domingo, 29 de abril de 2018

Primeiras.

As primeiras deste ano para Ti. Assim começou o dia de ontem, e com esta lembrança abro o domingo para Vós [tinha pensado noutra mensagem].


Foi uma maldade colher-te, mas não resisti. Olho para ti em cima da mesa da cozinha, pela manhã troco-te a água [do Vimeiro, porque é muito mineralizada] e espero que aguentes a próxima semana. Chega de maldades por este ano, felizmente a tua árvore está perto, e por lá passo todos os dias. 


Estavas por perto, "alcantilada", assim entre irmãs...


Prunus Serrulata Lindl.
E quando o vento passou balançaste, ASSIM.

Sobre a árvore que dá estas lindas flores escreveu Susana Neves, no artigo «A árvore que foi à guerra», na extinta revista Tempo Livre [junho de 2010] da Fundação Inatel:

«Nesse sentido, existirá uma íntima afinidade entre o guerreiro japonês e as flores de cerejeira, cuja beleza representa a efemeridade da existência. "À nossa volta, o mundo não é mais do que flores de cerejeira", concluía Taigu Ryōkan [POEMS] (1758-1831), sábio monge budista zen, eremita e calígrafo num dos seus conhecidos poemas ("Les 99 Haiku de Ryōkan", Verdier, 1986).
Se as flores da cerejeira simbolizam a fugacidade da vida também é verdade que lembram o seu permanente recomeço por isso até hoje esta árvore que foi "obrigada" a ir à guerra é sobretudo conhecida como um objecto de beleza que não precisa sequer de dar fruto comestível para que os japoneses lhe prestem culto, fazendo férias quando floresce, entregando-se anualmente ao "Hanami", ou seja a contemplação da flor, uma festa nacional que envolve o Japão inteiro ao longo de meses, desde Janeiro a meados de Maio, até todas as árvores florirem.»

Este é o trabalho de etnobotânica que a Susana vem desenvolvendo, uma disciplina que "integra todas as áreas de conhecimento para entender a inteligência das plantas e a sua relação com os homens", conforme nos revela nesta entrevista publicada no Jornal de Letras [9 a 22 de janeiro de 2013, AQUI], onde fala do seu livro “Historias que Fugiram das Árvores – Um arboretum português”, da sua árvore preferida, a paineira-rosa: podemos encontrar uma, que veio da região de Minas Gerais no Brasil, na lateral do Mosteiro dos Jerónimos, AQUI, e que já deve ter flores, ou a referência a este delicioso texto do Alexandre O'Neill, celebrando o Dia da Árvore de 1974:

"Sê atrevido - e levanta, nem que seja só em imaginação, a tua própria árvore, nos sítios mais inesperado. E principalmente que ela atravanque tudo, suspenda a lufa-lufa dos negócios, se oponha, escandalosa, aos frenéticos automobilistas e os obrigue a fazer grandes desvios, para não baterem nela e nela acabarem por apodrecer encaixotados, como pobres mortais que são!"

O gosto pelas árvores acompanha-me à longo tempo, recordo duas em particular: o grande sobreiro no Vale das Barrocas, perto do qual existiam os cortiços com as abelhas; ainda me recordo do avô [paterno] Américo a crestar as colmeias, e de chupar favos com mel; e a cerejeira nas traseiras da casa da avó [materna] Lucina [mana olha o que descobri agora sobre o nome da avó... poético] onde existia um baloiço, e onde recolhia seiva para juntar com água e fazer cola. Ambas foram cortadas, o que me magoou, e nunca faria.

E o que dizer das podas mutilantes e castradoras de que são alvo?... mete dó ver os plátanos assim tratados.

As primeiras deste ano também são para ti, SL.

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Post scriptum



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