domingo, 29 de janeiro de 2017

Descompromisso.

No início de um novo ciclo existe sempre aquela manifesta vontade de mudar qualquer coisa, para que conste, talvez tentando aliviar carga passada e angariar alento [para o] futuro (retirar parêntesis retos e ficar "para o" é o desejável, porque senão não existe vontade, e estaremos perante a capitulação).

O meu problema de espaço e tempo levou-me a formular um compromisso para 2017: estabelecer uma cota mensal de 1 por mês.

Fui logo posto à prova no dia 4 de janeiro, quando vejo [leio] no escaparate da Isabel o seguinte verso:





























































Para mim é inata esta noção de habitação, e a palavra casa é que é sinónimo de toca :) A minha "mesinha de apoio" (fica na estante) também existe :) E para complicar mais as coisas o conteúdo prometia, no texto e nas imagens [novas leituras, quase proféticas para mim]:












































O texto do Miguel Esteves Cardosos AQUI, que não conhecia, "pregado" na parede, como acontece comigo com outros textos ou imagens. Copiado e colado aqui fica:

«É bom fingir que se está a fugir, que não se pode ficar em casa nem ir a lugares previsíveis, onde se pode ser apanhado.

Ir ao cinema é sempre uma fuga. É pena não haver escuridão total. Mas há horários em que se consegue estar sozinho a ver um filme.

Há lugares perto de onde vivemos - ou, melhor ainda, longe - aonde nunca fomos. É bom ser-se turista numa terra que ninguém visita.

É bom saber que ninguém nos pode localizar. Localizar está para a liberdade como conservar para as sardinhas.

Os fugitivos são, por definição - e não só nos filmes de Nicholas Ray - felizes. Fugir é bom. As responsabilidades, de que toda a gente está sempre a falar, são más para nós. Nem sequer são boas para os outros.

Fugir sem ter razão para fugir é um acto libertador de cobardia criativa. O medo é, tal como a preguiça e todas as espécies (sem distinção) de egoísmo, uma manifestação da mais elevada inteligência.

"Fica-te", dizem os escravos que absorveram os interesses dos esclavagistas. "Deixa-te ficar; contenta-te com o que tens; enfrenta aquilo que tens para enfrentar", aconselham os carrascos já derrotados da liberdade.

Os escravos verdadeiros fugiam mesmo quando corriam o risco de morrer. Que se há-de dizer dos escravos figurativos de hoje em dia que, quando fogem, só correm o risco de viver?

Desliguem-se os telemóveis. Mudem-se as coordenadas. Confundam-se as tentativas de contacto. Fugir é cada vez mais difícil mas é cada vez mais necessário.

Fujamos já!»

Em casa ou no trabalho existe sempre um mural, limitado e que se vai mutando [desculpa-te]. Faz parte do local de vivência.

"Resistindo", só no dia seguinte cortei o impasse, janeiro ficaria já "gasto", e a pretexto de já lá não estar na próxima semana, comprei.

Perante o que me estava a acontecer, na "ficha de registro bibliográfico", que por norma costumo acrescentar a lápis 3B ou 6B, numa das primeiras páginas livres interiores, escrevi o seguinte:



Estava formulado o descompromisso.

A terminar, e para que conste, a palavra não existe no dicionário, e como exercício de imaginação aproxima-se da ignorância, como incompromisso.

in continuum

Na lista de janeiro constam os seguintes títulos, por ordem cronológica de surgimento:

1. Paul Celan, na tradução de João Barrento, mas por onde começar? Certo que alguma prosa sobre o seu percurso iria ajudar, e ISTO baralhou mais um pouco (porque é o único que está disponível nas livrarias). Por indicação de uma pessoa que não conheço mas que me encantou;

2. The Wonderful World of Albert Kahn AQUI. Depois de ver um programa na TV;

3. A Vida e Opiniões de Tristram Shandy AQUI. Depois de ler no jornal. Na livraria mais próxima não tinham para eu poder sentir a primeira impressão [é uma cadeia de impressões, da física à mental]. Li mais sobre AQUI, mas falta o principal;

