domingo, 28 de janeiro de 2018

NADA[S]_MEU[S]_0002_TUA FOLHA.

Deste por ela no chão da garagem... espalmada.




Radiografando...






O tronco esfoliado, no Jardim Botânico da Ajuda...




A árvore que rejuvenesce da cabeça aos pés.

Sinais.

Ao saíres de manhã dei-te atenção redobrada [chovia], e fiquei a observar-te, não deste por isso, o teu olhar fixo avançava para a estrada. Estava contente, mas estou sempre assim pela manhã.

Mais tarde, as dezenas de números que antecediam a minha senha para o Cartão de Cidadão, deram-me tempo para procurar a leitura e a serenidade de que estava despido. Existiria ainda o espaço da INCM nas Laranjeiras?... deambulei e não. Havia um Pingo Doce por perto, recordei... é isso, os Ensaios da Fundação. Número 8, infinito de pé, acabou por ser o escolhido... as dificuldades do nosso Gustavo, e outras contingências.




O primeiro gesto é sempre a abertura aleatória e o poisar dos olhos na página, à procura... título, parágrafo, imagem, uma ponta de palavra por onde puxar. Ficha técnica, índice, prefácio, no seguimento e em ordem alterável no instinto da ponta que agarrei.

MINÚCIAS foi a ponta, página 35 só para que conste, porque o interesse do número é o seu alcance prático. E segui, por vezes saltitei: interdependência, direito de errar, valor, preferências, factos, evolução, valor intrínseco, egoísmo, egoísmo universal, sentido, distinções, diversidade, felicidades, realidade, a medida de todas as coisas, raciocínio, representação, sonho, ilusão, contingência, realidade necessária, números, hipóteses, partes e todos, Deus, raciocínio, sorte, justificação falível, controlos e ajustes, lógica, argumentação, verdade. Soou o beep, tinha chegado a minha vez.

O regresso sem pressa tem sempre muito préstimo, e foi o que aconteceu. Conjecturei sobre alguém só pelo cheiro que senti, mas continuei a ler, e quando me levantei para sair do Metro confirmei visualmente que estava errado [não é marginal].

No papel que tinha não queria escrever, e para escrever no livro faltava o lápis. No dia em que um livro chega pela primeira vez à minha mão registo a data, local de compra e o valor. Por vezes também uma pequena descrição das razões do meu "encontro" com o livro, ou o que me aconteceu nesse dia. É um vago e disperso registo diarístico. Acabei por escrever nas páginas em branco no final do livro com a minha esferográfica. O assunto ficou resolvido assim:



Mas retomando os sinais, descobri “Como se não existisse nada” na Loja PÚBLICO no Colombo, ou a karandash Edelweiss [não a comprei]: lembrei-me de nós e de ti. Os coentros que detestava e que acabei por gostar de tanto os utilizares, ou o musical [lamechas... estou a ser cruel] que aprendi a apreciar.

Cheguei primeiro a casa. Confessei-te depois que desisti da ideia de ir ter contigo, sem que o esperasses, ao Continente, por causa do trânsito, e assim foi. Pensei em surpreender-te aquando da tua chegada a casa, mas para não te assustar [és assustadiça eu sei] pensei em colocar um papel no chão, com algumas palavras ou bonecos de antecipação. Pensei, confessei, mas não fiz.

Dei pela minha falta quando vi a carta e os chocolates: o derradeiro sinal.



Os sinais confessados casaram com o teu sentimento, e assim ficámos, equivocados, até ao momento em que perguntas, objetivamente, e te respondo: esqueci!... 26 de janeiro de 2001.


Na tua mágoa vejo espelhada a definição de Amor do Christian Millau no seu "Dicionário de um pouco de tudo e qualquer coisa" [degustem este delicioso título]: Substância de origem divina. Uma de suas propriedades é poder dissolver-se na vida quotidiana. AQUI

Posso tentar, mas não quero, atenuantes... mas, dissolvendo amor no nosso quotidiano este fica mais doce. Outra via é procurar maneira de te distrair, para que esqueças o preço do meu perdão... Mestre Sebastião.

domingo, 14 de janeiro de 2018

Alcance prático II.

in "Le jardin des plantes", 1842.
Um exemplar para venda, TENTADOR.

Poinsettia é a legenda da ilustração [belíssima]. A "flor de Nochebuena" que Joel Roberts Poinsett, filho de um médico francês, e primeiro embaixador dos EUA no México, aficionado botânico amador, descobriu no Taxco em 1828. Encantado pela viva cor, enviou alguns exemplares para a sua terra, a Carolina do Sul,  iniciando a sua difusão pelos seus amigos e jardins botânicos.

Floresce por altura do solstício de inverno [pequenos nódulos amarelos], no hemisfério norte é a época natalícia, mas o nome comum em Portugal é "Manhãs de Páscoa", ou aportuguesando, poinsétia. O nome científico é Euphorbia pulcherrima, "a mais bela eufórbia", em latim. As suas folhas vermelhas, que desconhecedores, podemos supor flores, são na verdade brácteas, uma solução evolutiva que permite uma maior eficácia e eficiência, pois «estas folhas modificadas permitem a polinização / reprodução desempenhando a função das flores noutras plantas, sem deixar de ganhar energia através da fotossíntese por serem folhas. Também evitam o consumo de energia associado à formação de flores coloridas e odoríferas mas incapazes de fotossíntese. Isto é possível porque a planta é polinizada por aves e não por insectos. De facto, as aves não são sensíveis a aromas de flores mas são atraídas pela cor vermelha das folhas.» AQUI


Um enternecido obrigado pela foto e esmero na informação.

