domingo, 17 de julho de 2016

Acerca do aprender e do luxo.

Fazer uma correção linear, para sincronizar a legenda de um filme, teve efeitos colaterais inesperados. À luz dos meus olhos se destacou o que está a amarelo. Fui lá parar pela necessidade de escolher um segundo ponto, a isso obriga o linear, e vejo o Merlin a responder o que está marcado a verde.
1522
02:19:33,230 --> 02:19:37,969
Qual é a melhor coisa para a tristeza?
Ensinaste-me uma vez.

1523
02:19:38,407 --> 02:19:41,939
O melhor para a tristeza
é aprender algo.

1524
02:19:42,551 --> 02:19:44,076
Aprender algo?

1525
02:19:44,287 --> 02:19:48,194
É a única coisa
que nunca falha.

T. H. White (Terence Hanbury White) (re)criou as seguintes palavras de Merlin:
«The best thing for being sad," replied Merlyn, beginning to puff and blow, "is to learn something. That is the only thing that never fails. You may grow old and trembling in your anatomies, you may lie awake in the middle of the night listening to the disorder of your veins, you may miss your only love, you may see the world around you devastated by evil lunatics, or know your honour trampled in the sewers of baser minds. There is only one thing for it then — to learn. Learn why the world wags and what wags it. That is the only thing the mind can never exhaust, never alienate, never be tortured by, never fear or distrust, and never dream of regretting.» AQUI
Na tradução para o português:
«A melhor coisa a fazer quando se esta triste - respondeu Merlin, começando a fumar e soltar baforadas - é aprender alguma coisa. Essa é a única coisa que nunca falha. Você pode ficar velho e trêmulo em sua anatomia, pode passar a noite acordado escutando a desordem de sua veias, pode sentir saudade de seu único amor, pode ver o mundo ao seu redor ser devastado por lunáticos malvados  ou saber que a sua honra foi pisoteada no esgoto das mentes baixas. Só há uma coisa  para isso : aprender. Aprender por que o mundo gira e o que o faz girar. Essa  é a única coisa da qual a mente não pode jamais se cansar, nem se alienar,nem se torturar,nem temer ou descrer, e nunca sonhar em se arrepender.» AQUI
E foi assim que parti em busca, e aprendi, que o filme de 1967 se baseia no romance «O Rei que Foi e Um Dia Será» (The Once and Future King), de T. H. White (Terence Hanbury White), que "fixa", porque mais perto de nós, e está na origem do filme de animação «A Espada Era a Lei» da Disney (1963), que ainda hoje continua a fazer parte das «sagas» familiares que se vão perpetuando na partilha do que vem, e do que vai, para a frente que é futuro.

Puxando pelo universo arturiano, na forma escrita, temos "ainda" (como se não fosse o "início") Thomas Malory e a sua «A Morte de Artur». Será que a preocupação de T. H. White, de dar resposta à tristeza, se insinua noutro discurso de Merlin, agora nas palavras de Thomas Malory?

Mas o propósito de tudo isto é só um, para mim é uma evidência: aprender alguma coisa, cada dia que passa, é muito prazeroso. Provavelmente sempre foi assim, as "palavras do Merlin" só vieram reforçar/relembrar. Não sei como é convosco :)

Noutro registo, e en passant literalmente, capto em segundos o que me foi oferecido pelo acaso:
«O luxo é também ter tempo para si sem ser obrigado a viver sob uma pressão contínua.» AQUI
O giro é que se começasse por vos procurar o que é o luxo, provavelmente iriam parar ao peso do que não se tem e se deseja, de tão inacessível de ser caro... ao puro engano! É como os três desejos do génio da lâmpada mágica. Por enquanto só tenho um desejo certo, quando e se encontrar... falar e escrever todas as línguas do universo, os outros dois continuam em aberto.

Mas o Karl Lagerfeld surpreende ainda mais (não tem nada a ver, mas tem: From Karl Lagerfeld to Karl Marx), na banalidade que nos envolve, como sal ou doce em excesso, que literalmente entropeçe o paladar:
«Porque hoje em dia, lamentavelmente, há muita gente sem nada para fazer e os outros, que são demasiado agitados. Então, isso também é um luxo. O luxo é também uma questão de qualidade, o luxo é também uma questão de fineza de espírito. Sabe, podemos fazer uma experiência. Não são apenas as coisas caras, é preciso que sejam bem feitas e que justifiquem o preço e que a qualidade deve ser impecável.»
E como se liga isto tudo (acerca do aprender e do luxo)? Pela fineza de espírito e na qualidade que depositamos naquilo que fazemos. Aprender é a chave de tudo. E aprender envolve tanta coisa. Vago demais?... talvez!... com pressa de terminar e ir até ao mar. FIM.

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Post scriptum:
  • Desde meados de fevereiro que preparei a visita, chegou a hora. Início na próxima sexta-feira, 22 de julho, «The Tall Ships Races Lisboa 2016» (60º Aniversário das «The Tall Ships Races»). A minha folha de escolhas: a verde navios prioritários a visitar, a sublinhado navios com alguma especificidade, a amarelo o significado do nome do navio. AQUI 

A foto é minha e mostra a diferença de tamanho entre o Creoula (menor) e a Sagres.


  • A grande exposição sobre Bosch. The 5th Centenary Exhibition no Museo Nacional del Prado. Já tenho o catálogo, falta a visita. Descobri Bosch através da capa de um LP dos Celtic Frost (Into the Pandemonium). A sua música continua para mim inacessível... AQUI... intragável, mas Bosch continua, e vai perdurar em mim como um misterioso e fantástico devaneio. Talvez o quotidiano estranho pela transformação das mentalidades, a pátina do tempo que acentua e descontextualiza. Mas há mais, por contrapartida do nosso Bosch no Prado (Tentações de Santo Antão), vem até nós o Autorretrato de Dürer, AQUI.

A capa do meu LP que me levou a descobrir Bosch.


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