4. Melancolia e Arquitectura em Aldo Rossi AQUI. Depois de passear pela livraria e encontrar, sem estar à procura. Melancolia é palavra mágica, e o ano tinha começado sob a batuta da arquitetura. Este texto tentou-me na certeza de que era a escolha certa;

5. Cartas de amor de Anna Conover e Mollie Bidwell para José Maria Eça de Queiroz cônsul de Portugal em Havana (1873-1874) AQUI. Já não está no alfarrabista para venda. Mas «A este mistério, juntam-se mais dois: no espólio existe uma fotografia de uma das duas. Será de Mollie, se aceitarmos a tese avançada pelo filho do escritor quando se refere à existência de "um lindo e doce retrato"? Ou será de Anna se levarmos em linha de conta que ela lhe prometeu enviar uma? E, mistério dos mistérios, como é que foi possível estas cartas chegarem até aos nossos dias?» AQUI.

E tudo isto acontece porque me "cruzei" com uma pessoa, vi um programa na televisão, li num jornal, passeei numa livraria, consultei a lista de um alfarrabista, e a algum de vós irei agradecer, se me ajudar na escolha :)

domingo, 15 de janeiro de 2017

Vender peixe.

Por vezes uma imagem momentânea puxa outras que se encontram no arquivo da memória. Foi o que me aconteceu no passado domingo (8 de janeiro), enquanto assistia ao programa «O Mundo Maravilhoso de Albert Kahn» na RTP2.

A imagem de duas mulheres que vendem peixe em Galway, na Irlanda, autocromo tirado por Marguerite Mespoulet a 26 de maio de 1913, rapidamente me transportou para uma outra imagem.


Foto retirada DAQUI.


Esta, que vi e fotografei na exposição "Uma História de Duas Cidades - Lisboa e Edimburgo". Aqui o que me chamou a atenção foi o enorme cesto e o que está escrito na legenda: a "manutenção da família depende da indústria da esposa".





E daqui rapidamente pensei n'«As Mulheres do Meu País» de Maria Lamas e nas varinas saíndo para a venda, fotografadas pelo Joshua Benoliel em 1909 na Ribeira Nova, em Lisboa.


Foto retirada DAQUI.

Mas Stuart Carvalhais, casado com uma varina, fato de que só tive consciência no passado dia 3 de dezembro, na Casa Roque Gameiro (saborosas e improváveis colateralidades, mas que acontecem, como a de ontem, ao descobrir Paul Celan, ou a palavra appartema[e]nts com erro ortográfico, também no mesmo local) captou-lhes a essência no traço, da mesma forma que, num outro olhar, mais próximo do que Mário Eloy pintou,  Cesário escreveu n' «O Sentimento dum Ocidental»:

E num cardume negro, hercúleas, galhofeiras,
Correndo com firmeza, assomam as varinas.

    Vêm sacudindo as ancas opulentas!
Seus troncos varonis recordam-me pilastras;

As varinas do Stuart são elegantes e irreverentes, próximas da descrição que acompanha a fotorreportagem de Benoliel sobre as mesmas na Illustração Portugueza de 19 de agosto de 1912, n.º 339, AQUI:
Teem um ar elegante, o seio bem formado, lembram por vezes estatuas quando, de braços ao ar, erguem a canastra, olhando para os andares, e quando se vê passar as que são assim esculturaes e belas, pensa-se que andam pagando algum pecado feito por uma das suas formosas avós, que fôsse condenada a ter uma descendencia de belezas rudemente destinadas a andarem ajoujadas debaixo da giga, correndo as cidades, cantando pregões.



- Oh! Die Varine!


A VARINA E O POLÍCIA DA COBRANÇA

- Ó vira-me as costas!

- Que lindo exemplar de raça fenícia!

- Fenícia era a sua avó!