Chamei-lhe tanganhos, palavra que conheço da terra dos meus pais, numa descrição apressada, ao emaranhado de ramos, que não estão secos, e que suportam as vívidas"flores" da poinsétia. E foi o anzol da palavra que me leva a ler...


O primeiro descompromisso do ano, e sem querer também aconteceu a 5.

a prosa poética da Mariana... as gravuras e o cheiro a tinta mais intenso, de que gosto, as duas coisas andam ligadas, a sentida gramagem do papel no arquear e na suavidade, a leitura do contemporâneo quotidiano, com alguns pontos mais apelativos pela proximidade das experiências, que de uma forma ou de outra acabamos todos por ter, as gravuras que se tentam encaixar e subverter quando não se entendem à primeira. Ainda não terminei.



Um alcance muito prático... suportar melhor os dias.

sábado, 6 de janeiro de 2018

Entre os dois...

Primeiro foi entre ti e mim, tocaste-me com a graciosidade do teu desprendimento [julguei-te outra, sim outra], e estavas certo, afinal não eras um cristo [significado 2]... renovavas-te... e estava tudo tão certo, e eu não o sabia no momento... passeei-me em frente de ti, mirei-te, fotografei-te passavam 18 minutos do início do novo ano.



E fiquei...



As sombras que desabrocham, só dei por elas depois, até poderia ter-te centrado na cruz, mas não estava a ver, estava a sentir, e ainda bem que não te preguei...




Tudo subtileza e elevação... dá vontade de fechar os olhos, projetar o peito para a frente, e os braços para trás, suavemente... e inspirar... quase que se levantam os pés do chão... um alongamento es... não arrisco a palavra... poisando de seguida na expiração [expiação]...

E voltei de dia, tinha de voltar... seria?



Não, era Ele...



E mais forte [contradição?]...




Este meu desapego, que é uma falta [de contradição em contradição]...

Descobri depois que aqueloutro, o que está em frente...



Se revela assim



Não padece na cruz, lança o repto, suporta... é o suportai da mensagem anterior.

Entre o Jesus do Filip Moroder Doss, que se encontra no novo presbitério do Recinto de Oração, e o Jesus da Catherine Greene, que se encontra no interior da Basílica da Santíssima Trindade, há redenção.
«When Greene was tasked with an extremely demanding commission to make a large scale crucifixion work for the new Basílica da Santíssima Trindade at Fatima, Portugal, she felt compelled to avoid the melodrama and tragedy that heretofore dominated the genre. The Basilica is a marvel of contemporary architecture, designed to a grand scale with a colossal interior that seats nine thousand congregants. Greene preferred to depict Christ as the redeemer no longer suffering, a choice that is more fitting within the optimistic grandeur of the location. Rather than hanging painfully on broken arms, Christ appears upright with arms and hands outstretched wide in anticipation of resurrection. Greene’s stylistic approach is close to the manuscript depictions of Christ from the early middle ages when symbolism had not yet been superseded by sublime mimesis. The crucifix lacks the menace of solid form, being made of two bars that simply approximate the shape of the cross. Christ’s body is tensed with vigour and strength and lifted upwards with the possibility of flight. It is a redemptive work that sits well in its very impressive surroundings.» AQUI
Entre os dois há um voo de possibilidades...





P.S. Sendo mais explícito, aqui têm o mapa com a localização dos dois cristos, de frente um do outro, que se contrastam na forma [gestos], na cor, mas, unidos na mensagem, não estão presos à cruz. No início vislumbrei uma figura feminina, obviamente dissonante, mas depois evoluiu para a minha questão acerca da Fé [palavra feminina]. Sou eu que estou entre os dois, sem saber o que fazer... Não me canso de observar a escultura do Filip Moroder Doss, razão pela qual aqui estão seis fotografias dessa obra. Ver de ângulos diferentes e com luz diferente, bem vistas as coisas tudo começou com a luz, foi ela que me capturou, e o que a Carissa Farrell escreveu sobre o cristo da Catherine Greene completou o que me faltava, por isso a citação. Vale a pena atentar no pormenor do mosaico que aparece em duas das fotos. E tudo o que acabei de revelar foi aclarando [construído] ao longo da semana que passou, mas fica sempre a porta aberta a outras interpretações :) O resto foi tudo acasos, como este de hoje: o que fazer com esta anotação feita por mim num livro: otimismo da vontade, pessimismo da razão. Continuo a andar às voltas... e o tempo passa!
Arriscando a palavra: espiritual... alongamento espiritual, um claro contraponto/prolongamento dos alongamentos da coluna que tenho de observar por causa da minha lombar. Explicadinho assim talvez tenha perdido a graça.

O título desta mensagem poderia ter sido:
Entre as duas...