Arquitetado e concretizado, coube ao tempo dar-lhe o estatuto de livro de culto sobre Lisboa: o "poema gráfico".
«É o que costuma acontecer com os livros de culto – que não são bem o mesmo que livros raros. O livro raro é quase impossível de encontrar, está a um passo de estar perdido, mas pode não valer nada. O livro de culto, pelo contrário, está em todo o lado mas não se lhe pode tocar. Tantaliza. Não pela escassez mas, porque, apesar de estar em todo o lado, insiste em escapar-se.
[...] limitamonos a participar de um processo coletivo e constante de recuperação, um formigar de interesses, de instituições, de eventos, de palestras, de exposições, que alimentam o livro e o mantêm vivo, atualizando o seu significado para novos contextos.
[...] é um livro moderno porque acumula esses sentidos: é um passeio disperso por um espaço urbano pobre, provinciano, rural, que se torna moderno porque dois arquitetos fotógrafos o olharam e registaram esse olhar de maneira moderna, sob a forma de um livro que acarinha o próprio ato de ser folheado.
[...] o índice é a parte mais linear, onde os autores constroem uma narrativa documental quase literária a pretexto de fornecer os dados técnicos e o contexto por trás de cada uma das imagens. É um índice que se lê para um livro que se vê.
[...] Cada fascículo era precedido e acompanhado de notas explicando o processo, o livro, seduzindo os leitores para o processo. Até o material incluído em cada fascículo era selecionado de maneira a que o leitor pudesse ir lendo o livro aos poucos. Ou seja, havia também um modo periódico de o ler, concebido para desaparecer no momento em que os fascículos se tornavam num livro.
[...] Era também um exemplo da economia modernista: a partir de um conjunto limitado de peças, módulos, e da sua disposição engendrava-se um repertório aparentemente ilimitado de leituras, de usos.»
in "Outra vez te releio", Mário Moura. Catálogo da Exposição [páginas 147 a 152].
Alguns dos meus momentos de apropriação. Dúvidas e pensamentos desconexos que estas "legendas" ajudaram a por um pouco de ordem. O lento método de tentativa e erro de um autodidata.
A técnica não é senão o instrumento... Halo de poeira cuprosa assinalando as mãos, foi o que também vi. |
... a simples atitude selectiva e a escolha consequente são já factores que começam por negar o acaso. |
Saída da sala onde podemos ler o texto do José Rodrigues Miguéis, encomendado para a obra, qual friso cronológico... deslumbrante. Texto completo AQUI, de leitura imprescindível. |
Estou a "ler o livro aos poucos", através da reedição da primeira versão do livro em fascículos, que o Jornal Público entretanto lançou. [Reduzida 15% lineares nas dimensões da edição original por decisão contratual da maioria dos Herdeiros dos Autores.]
Montagem minha, a partir da digitalização separada dos fascículos. Por vezes o scanner funciona como uma quase máquina fotográfica. |
"Bato a pala" a tudo isto, e é para voltar.
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