Terá visto o artesão algum exemplar dos famosos relógios de sol em marfim de Nuremberg, ou "ecos" destes em objetos mais recentes?
Papel de parede para a sua área de trabalho. |
Belos, sofisticados e caros, preparados para o mundo global (Lisabona, entre outras cidades do comércio mundial) e as elites, são o contraponto dos seus: naïfs, simples, baratos, preparados para o mundo local, para o povo. Será que o João da Silva leu algum livro sobre a construção de relógios de sol?... ou comprou algum exemplar asturiano e depois o adaptou (ou o inverso)?
As "medianas" vendiam-se nas feiras, baratas e fiáveis, no entanto poucos exemplares sobreviveram (o Museu de Etnologia não têm nenhuma exposta). Curiosamente o exemplar de Oxford foi comprado em Espanha em 1900, o que indicia que este tipo de relógio não só foi popular em Portugal, como "passou" a fronteira (ou teria sido o inverso?).
A primeira vez que tive conhecimento deste tipo de relógio foi nos anos 80, em conversa com a minha avó Maria do Rosário, tentei mesmo construir uma "mediana" com base no seu relato, pois o objeto já não existia. Bastante mais tarde, 2010 creio, comprei uma "mediana" feita por um artesão de Aboboreira (concelho de Mação, onde começava a antiga província da Beira Baixa).
Passou o tempo, e a memória reacendeu em 2013, quando em conversa com o Amilcar (Vila de Rei) descobri que tinha uma "mediana". Pela primeira vez pude ver, manusear, fotografar, o objeto de que me falara a minha avó, e descobrir que tinha o nome do fabricante: João da Silva. Foi apartir daqui que a minha busca foi relançada.
Primeiro na Internet, depois na biblioteca do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (2013), mas infelizmente não consegui obter nenhuma informação sobre a marca "João da Silva". Consultei os 9 Boletins da Propriedade Industrial disponíveis, referentes aos anos de 1885 a 1900 (escolhi este limite superior pois na "mediana" de Oxford referem que foi comprada em 1900).
Pesquisando, descobri que foi em 1883 que foi introduzido o registo de "marcas de fabrica e de commercio"(página 192); será que o "João da Silva" se encontra neste "espaço" (1883-1884)? Onde procurar estes anos? Será que "deixei escapar" o "João da Silva" na pesquisa que fiz? Foram cerca de duas horas a vasculhar os 9 volumes, com cerca de 200 a 300 páginas cada, mas só consultava a parte referente ao registo de marcas, e alguns volumes tinham um índice geral (3 ou 4 volumes), o que facilitava muito a pesquisa.
A funcionária que me recebeu sugeriu-me que consultasse a Inspeção-Geral das Atividades Culturais (IGAC) e a Sociedade Portuguesa de Autores (SPA). Fiz a primeira abordagem na Internet, e só a segunda me parece ter alguma viabilidade, tanto mais que na "mediana" aparece destacada a palavra AUTOR.
O trabalho "físico" de pesquisa encontra-se parado (2014), por motivos pessoais e profissionais, no entanto tenciono regressar à biblioteca do Instituto Nacional da Propriedade Industrial. Entretanto as buscas na Internet continuam (OLX, Coisas, eBay, Oportunity Leilões, Todocoleccion), e lentamente mais "medianas" João da Silva,
e outras, vão aparecendo...
As fotos anteriores estão agrupadas aos pares, que correspondem à mesma "mediana", aberta e fechada. O nome do ficheiro da foto, por exemplo,
M_JS_Macedo_de_Cavaleiros_1909_70x50x00_200_aberta.jpg
também tem informação relevante:
M_ - "mediana", igual para todos os ficheiros;
JS_ - "mediana" João da Silva;
Macedo_de_Cavaleiros_1909_ - local e ano de origem, ou local onde se encontra atualmente;
70x50x00_ - medidas em mm (comprimento x largura x altura, 00 quando a medida não é conhecida);
200_ - valor em euros (pela qual foi transacionada, ou pedido pelo vendedor);
aberta - foto da "mediana" aberta.
Ainda tenho muito trabalho pela frente:
- Encontrar o registo da marca "João da Silva (I. S.), e tentar descobrir / inferir dados biográficos do autor João da Silva;
- Foi uma ideia original sua? Copiou, foi copiado, adaptou, recriou;
- Qual a evolução no fabrico da "mediana", elementos decorativos, porque estruturalmente, quer em termos de materiais utilizados (madeira de choupo?, fio vermelho do gnómon, fechos de latão, cobre?, bússola), e dimensões, são relativamente constantes. Existiu mais do que uma "linha" (maior ou menor qualidade na ornamentação, com preços diferenciados) de "medianas" em simultâneo?
- Estabelecer uma sequência cronológica dos exemplares conhecidos, com base na análise comparativa dos desenhos e datas conhecidas (1900 e 1909);
- Qual o período temporal de fabrico e comercialização.
----------------------------------
P.S. Relógios de sol;
Os relógios de sol e a matemática;
Oficina de relógios de sol (ciência, arte e história para os mais novos. Uma sugestão para o URSO :);
A primeira notícia em português sobre a utilização de um relógio portátil.
Olá, gosto muito do assunto, tenho um relógio igual aos que estão ilustrados era do meu avô
ResponderEliminarOLA, TEM INTRESSE NA COMPRA DE UM RELÓGIO DESTES?
ResponderEliminar