sábado, 30 de novembro de 2019

Número atómico de feito presente.

Se é certo que é do estanho, como está na tabela periódica da tua vida de formação e profissão, quis o acaso que este ano se juntassem as duas datas: os 150 anos da Tabela Periódica dos Elementos Químicos e a abertura de nova década para ti: põe-te à tabela :)

À falta de melhor, tinha andado a magicar uma árvore para este Natal [em 2015 e 2017 foram assim], lembrei-me ontem de pegar no que ando a fazer e ajustar uma árvore para ti. Muito noturna, em todos os sentidos, procurei-lhe a cor cliché, em todos os sentidos: andei pelos carbonatos e óxidos de cobre. O resultado preliminar é o seguinte:


N
OE


Entretanto misturo-lhe a conclusão da leitura d' A Chave de Sebastião da Gama, feita ontem, e as nossas lembranças, para literalmente pendurar palavras nela. Começo pelas nossas palavras [nossa hermenêutica], agrupadas por temas:

  • Zandinguismo [filosofia]


  • Puchupu [nome de gato]
  • Tufi [nome de gata]


  • Zecatrene [nome teu ou meu?]
  • Tatutunho [idem]
  • Zequibefus [idem]

Peço a tua ajuda para a fixação da grafia :)

Quanto às palavras da conclusão da leitura de ontem, dispostas pelos pontos cardeais disponíveis, ficam assim:

N
  • Serra
  • Partimos
  • Caminho
O
  • Cabo
  • Esperança
  • Vamos
  • Verdade
E
  • Campo
  • Amor
  • Somos
  • Vida

A sua leitura deve ser feita como se de isolinhas se tratassem, em trios de palavras, no sentido centrípeto, assim como no boneco:
Temos pois quatro trios: obras de Sebastião da Gama, São Paulo, o Poema, e Jesus. Só me limitei a pôr no papel e a constatar. Será que me estou a perder para o zandinguismo?... Estou a ficar preocupado :)

Pois bem mana, falta dizer o número [só para quebrar o suspense de quem nos está a ler]: cinquenta voltas ao Sol!... Parabéns, muitos Parabéns!!!



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Post scriptum

Scottish Tranquility, Phil Coulter: faz muito tempo que me deste a descobrir, AQUI para todos vós :)

sábado, 23 de novembro de 2019

NADA[S]_MEU[S]_0009_À PROCURA DE...

Começa assim sem querer, num prosaico e desconfortável momento: fui levar o lixo, ao relento da noite fria e chuvosa, quando olhei para ti [não foste a primeira, foi a do castanheiro que me despertou], voltei a trás, fui buscar a máquina e recolhi-te [Queluz, 20/11/2019, 23:06:52]...





Procurei-te na forma...





Tentando contornar as minhas limitações...




Da técnica, que condicionou o que colhi, e do uso futuro que não antevi...


Mantive-me preso ao triângulo, por ser mais fácil, mas mesmo assim tive de te esticar, endireitar e aprimorar, para que renascesses assim...



Diferente do que tinha pensado, mas mais próxima do uso que te quero dar.

Algumas variações...




E és, agora, a minha árvore de Natal...

Talvez distribua as bolas de outra forma [não lhe sinto equilíbrio], ou as retire por completo, e te acrescente uma estrela.

Voltaste à árvore!
Uma outra vida, para além da morte...
Em mim.

Cuida, que a vida não se governa assim.


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P.S.
Jesus conseguiu! Premonitória foto de Antonio Lacerda, fotógrafo da EPA. Ouro sobre azul, o título que o Jornal de Notícias lhe juntou: Tudo apóstolos. +

domingo, 17 de novembro de 2019

NADA[S]_MEU[S]_0008_NOTURNOS.

Momentos de atmosfera melancólica e noturna, de expressão intimista e contemplativa, mesclando as definições do dicionário, ou quando o negrume mescla as cores, em palavras subtraídas a Sebastião da Gama, no seu poema Serra-Mãe.

