[O único elemento que se movimentou fui eu, ao redor das composições a fotografar.]
Ontem foi o repente, o deslumbramento, o mimetismo da folha no asfalto, acentuado é certo pelos reflexos do chão molhado, as cores a querer-se misturar. Hoje o pretexto foi a visita à estufa dos abacaxis/ananases [é tudo o mesmo, nós portugueses é que criámos esta confusão] nos Jardins do Palácio Nacional de Queluz. E como cresceu desde 7 de julho, mas perdeu as cores lindas.
Um passeio outonal num jardim é sempre um grande risco de dispersão, mas estava mesmo a contar com isso. A chuva apareceu, quantum satis [conheço uma casa em Sintra com esse nome: será de um farmacêutico?], para dar o brilho, e o Sol entremeou com nuvens, modelando a luz: perfeito. E foi assim que foram surgindo as minhas composições, num percurso aleatório pelos meus recantos preferidos. A ordem das fotografias é a da caminhada.
Aqui temos um daqueles repentes [ai que amarelos e verdes]: resolvi colocar em clausura um raminho de Melia azedarach L. nas páginas do livro que levei para ler. Vão ficar lá um mês, e o livro não será aberto. Ficou debaixo do colchão, na zona da minha cabeça. Será que o livro vai ficar tatuado?
No segundo grupo de estufas, à cuja porta fechada se acumulavam esta folhas, encontrei um passarinho prisioneiro [talvez uma elegante alvéola-branca]. Assustado, debatia-se com as incompreensíveis paredes de vidro. Pareceu-me exausto. Consegui improvisar uma forma de bloquear a porta, desloquei-me para o lado oposto, e facilmente encontrou a liberdade. Com esta minha ânsia esqueci-me de o fotografar.
Em cima [visto de lado] e em baixo [visto de cima] apenas mudou a perspectiva, para que conste a diferença [folha e frutos de lódão-bastardo]...
Assim vai caminhando o outono. Prazeroso, tal como deveria ser a minha atual etapa da vida. Se tudo correr bem é tempo de começar a colher alguns frutos [que frutos?], o corpo ainda funciona bem: olhos, dentes, coluna e pernas acusam o tempo e o trabalho; o cabelo e a pele acertam no tempo; a mente pensa sempre que é mais jovem, mas não é! Por dentro as análises dizem que estou antes do tempo, mas certo é o melhor entendimento da vida [que tenho procurado].
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