Este domingo viajou para Viena, voltou a Lisboa, e foi para Nova Iorque. Vai cirandando pela Europa e pelas Américas.
A fotografia foi tirada por Kiskockas a 28 de julho de 2017, no Aeroporto Internacional de Viena [Vienna Schwechat - VIE]. Mais fotografias AQUI.
"A biografia mais conhecida e, provavelmente a mais vendida", de Fernão de Magalhães, foi escrita pelo vienense Stefan Zweig. "Um caso único de tradução (directa) no mesmo ano da sua publicação original (1938) na editora vienense Reichner, e no mesmo ano da passagem de Zweig por Lisboa." AQUI
8.ª edição de 1956. Aparada, provavelmente para obviar o trabalho de abrir uma a uma as muitas páginas fechadas [casadas] do livro, decorrentes do seu processo de fabrico [redução de custos?]. O livro tem uma nova tradução, e novo título, que respeita o original. |
"A subtil influência que deu origem a este livro" [palavras suas na Introdução à obra] ocorreu a bordo do navio que o levava à América do Sul.
Stefan Zweig cruzando o Atlântico na sua primeira viagem ao Brasil, em 1936. AQUI |
"Lembra-te tu, ó impaciente, lembra-te tu, ó insaciável, como tudo se passava antigamente! Compara por momentos esta viagem com as de outrora, sobretudo pensa naqueles aventureiros que descobriram estes mares portentosos, que descobriram o mundo para nós – e envergonha-te." [página 15, na Introdução]
Da direita para a esquerda: Stefan Zweig, João António Mascarenhas Júdice [4.º visconde de Lagoa e historiador, que o ajudou na preparação do livro] e Américo Fraga Lamares [editor da Livraria Civilização], na sua passagem por Lisboa em 1938. AQUI |
Em 1938 Stefan Zweig esteve hospedado durante três semanas no Hotel Atlântico, no Monte Estoril. "Aproveitou a estadia para tentar convencer os governantes portugueses a usarem parte de Angola para a criação de um Estado judaico." AQUI
O meu pai tinha-me falado vagamente sobre o assunto, e fiquei surpreso ao encontrar esta informação, mais ainda por envolver Stefan Zweig. Averiguei e encontrei a resposta [AQUI, página 10]:
O seu biógrafo brasileiro Alberto Dines, que o conheceu e conviveu com ele, defende na biografia Morte no Paraíso (Dines 2005 na 1ª edição portuguesa, o original brasileiro é de 1981, 3ª ed. brasileira 2002) que Zweig tinha querido sondar junto de Salazar as possibilidades de Angola vir a acolher os judeus fugidos a Hitler, mas o ditador não o recebeu, apesar da mediação da comunidade judaica. Acrescente-se, porém, que Zweig tinha outros contactos com figuras do regime que o ajudaram na passagem da sua primeira mulher Friderike von Winternitz por Portugal a caminho do exílio americano.
"Da estância estância balnear do Estoril, Zweig escreveu duas cartas aos seus amigos Joseph Roth e a Siegmund Freud, convidando-os para passarem um «intermezzo meridional» nesse «local tranquilo da Riviera» portuguesa." AQUI
Stefan Zweig cresceu na "cultura de café vienense", que vem desde o final do século XIX, e chega até aos nossos dias com a sua inclusão, em 2011 [no mesmo ano do Fado], na Lista do Património Imaterial da Humanidade [UNESCO]. Neles se aprende o "Vive e deixa viver".
"Para compreender isto é preciso saber que o café vienense era uma instituição de características únicas, não havendo no mundo nada que se lhe possa comparar. Trata-se, na realidade, de uma espécie de clube democrático, acessível a qualquer um pelo módico preço de uma chávena de café, e onde o cliente, em troca deste pequeno óbolo, pode ficar sentado horas seguidas, discutindo, escrevendo, jogando às cartas, recebendo a sua correspondência e, sobretudo, consumindo um número incontável de jornais e revistas. Em qualquer bom café vienense estavam disponíveis todos os jornais da cidade, mas não só, também os de todo o Império alemão, juntamente com os franceses, os ingleses, os italianos e os americanos, além de um conjunto de importantes revistas literárias e artísticas de todo o mundo"
in "O Mundo de Ontem", Stefan Zweig, Assírio & Alvim, 2.ª edição, reimpressa em agosto de 2015, página 61.
No final da II Guerra Mundial, Stefan Zweig foi um dos que sucumbiu, quando parecia que o nazismo estava para ficar, vieram para Portugal, entre 1947 e 1958, mais de 5500 crianças austríacas. A região do Médio Tejo acolheu 100 crianças, assim distribuídas: 26 em Abrantes, 21 em Ourém, 15 em Torres Novas, 11 em Tomar, 9 em Mação, 9 na Sertã, 4 em Vila de Rei e 1 em Ferreira do Zêzere. O meu pai ainda se recorda de as ver em Cardigos, eram crianças como ele. No recente Nº 31 da revista Zahara encontra-se um artigo sobre as crianças que vieram para Mação [ainda não consegui a revista]. Entretanto a doutoranda Ana Regina Pinho prossegue o seu trabalho sobre estas crianças [AQUI]. Em 2005 foi publicado um livro com testemunhos destas crianças [vem a caminho].
Imagem retirada daqui. |
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Post scriptum
- Stefan Zweig: um homem de ontem?;
- Stefan Zweig. O escritor impaciente;
- Conversações entre Stefan Zweig e Sigmund Freud : um olhar sobre suas correspondências;
- É preciso reler Zweig! [quarto parágrafo, citação];
- Infâmia premonitória;
- Depois da guerra, o paraíso era Portugal;
- Exposição das crianças Austríacas em Beja [ouvir a reportagem].
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