempos, o sempre [des]igual.

Fotos de outro local... a biosfera é um continuum cíclico de desprezo pelo indivíduo, implacável com a morte: senão aqui, noutro lugar, de outra forma.

Ao centro, escultura de Mestre Carlos Vizeu, qual soldado gigante da Airfix emboscado na floresta, formando um todo ao deus-dará, que desperta enlevos de ambiente kitch no contexto suburbano, assim como esta construção frásica, a condizer com a fachada da corporação. Era ASSIM [a foto não é minha], ficou ASSIM.

A sanguínea seiva que escorre dos cortes, com certo grau de coagulação, presta-se à tétrica passagem de jardim do Getsémani a ermo Gólgota, a que não faltou no dia seguinte a "salga do chão".



O trabalho também pode ser penoso, como descobri, ao interpelar uma pessoa que o fazia, em forma de espanto meu pelo "sangue que escorria".




Metáfora fácil que lancei e colhi. "O patrão diz que são freixos"... está a ver estas sementes? repliquei... são de tipuana.




Nos cortes expostos houve consenso na sensibilidade partilhada / aflorada:



A aparente vitalidade das secções, aos olhos de um leigo, lança a dúvida sobre a necessidade desta desarborização,




ou intentos futuros para o mesmo espaço, sem a sombra e a variabilidade cíclica de cores, fácil apelo estético a quem passa, forma gratuita e edificante de cultura, que leva o seu tempo a crescer.

Gostei do seu comentário, é de "gente de bem", foram as minhas últimas palavras.

Era Dia Mundial do Livro [juntei mais estas folhas à minha floresta], a caminho do trabalho, e fiquei a saber que partilhamos com a tipuana a mesma cor visceral.

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