São nove "moradias em banda", com pátio nas traseiras, na Travessa do Açougue, que desemboca na Estrada de Benfica, território da antiga Quinta da Granja de Cima. Destinadas aos trabalhadores rurais, foram mais tarde habitadas por operários da Fábrica Simões.
A métrica da simetria mantém-se, na dimensão das portas e janelas, na perpendicularidade das aberturas, e do paralelismo das paredes, tendo por referencial a Travessa que escorre em suave inclinação.
Pela manhã bate-lhe o sol, e se for inverno, de vento ausente, é um consolo; o oposto no verão, de inclemente. Quando a sombra chega há fugaz temperança.
E foi assim, quase sem querer, na passagem de consolo, que olhei para as portas: diferentes umas das outras, qual delas seria a original?
Porta 4 e porta 20, nestas extremidades do segmento da Travessa podemos balizar o tempo e os tempos: a madeira e o alumínio, as meias portas e a porta, os postigos e a bandeira, o repintado, descamado, remendado, e o uniforme, acetinado, novo.
O tempo personalizou a vida que por lá passou: os donos destas portas.
De nove portas iguais fez nove portas diferentes.
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P.S.
Fotografias do dia 28/12/2019, a partir das 08:34. Carros estacionados em frente de portas obrigaram-me a obliquar [nessa circunstância o véu azul da luz matutina revela-se e empalidece a imagem capturada [porta 12], contrariado por mim com recurso a software de tratamento de imagem].