domingo, 24 de agosto de 2014

Um dia de praia...



Viver! - O corpo nu, a saltar, a correr
Numa praia deserta, ou rolando na areia,
Rolando, até ao mar... (que importa o que a alma 
                                                             anseia?)
Isto sim, é viver!

O Paraíso é nosso e está na terra. Nós
É que temos o olhar velado de incerteza;
E julgamos ouvir a voz da Natureza
Ouvindo a nossa voz.

Ilusões! O triunfo, o amor, a poesia...
Não merecem, sequer, um dia à beira-mar
Vivido plenamente, - a sorver, a beijar
O vento e a maresia.

Viver é estar assim, a fronte ao céu erguida,
Os membros livres, as narinas dilatadas;
Com toda a Natureza, em espírito, as mãos dadas
- O resto não é vida.

Que venha, pois, a brisa e me trespasse a pele,
Para melhor poder compreendê-Ia e amá-Ia!
Que a voz do mar me chame e ouvindo a sua fala,
Eu vá e seja dele!

Que o Sol penetre bem na minha carne e a deixe
Queimada para sempre! As ondas, uma a uma,
Rebentem no meu corpo e eu fique, ébrio de espuma,
Contente como um peixe!

Ode Pagã de Carlos Queiroz (1907-1949), do seu livro «Breve Tratado de Não Versificação» (1948).
Poema literalmente sorvido pelos cinco sentidos do autor deste blogue, no contacto com os elementos na Praia das Maçãs. O dia quer-se preenchido assim, "analógico", o "digital" é apenas um complemento, pequeno :) É do primeiro que tudo parte, que fica, que molda... viver a vida, vida vivida. O que temos.

Amigo de Fernando Pessoa, sobrinho de Ofélia Queiroz, co-tradutor de Eminescu... tenham curiosidade!


Tudo isto chega para preencher um bom dia de verão :)

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P.S. Delicioso este mapa :)


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