domingo, 25 de abril de 2021

A imagem perdida...

 O toco entretanto já se dissolveu, mas quando o fotografei fui interpelado por um velhote de sotaque estrangeiro, para lhe mostrar o que tinha acabado de fotografar. Tocamos palavras breves, já não me recordo ao certo, mas adorou, eu também, assim com esta facilidade e exagero, tanto assim que foi parar à parede da cozinha [é um lugar especial porque nele se começa o dia].

Voltei uns tempos mais tarde, mas entretanto mudara a luz, o verde, as rugas do tempo. Depois foi a avaria no disco rígido onde esta foto se encontrava, e o que escapou foi o papel hoje digitalizado, removido da parede, porque as ando a limpar para depois pintar, assim tudo tão prosaico, tão lindo.

O papel vai ficar guardado, religiosamente, assim com esta facilidade e exagero.

Perdida duas vezes, teimosamente reencontrada.

quarta-feira, 21 de abril de 2021

Despojos.

A primavera é a mais fugaz das estações, nela a vida ganha garras, sente-se o prelo da reprodução. É um quarto de tempo fervilhante com todos os inícios. Não há semanas iguais: pare, escute, olhe, cheire, toque. É o abrir do meu Abril [sem maiúscula é um desconsolo].

Foram as únicas que fotografei, numa obstinação: parei, fotografei com pressa, e à falta de luz acresceu a sombra de um edifício que cortou o entardecer. Só dei pelos botões depois [a salvação desta foto foi puramente casual].


Mas não podemos adiar o momento certo, a pulsão, senão...


Vem o tempo seguinte...


O da natureza-morta.


Espreitando um recomeço.

Amanhã é o Dia do Nosso PPA, mas hoje, o meu, quero-o despojado.

sexta-feira, 9 de abril de 2021

Abrindo e espalhando...

em campo estéril


que não se adivinha


que não se quer


que não se sabe


que não vai a lado nenhum


sem fim.

[blow-up]

domingo, 4 de abril de 2021

Atlas.

Mapa 1


Mapa 2

Mapa 3


Mapa 4


Mapa 5


Mapa 6


Mapa 7


Domingo de Páscoa de 2021: descobri, aportei e embrenhei-me, na corrente.

Precisa de nome.


Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver do Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer,
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura...

Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.

“O Guardador de Rebanhos”. In Poemas de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa. [AQUI]