- Venha abaixo!


Descia a Rua Morais Soares, perto do Mercado de Arroios, quando de repente uma varina, bonita,  choca contra si, espalhando o peixe no chão e aplicando-lhe de seguida uma bofetada, prontamente retribuída com outra, por parte de quem tinha recebido a primeira. Troca exaltada de palavras, os transeuntes que se aproximam e tomam partido: o "menino" não teve culpa. O polícia que passa e a intima: vamos para a esquadra, já estou farto de a avisar para não fazer o mesmo.

Era assim, tentando de uma só vez vender o peixe que restava, ou que não conseguira vender, simulando o acidente/atrevimento provocado pela incauta vítima, e que obviamente iria pagar a "fatura", atordoado com a respetiva bofetada. Dessa vez não "colou".

O "menino" desta estória é o meu pai, tinha 21 anos quando isto aconteceu em 1959.

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P.S. As ilustrações do Stuart que aparecem nesta página foram escolhidas, digitalizadas, e tratadas por mim no computador, do livro «STUART - ORGANIZAÇÃO, SELECÇÃO E ARRANJO GRÁFICO DE NELSON DE BARROS; PREFÁCIO DE LEITÃO DE BARROS». Ficha bibliográfica AQUI.

Irmã e primos, ao lerem esta mensagem recordem-se que o negócio de vender peixe também passou pela família, o nosso bisavô Joaquim da Silva. Também o meu avô Joaquim Lameiras vendeu peixe.

domingo, 8 de janeiro de 2017

Procurei Zeus.

Não propriamente, mas o navio que levou Manuel Teixeira Gomes ao exílio. Penso que é este:




Não foi difícil, não foi direto, não foi por onde pensei que iria encontrar, tudo contabilizado perfaz cerca de um quarto de hora. A ponta que encontrei foi ESTA, depois puxei ESTA, que não deu em nada, mas com um pequeno truque encontrei o que procurava, AQUI.

"O embarque fêz-se na doca dos submersíveis, na manhã de 17 de Dezembro [1925], para bordo do navio de carga holandês «Zeus», o primeiro que tocava em Lisboa com destino ao norte de África após a renúncia de Teixeira Gomes [a 10 de dezembro de 1925]. [...] Ao largo, o «Zeus» aguardava o seu único passageiro." (in O Exilado de Bougie, 200-201, de Norberto Lopes, Lisboa 1942, Parceria António Maria Pereira).

O navio dispunha de acomodações para 3 passageiros, mais 27 passageiros no convés. Terminaria os seus dias com outro nome, Boudjmel (camelo em arábico).

"[...] A embarcação afastou-se e não tardou a desaparecer na bruma do Tejo [retórica?]. O barco partiu. E êle não voltou." (in O Exilado de Bougie, 201)

"[...] e supersticioso como um livre-pensador, augurei muito bem de uma viagem começada sob a égide do Rei do Olimpo. (in O Exilado de Bougie, 208)

Setúbal, Tânger, Gibraltar e Oran, onde desembarcou.

Tlémcen, Taza, Fez, Mequinez, Argel... "E pôs-se a viajar, «sòzinho», como êle gostava, «sem um plano definido de viagem, nem itinerário certo», perdendo-se por entre as multidões que não reparavam nêle ― suprema felicidade." (in O Exilado de Bougie, 207-208)

Tunísia (cinco semanas), Nápoles (sete semanas), Florença (quatro meses e meio, "amável e amorosa [...] da qual não vejo modo, nem tenho vontade de sair."), Pisa, Tunis (seis meses). Paris (cinco meses?), Argel (um ano), Tunis (mais de um ano), Bône (Argélia). França (primavera/verão de 1931), Bône e finalmente Bougie (5 de setembro de 1931).