Matéria e luz, folhas de outono caídas no chão, que dão azo aos meus pensamentos... noturnos.









 [A CONTINUAR...]

sábado, 16 de novembro de 2019

Novecentos e noventa e nove.

Quantos destes ainda sobrevivem? Com o meu, perfaz um milhar de exemplares, que saíram em dezembro de 1945. Para mim, que não ligo a uma primeira edição, pelo valor material, ditado na escassez económica, é uma grande alegria poder ter em mãos o primeiro de Sebastião da Gama, em primeira edição. Contradição?... Não!

Procuro a materialidade de estar mais perto. No prefácio da Serra-Mãe, cumprindo antiga promessa, agora publicado pela primeira vez na Ática, 2.ª edição de 1957 [a minha é a 6.ª edição, novembro de 1991]; e como gostaria de o ter visto com o Pégaso do Almada na capa: Joana Luísa fez-lhe uma capa protetora para livros, em tecido, com bordado do cavalo alado, AQUI; o seu professor e amigo, Luís Filipe Lindley Cintra, escreve [Outubro-dezembro de 1956. Sebastião faleceu em 1952]:
      Entre 1943 e 1945 fui coleccionando os poemas que Sebastião me ia trazendo ou mandando da Arrábida. Numerosos em certas épocas — o poeta irradiava então felicidade —, rareavam extraordinariamente noutras («estou baço», dizia-me ou escrevia-me então, deprimido). Em fins de 1945, considerou que tinha chegado a ocasião de publicar o seu primeiro livro e começou-me a consultar sobre a selecção a fazer entre os poemas coleccionados. Dedicava-se a essa tarefa com decisão, mas também por vezes com pena; é que, se muitas vezes foi a imperfeição, agora notada, dos poemas que determinou a sua exclusão, outras, foi apenas a necessidade de não alongar demasiadamente o livro. 
      Feita a selecção, preocupou-o longamente a organização do volume — a sua divisão em «livros» (secções ou capítulos) — que desejava de uma perfeita unidade interna quanto à natureza dos poemas, ou melhor, quanto à sua própria atitude no momento de os criar. Os títulos, também cuidadosamente escolhidos, deviam espelhar essa natureza. Tão espontânea, directa, foi a criação dos poemas, quanto foi meditada a sua ordenação definitiva.

Eis o que tenho em mãos: um pedaço contemporâneo do Sebastião.



Ilustrou a capa Lino António, amigo de Sebastião, e desconfio que houve alguma vivência in loco, na Serra da Arrábida, na sua concepção. Em 1945, Sebastião da Gama tinha 21 anos e Lino António 47.

Há, e descobri, na dissertação de mestrado «O contributo de Cruz de Carvalho para a história do design em Portugal», de Diogo João Silva Rocha dos Santos Coelho [AQUI], página 33:
Cruz de Carvalho lembra com humor que, Sebastião da Gama era um rapaz extraordinário e que “era amigo de toda a gente que tivesse algum interesse”.51 Um desses amigos era Lino António, pintor e director da Escola de Artes Decorativas António Arroio. Cruz de Carvalho recorda-se dos muitos passeios pela Arrábida, para pintar com Lino António que lhe ia passando os seus conhecimentos.
A nota de rodapé 51 remete-nos para entrevista nos Anexos da referida dissertação [página 221, e não 222 como está na nota de rodapé]. Vasculhando nas entrevistas, descobri na página 230:
Lembra-se de eu lhe ter dito que o Lino António era director da Escola António Arroio... e eu do meu contacto com o Lino António, que foi também uma pessoa muito simpática, ele e a mulher eram muito simpáticos para mim... ficámos também amigos para o resto da vida. E havia o laço entre nós e o Sebastião. Mas o Lino António convidou-me para pintar com ele na Arrábida, e eu lá fui com o cavalete e papel, um de cada lado, e ele ensinava-me coisas, que eu não sabia, como por exemplo “para se pintar o céu deve ser azul cobalto. Porque o azul cobalto tem a propriedade de ser uma cor que dá um certo afastamento”. E aprendi com ele outras coisas...



