Mais tarde, as dezenas de números que antecediam a minha senha para o Cartão de Cidadão, deram-me tempo para procurar a leitura e a serenidade de que estava despido. Existiria ainda o espaço da INCM nas Laranjeiras?... deambulei e não. Havia um Pingo Doce por perto, recordei... é isso, os Ensaios da Fundação. Número 8, infinito de pé, acabou por ser o escolhido... as dificuldades do nosso Gustavo, e outras contingências.
O primeiro gesto é sempre a abertura aleatória e o poisar dos olhos na página, à procura... título, parágrafo, imagem, uma ponta de palavra por onde puxar. Ficha técnica, índice, prefácio, no seguimento e em ordem alterável no instinto da ponta que agarrei.
MINÚCIAS foi a ponta, página 35 só para que conste, porque o interesse do número é o seu alcance prático. E segui, por vezes saltitei: interdependência, direito de errar, valor, preferências, factos, evolução, valor intrínseco, egoísmo, egoísmo universal, sentido, distinções, diversidade, felicidades, realidade, a medida de todas as coisas, raciocínio, representação, sonho, ilusão, contingência, realidade necessária, números, hipóteses, partes e todos, Deus, raciocínio, sorte, justificação falível, controlos e ajustes, lógica, argumentação, verdade. Soou o beep, tinha chegado a minha vez.
O regresso sem pressa tem sempre muito préstimo, e foi o que aconteceu. Conjecturei sobre alguém só pelo cheiro que senti, mas continuei a ler, e quando me levantei para sair do Metro confirmei visualmente que estava errado [não é marginal].
No papel que tinha não queria escrever, e para escrever no livro faltava o lápis. No dia em que um livro chega pela primeira vez à minha mão registo a data, local de compra e o valor. Por vezes também uma pequena descrição das razões do meu "encontro" com o livro, ou o que me aconteceu nesse dia. É um vago e disperso registo diarístico. Acabei por escrever nas páginas em branco no final do livro com a minha esferográfica. O assunto ficou resolvido assim:
Mas retomando os sinais, descobri “Como se não existisse nada” na Loja PÚBLICO no Colombo, ou a karandash Edelweiss [não a comprei]: lembrei-me de nós e de ti. Os coentros que detestava e que acabei por gostar de tanto os utilizares, ou o musical [lamechas... estou a ser cruel] que aprendi a apreciar.
Cheguei primeiro a casa. Confessei-te depois que desisti da ideia de ir ter contigo, sem que o esperasses, ao Continente, por causa do trânsito, e assim foi. Pensei em surpreender-te aquando da tua chegada a casa, mas para não te assustar [és assustadiça eu sei] pensei em colocar um papel no chão, com algumas palavras ou bonecos de antecipação. Pensei, confessei, mas não fiz.
Dei pela minha falta quando vi a carta e os chocolates: o derradeiro sinal.
Os sinais confessados casaram com o teu sentimento, e assim ficámos, equivocados, até ao momento em que perguntas, objetivamente, e te respondo: esqueci!... 26 de janeiro de 2001.
Na tua mágoa vejo espelhada a definição de Amor do Christian Millau no seu "Dicionário de um pouco de tudo e qualquer coisa" [degustem este delicioso título]: Substância de origem divina. Uma de suas propriedades é poder dissolver-se na vida quotidiana. AQUI
Posso tentar, mas não quero, atenuantes... mas, dissolvendo amor no nosso quotidiano este fica mais doce. Outra via é procurar maneira de te distrair, para que esqueças o preço do meu perdão... Mestre Sebastião.
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