domingo, 6 de março de 2016

O lado sinistro.

Há quem se ache do lado bom, e queira colocar os que não estão, não querem, ou pura e simplesmente não perdem tempo à procura em que lado ficar, a ficar do outro lado, o lado mau.

Há que barricar-se, não se questionar, aceitar, e se me desagradas, tens opinião contrária à minha, então és um provocador, és alvo da minha ira de deusinho, não és gente, e não te esqueças, estás do lado mau, eu estou, eu sou o lado bom, sou superior porque estou no lado bom, e sobem de tom os insultos e as ameaças (é o rançoso respeitinho dos progressistas).

É à luz deste quadro mental que o Henrique Raposo é crucificado pelo seu livro «Alentejo prometido», livro que está perfeitamente enquadrado no contexto da coleção em que foi editado. Passo a transcrever o que está na primeira página de todos os livros desta coleção: A coleção Retratos da Fundação traz aos leitores um olhar próximo sobre a realidade do país. Portugal contado e vivido, narrado por quem o viu - e vê - de perto.

Quem simplifica demasiado, por desonestidade ou incapacidade intelectual, entrega-se ao rancor e à inveja, não presta atenção ao pormenor, divaga, não analisa, apenas reage (não quer mas é... um reacionário :), recusa-se a ler a opinião, supostamente, contrária à sua. Tudo não passa de uma agressão, a que só sabe dar uma resposta: outra agressão.

É o passar pelo Alentejo a caminho do Algarve, o ir à caça ao Alentejo, ter algum conhecido ou familiar alentejano, comer e beber no Alentejo, tudo não passa de vivências experimentadas no correr fútil das suas vidas, o pouco que têm, as privações materiais ou psicológicas que se tentam compensar. Nasci no Alentejo, fui caçar ao Alentejo, fui de férias ao Algarve, e agora este tipo diz que tudo isto não presta!... eu é que sei, eu é que conheço, sei que é bom... badameco.

O Henrique Raposo também é alvo dos velhos ódios ideológicos, que não lhe perdoam. A visão paranóica, literalmente, do velho Alentejo vermelho a ser atacado pelo perigoso fascista. Eles não sabem, mas é um prolongamento anacrónico (porque repisar o passado é não evoluir, e o seu desconhecimento uma tragédia), do confronto entre Sartre e Aron.

O lançamento do livro será a 8 de março (Dia Internacional da Mulher, não é por acaso Maria Francisca), pelas 18h30, na Bertrand Picoas. Presentes o autor, Henrique Raposo, os escritores José Rentes de Carvalho e Bruno Vieira Amaral, e o diretor de publicações da Fundação Francisco Manuel dos Santos, António Araújo. Entrada livre mediante pré-inscrição AQUI.

Vou continuar a leitura do «Alentejo prometido». Encontro, encontro-me com a minha ligação ao Pé da Serra dos meus avós e pais, estamos na Beira Baixa, mas Belver e o Gavião ficam ali ao lado, o Alto Alentejo, o Baixo Alentejo na Brandoa também, alguns pontos de contacto como a desconfiança e o suicídio.

----------------------------------
P.S. Andei a rever o Henrique da revista Atlântico (como era bom a chegada de um novo número, literalmente devorada :) e o das «caipirinhas de Aron», fica a capa deste último.


Esta mensagem era para ser sobre o Umberto Eco, mas a reação violenta ao livro do Henrique Raposo, e à entrevista de 19 de fevereiro (dia da morte de Umberto Eco) AQUI, ditaram esta mudança. Ainda existe apetite por autos de fé... sinistro. Por onde anda a temperança e a tolerância?

Sem comentários:

Enviar um comentário