A azul cobalto [sRGB (r, g, b) (51, 60, 135)] ficaria assim [manipulação feita por mim no software IrfanView]:




O crescendo das ondas da Serra está aqui, no miradouro da Estação Arqueológica do Creiro. Final do dia, no Portinho, para mim é aqui. O último ocorreu a 14 de setembro deste ano [18h28m58s]:



A amável Erato [há pleonasmo], ensimesmada, estende a mão e contempla o noturno. O rebanho, entregue a si mesmo, não se dá conta do mar, escondido que está pela "Onda do Risco". No seu horizonte apenas o alimento da planície [Vale do Risco]:


Com elas se faz queijo. Damos o coalho.


Quem faz os versos é Êle...
O que se não incomodou
em preguntar se o livro ficou lá
na livraria
sem ninguém o ir comprar

Eu sou sòmente um qualquer
que, se tem dinheiro, compra
os livros que o Outro escreve,
pra lê-los nos intervalos
do bafio dos estudos.
Um que, já farto de ler
sem perceber,
deita o livro pela porta
e diz, estúpido e baço :
«Ai meus ricos dez escudos !...»
...................................................
Mas o Outro não se importa.

Sebastião da Gama

A GENTE OS DOIS, na página 72, digitado por mim, tal qual está impresso no livro que acabei de comprar, na Letra Livre, assim, no regresso ao trabalho.





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Post scriptum

Um certo cavalheiro interpelou-me sobre a localização da livraria. Expliquei-lhe que estava perto. Prosseguiu, mas quase de imediato chamou-me, e perguntou-me: o Sr. é doutor?... bem, pouco interessa agora o que disse. Ofereceu-me o seu LIVRO, onde podemos ler nas BADANAS. Surreal, mas aconteceu, comigo, hoje.

domingo, 10 de novembro de 2019

Preparado.



Não é forma de começar o dia, assim só com três alimentos, mas hoje estava com essa disposição, de juntar pedacinhos e experimentar o Lisbon Breakfast que comprei ontem, ao final do dia, numa Lisboa linda de melancolia, num arrancar de ferros, que exigiu uma passada vigorosa e apressada, Calçada do Combro abaixo, Calçada do Combro acima, de guarda chuva fechado para melhor passar entre os transeuntes [essencialmente turistas], e sentir a chuva na calva [It's Raining Again]... e como me senti bem em corpo e mente ginasticados.

Pelo meio, literalmente no meio, procurei por um livro muito amado. Vão procurar, e na segunda dar-me-ão a resposta. Na sua capa existe este belo desenho/gravura do Lino António, seu amigo.

Imagem manipulada por mim a partir de imagem que encontrei na Internet. Só não revelo o link para manter o suspense. Se conseguir o livro irei acrescentar a digitalização da mesma, e revelar a localização desta.


Olhem o rosto... o seio... a mão direita... todo o céu... e o mar... e a serra... o rebanho... Será uma lira no canto inferior direito?... ajudem-me. A subtil cercadura, prensada, que almejo tatear. Sim, é um livro muito amado.

Bebericar, mordiscar, olhar, e misturar tudo na cabeça, literalmente. Este domingo começou assim, bem comigo mesmo, à luz quebrada, à espera do amanhecer.


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Post scriptum [cheguei aqui pela orografia]

Sozinho a ouvir o mar, que não diz nada.
Férias do mundo e de quem lá anda.
Concha de ouriço, mas desabitada,
Aberta no lençol da areia branda.

Não se lembrem de mim esta semana!
Matem o Cristo, e ele que ressuscite!
Eu, nesta angústia humana ou desumana,
Quero apenas que o sono me visite.

Miguel Torga


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Post post scriptum [cheguei aqui pelo complemento: Lisbon Breakfast... Lisbon Revisited]

Não: não quero nada
Já disse que não quero nada.

Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.

Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!
Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) —
Das ciências, das artes, da civilização moderna!

