“Ao ir-me afundando no cepticismo racional, por um lado, e, por outro, no desespero sentimental, incendiou-se-me a fome de Deus, e o sufoco do espírito fez-me sentir, com a sua falta, a sua realidade. E quis que haja Deus, que exista Deus. E Deus não existe mas antes sobreexiste e está sustentando a nossa existência existindo-nos.”
Miguel de Unamuno, citado por Guilherme d’Oliveira Martins, nesta iluminada invocação do escritor, mestre e amigo António Alçada Baptista. Mas onde a encontrou?
E foi ao procurar esclarecer uma dúvida, sobre livros do António Alçada Baptista, que revejo o meu desespero nas palavras de Unamuno, na condição da minha existência atual, e numa possível caminhada a Santiago de Compostela: será que o herege Prisciliano usurpou o lugar de São Tiago?
Dilecto [Prisciliano] sobretudo porque, nada ou quase nada se conhecendo a seu respeito, posso imaginar para ele e lho atribuir tudo quanto a mim me apeteceria ser e proclamar.
Afirmaria Agostinho da Silva, mas também, passo a citar: Quando interrogado sobre a temática dos seus graus académicos, Agostinho da Silva respondia invariavelmente ser licenciado em liberdade e doutorado em raiva. Estes são precisamente dois dos termos fundamentais da sua antropologia, que estão na base da sua visão do homem e do mundo: a liberdade, «a liberdade de se ser, plenamente, aquilo que se é» e a raiva, ou seja, a indignação, a bravura, a fúria, o assanho de construir um mundo melhor, pois para ele a sua noção de cultura era tão somente a de «tornar melhor a vida das pessoas.»
Liberdade e raiva, junto mais estas duas palavras ao meu alforge. Começo os dias a pedir, "também tens que querer crer", relembram-me... acompanha-me a pequenina luz bruxuleante, a esperança do fôlego diário, e como faz a diferença, quando se está no fio, confia!