Deambulando entre 1925 e 1931, seis anos se passaram até chegar ao seu destino final, Bougie, "espécie de Sintra à beira de água, porém muito mais acidentada e rica em passeios aprazíveis e perspectivas raras. Então o panorama que se disfruta da janela do meu quarto é estupendo e não recordo qualquer outro que o supere.", escreveria em 1932. (in O Exilado de Bougie, 281-282)

Aí permaneceria até ao fim da sua vida, a 18 de outubro de 1941. O navio que o transportou para o exílio seria afundado em Oran a 9 de novembro de 1942. Os seus restos mortais foram transladados para Portugal (Portimão) a 18 de dezembro de 1950.

O seu itinerário sentimental passou pelas mulheres, escreveria em 1932: "[...] no norte de África a mistura de raças, italiana, espanhola, malteza, dá tipos curiosíssimos a a-miúde fascinadores. Ajuntem-se-lhes algumas judias, e uma ou outra russa de estranho aspecto (que também por aqui giram) e terá a composição da turba que diàriamente acode ao meu terraço. [...] São freqüentes aqui os olhos castanhos italianos, que se parecem com os das portuguesas, e também os olhos de andaluza, muito grandes e muito negros, sem pupilas, como duas nozes de carvão vidradro. Entre as russas há uma que me inspira particular interêsse e sigo-a para lhe ouvir a voz que sôa com uma toada de canto profundamente sentido. Tem o sotaque minhoto, (o russo, com efeito a [à] distância, recorda as ressonâncias da nossa língua) porém mais vibrante na sua lânguida ecoada e por vezes com o murmúrio de um fio de água de fonte que se espraia, desfalece e morre, num espaço livre e sonoro». (in O Exilado de Bougie, 282)

As suas Novelas Eróticas certamente misturam as recordações, em final de vida e no exílio, do seu itinerário sentimental, as suas experiências recriadas que o consolam. Desse seu percurso, e mais uma vez recorrendo ao livro de Norberto Lopes (páginas 60 a 62), passo a transcrever (cada parágrafo é parte do mesmo corpo de texto, que destaco para melhor evidenciar as mulheres da sua vida):

"Aos 23 anos, ama desesperadamente, em Sevilha, - amor casto - uma menina que os pais não consentiram em dar-lhe para mulher. Foi êste o grande amor da sua vida."

"Em Anvers, «novo, forte, petulante», enamora-se pelos sentidos duma flamenga exuberante, com sangue espanhol nas veias e os olhos dum profundo azul nocturno, que o «prendeu de corpo e alma»."

"Em Amesterdão foge com uma rapariga de quinze anos, mas com o desenvolvimento de mulher feita, lançando-se numa aventura deplorável a que pôs termo o pai da rapariga, arrancando-lha dos braços quási pela violência."

"Em Cordova sente um desejo louco por uma cigana ardente que lhe leu a buena-dicha e nunca mais voltou a ver, depois duma noite abrasante de amor."

"Em Florença apaixona-se por uma jovem argentina de carnação mimosa, de imensos olhos de veludo, de opulento cabelo negro, ondeado e macio, com quem trocou apenas um beijo apressado e sôfrego, «um dêsses beijos que valem por mil promessas formais de casamento»."

"Em Génova entrevê uma hora de amor deliciosa com uma bailarina de braços frágeis e olhos garços que conhecera a bordo e lhe marca um encontro para Turim."

"Em Siracusa possui quási pela fôrça, num minuto desvairado de luxúria, uma espécie de deusa oriental, visão deslumbrante, criatura de lenda arrancada a uma página heróica dos «Nibelungos»."

"Ainda em Amesterdão deixa-se prender pelos encantos duma «loira de vinte e cinco anos com grandes olhos azuis e melancólicos e a carnação imaculada das raças do Norte», que friamente premeditara a sua conquista com fins interesseiros."

"Camila, Júlia, Margareta, Cristina, Cordélia, Leonor... tôdas elas lhe fizeram mais tarde doce companhia nas horas longas e tristes do exílio. Razão tinha aquêle companheiro de viagem que lhe disera um dia:
      «― O senhor viaja e deve ser feliz. Com impressões e reminiscências de viagem não há solidão nem degrêdo completos, mas uma perpértua iluminação da alma e da inteligência por evocações contínuas... Assim se prolonga a mocidade...»"

