Por sua iniciativa arranjou trabalho e rumou a Lisboa, tinha 17 anos [1955]. Da hora da partida recordava os conselhos da mãe Rosário e o desagrado do pai Américo, mas estava decidido: não via futuro nos negócios da resina, ou do transporte de mercadorias em juntas de bois, por estradas de macadame serpenteando serranias, entre Alferrarede, onde chegava o comboio, e a nossa região [resina, madeira, cera, sal, ferro]. A agricultura era de subsistência.
Chegou com a vontade do poema "Fala do Homem Nascido". Esteve empregado apenas 8 meses, despediu-se e começou a trabalhar por conta própria, subindo na vida a pulso, com aquele instinto para o comércio que tinha observado no seu adorado avó paterno Joaquim Carolino: recordava que este tinha clientes em Proença-a-Nova com os quais só fazia contas uma vez por ano, tudo na palavra: vendia-lhes peixe.
Desenho feito pelo menino Elias, dois dias depois de ter completado 12 anos. Andava na 4.ª Classe. |
Primeiro de bicicleta com cesto, depois de motorizada, já na companhia do seu irmão mais novo José Maria, iam descendo pelo Alentejo, vendendo os queijos que recebiam pelo comboio, pernoitando em pensões: das Minas de São Domingos, em Mértola, seguiam para Vila Real de Santo António, avançando pela costa algarvia, desbravando a geografia com o vigor da juventude.
Começou assim, como tantos outros da nossa freguesia, que foram construindo as suas vidas a par das suas empresas, estabelecendo, sem o saberem, uma rede de comércio atomizada e desconexa, arcaica, que chegou até aos nossos dias, e que a pandemia, nalguns casos, ressaltou: resiliente e capilar, capaz de chegar a onde outras formas não chegam; a nossa esteve sempre a funcionar.
O Elias permaneceu na sua até ao último dia dos seu 82 anos: "vende produtos de qualidade", "só tem um preço", ouvia-se... outros tempos.
Adeus Pai, deixei de ter a quem perguntar.