domingo, 12 de julho de 2015

No rasto da cruz.


É um seguimento de mensagem anterior, e o porquê da escolha das fotos da cruz, com tanto tema de interesse numa visita ao Palácio da Pena. De certa forma foi um acaso premeditado, dei de caras com ela ao ler o meu livro (Monografia do Parque da Pena - Estudo Dendrológico-Florestal de Mário de Azevedo Gomes, 1.ª edição 1960) "torna-viagem" (fica para uma próxima mensagem a explicação deste termo, e a estória a ele associado), enquanto aguardava a entrada no palácio, e que podem ler de seguida (clicar nas duas imagens seguintes e ler o que está marcado a verde):




Provavelmente quando se chega ao palácio não damos por ela, mas está lá, aconteceu comigo no passado, até ao dia em que li, e por acaso estava perto para confirmar. E assim surgiram as fotografias da cruz.

Toda a envolvente sobrecarregada, eclética, não facilita, é o desnorte total, e depois aquela ansiedade de fotografar tudo, acabamos por não ver nada. Com o tempo fui aprendendo, há que desfrutar o lugar e o momento, não ter a pertensão de "ver" tudo, e se um pormenor nos chama a atenção porque não demorar um pouco mais. Tudo fica mais facilitado se pudermos voltar, ou pelo menos ter isso em mente. Se não puder ver tudo hoje voltarei outro dia, hoje tenho uma determinada sensibilidade e ou interesse, amanhã terei outra. Nas palavras do Professor José d'Encarnação a visita fica assim:



Sintra, a sedução e o mistério_José d'Encarnação_Palácio da Pena_P25
Sintra, a sedução e o mistério_José d'Encarnação_Palácio da Pena_P26-27

Em cima do acontecimento, e nos dias imediatamente subsequentes, no deslumbramento, é natural que queiramos saber mais, no meu caso ler e pensar sobre o assunto, estabelecer ligações, e assim se abrem novas janelas. Por exemplo a nota (1) levou-me este sábado ao Cemitério dos Prazeres, e no domingo de manhã a procurar, nos meus postais, livros e fotografias, a Cruz Alta. Eis parte do que encontrei:


A seta vermelha aparece no postal, não sei qual o significado. Observem a cruz gateada (ler texto inicial marcado a verde).


Mosteiro, Palácio e Parque da Pena na Serra de Sintra_Tude de Sousa_1.ª edição 1950_P78-79

Mosteiro, Palácio e Parque da Pena na Serra de Sintra_Tude de Sousa_1.ª edição 1950_P80-81

Roteiro lírico de Sintra_Oliva Guerra_2.ª edição 1967_P26-27


As minha fotos da Cruz Alta, tiradas em agosto de 2009.




Nesta descoberta, o jazigo da Condessa d'Edla, projeto do arquiteto Raul Lino, foi a grande surpresa. Pela originalidade do jazigo em si, não há outro igual no Cemitério dos Prazeres, um pedaço da Serra de Sintra, feito de um amontoado de granitos, ladeados por dois cedros e uma giesta atrás, e no topo a cruz, que foi o meu pretexto da visita. Melhor sorte teve Ferreira de Castro, que na Serra está sepultado; sorte que também gostaria de ter, nu na terra, renascido em árvore, perdido para sempre. Se todos fizessem o mesmo seria complicado arranjar espaço na Serra... uma grande confusão/poluição. Cremação é mais "higiénico", mas tenho as minhas dúvidas. A outra surpresa é o cemitério em si, tem um museu, que ainda não visitei (voltarei certamente), mais acasos em que tropeçei, e uma bela vista sobre o Tejo. Esta primeira visita foi estonteante. Tenho que voltar, ficou tanta coisa para ver e pensar. E como será no inverno? Ontem não foi deprimente.





Falta juntar uma terceira cruz, esta por minha iniciativa e curiosidade. Está na Igreja Matriz de São João das Lampas, concelho de Sintra. Mais tosca e desgastada, revela no entanto a mesma forma entrelaçada, simples e não dupla, e encontra-se numa igreja que tem um pórtico manuelino. Será a mais antiga de todas, e a precursora deste tipo de cruz? Ou será uma cópia saloia (popular) de uma antiga cruz manuelina? Tentei encontrar fotos e ou gravuras antigas da igreja para ver se aparecia a cruz, bem como gravuras do Mosteiro de Nossa Senhora da Pena de Sintra, mas não encontrei... por agora.





Falta por fim olhar para a cruz, a sua forma e o seu significado. São dois pares de cordas/troncos/ramos entrelaçadas, seguras por cravos, dispostos de forma não simétrica, ao sabor das necessidades. Será interessante tentar reproduzir a forma usando cordas, o que ainda não fiz, e tentar perceber as dificuldades na sua concretização e o fluir da forma. Qual o seu significado?... inventando, intuindo: vidas entrelaçadas, as duas faces, dores cravejadas, tudo isto nos mantém de pé... por enquanto (a explicação). Tentem a vossa, e tentem fazer a cruz com cordas.

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P.S.




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