Que mal fiz eu aos deuses todos?

Se têm a verdade, guardem-na!

Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?

Não me macem, por amor de Deus!

Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?

Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja de companhia!

Ó céu azul — o mesmo da minha infância —
Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflecte!
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.

Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo...
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!

Fernando Pessoa




domingo, 3 de novembro de 2019

Composições.

[O único elemento que se movimentou fui eu, ao redor das composições a fotografar.]

Ontem foi o repente, o deslumbramento, o mimetismo da folha no asfalto, acentuado é certo pelos reflexos do chão molhado, as cores a querer-se misturar. Hoje o pretexto foi a visita à estufa dos abacaxis/ananases [é tudo o mesmo, nós portugueses é que criámos esta confusão] nos Jardins do Palácio Nacional de Queluz. E como cresceu desde 7 de julho, mas perdeu as cores lindas.

Um passeio outonal num jardim é sempre um grande risco de dispersão, mas estava mesmo a contar com isso. A chuva apareceu, quantum satis [conheço uma casa em Sintra com esse nome: será de um farmacêutico?], para dar o brilho, e o Sol entremeou com nuvens, modelando a luz: perfeito. E foi assim que foram surgindo as minhas composições, num percurso aleatório pelos meus recantos preferidos. A ordem das fotografias é a da caminhada.






Aqui temos um daqueles repentes [ai que amarelos e verdes]: resolvi colocar em clausura um raminho de Melia azedarach L. nas páginas do livro que levei para ler. Vão ficar lá um mês, e o livro não será aberto. Ficou debaixo do colchão, na zona da minha cabeça. Será que o livro vai ficar tatuado?



No segundo grupo de estufas, à cuja porta fechada se acumulavam esta folhas, encontrei um passarinho prisioneiro [talvez uma elegante alvéola-branca]. Assustado, debatia-se com as incompreensíveis paredes de vidro. Pareceu-me exausto. Consegui improvisar uma forma de bloquear a porta, desloquei-me para o lado oposto, e facilmente encontrou a liberdade. Com esta minha ânsia esqueci-me de o fotografar.







 Em cima [visto de lado] e em baixo [visto de cima] apenas mudou a perspectiva, para que conste a diferença [folha e frutos de lódão-bastardo]...




Assim vai caminhando o outono. Prazeroso, tal como deveria ser a minha atual etapa da vida. Se tudo correr bem é tempo de começar a colher alguns frutos [que frutos?], o corpo ainda funciona bem: olhos, dentes, coluna e pernas acusam o tempo e o trabalho; o cabelo e a pele acertam no tempo; a mente pensa sempre que é mais jovem, mas não é! Por dentro as análises dizem que estou antes do tempo, mas certo é o melhor entendimento da vida [que tenho procurado].

sábado, 2 de novembro de 2019

Adenda.






Talvez não fique por aqui, no mimetismo
[des]velado.
Que outras formas se irão revelar
nas folhas caídas.


«Que somos nós senão paisagem? Instintos vegetais emaranhados na terra, sentimentos alados enevoando a atmosfera, ideias lúcidas, ao sol, outras, avoejam no escuro, campinas e florestas, abismos que nem o Demônio contemplaria a sangue frio, e altos cumes empedernidos, que os desenganos são altitudes de pedra onde cai a neve. Não chega lá em cima o florir das ilusões. Lá, paira o terror do Vácuo, o mesmo terror que sentiríamos, se nos encontrássemos, de repente, num planeta morto como a lua. (...) [Agostinho] Filósofo, tenta perceber a realidade e separá-la dos seus efeitos ilusórios; poeta, encanta-se na imagem das cousas naturais, que o sábio rasga, para ver o que ela esconde. Mas uma cousa não será qual sucessão de imagens sobrepostas até à última, que é perfeitamente imaginária? Caminhamos sempre, de quimera em quimera, até à Quimera, com letra grande, pois é universal (PASCOAES, 1945, p. 196).» [AQUI, página 86]