Manuel Teixeira Gomes era um deslumbrado com o belo, também nos objetos que o rodeavam, e que colecionava, como os frascos de rapé que se encontram no Museu do Oriente.



De minha predileção, este foi o meu papel de parede no computador durante meses, feito por mim, a partir de foto minha tirada no Museu do Oriente a 22 de março de 2015.

Publicaram-se recentemente dois novos trabalhos sobre a sua vida, e que ainda não tenho, a saber: Manuel Teixeira Gomes numa sublime cruzada em busca do belo” e "Manuel Teixeira Gomes - Biografia" (boas sugestões para celebrar a quinquagésima volta ao Sol :), mas só agora chega aos cinemas o primeiro FILME sobre a sua vida, que ainda não vi.

A expetativa é grande, tanto mais que não era para iniciar o novo ano com esta mensagem, mas o apelo do Manuel Teixeira Gomes foi mais forte, e quando releio:

"Eu não devia, por coisa alguma, ter renunciado às minhas viagens, que me davam uma espécie de finalidade, e constituiam o elemento capital da minha ventura. Um dom particular me dispusera para ser «viajante»; a faculdade da rápida adaptação. Nunca «estranhei a cama», motivo de terror para todos os sedentários, e ainda menos estranhei a comida; e se, nos pratos chamados nacionais, algumas vezes o paladar se me fazia recalcitrante, bastava insistir para que êle, convencido, desse razão a quem os tem na conta de excelentes pitéus. Depois, o isolamento não me assusta. Dizia o Villiers de l'Isle Adam: «Poucos são dignos da solidão». Estou persuadido que sou dêsses poucos. Espírito feito, não para actor, mas para espectador, a vida para mim, nas suas mínimas manifestações, nas suas bagatelas, é ainda um espectáculo atraente e a-miúde encantador. Para a minha curiosidade, constantemente àlerta, o espectáculo da vida é um constante recomeçar, sempre com a frescura do inédito, desdobrando-se em casos, que se podem assemelhar, mas nunca se repetem exactamente. Onde os outros só vêem monotonia, eu, sem esfôrço, discrimino a diversidade, e, se os sentidos acusam fadiga, basta-me atender aos arabescos, que se me desenham na alma, para encontrar outro objecto de divertimento e prazer". (in O Exilado de Bougie, 57-58)

... fico em "pranto", porque sinto e entendo profundamente o Manuel.

As minhas leituras, os meus livros, são pessoas ausentes, literalmente falando, mas que marcam presença enquanto eu viver. É o Sebastião da Gama, o Wenceslau de Morais, o Armando Martins Janeira, o Stuart Carvalhais, o Agostinho da Silva, o Manuel Teixeira Gomes, e todos eles vivem no meu âmago, e outros mais que descobrirei, mas estes são os primeiros, porque os encontrei assim, no meu acaso.

[...]
Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olhou-o com o desconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, e eu deixarei versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, e os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
[...]
Tabacaria (excerto), completo AQUI.

As gárgulas e as Capelas Imperfeitas, ou Inacabadas?, da Batalha, São Torpes que é Saint-Tropez em francês, a iconografia de Amêndoa, o dragão-fonte de Klagenfurt, ou a melancolia de Helena Roque Gameiro, têm de esperar. O sufoco rotineiro que me consome, literalmente... e como eu te entendo Manuel!

Reencontrei Zeus.

in memoriam


O Presidente de Júlio Pomar, AQUI.

Só recentemente (outubro/novembro de 2016) acerquei o Júlio Pomar, e em particular este retrato que me desagradava deixou de o ser. O ensaio/prefácio do João Lobo Antunes sobre ele foi decisivo, bem como uma visita ao Atelier-Museu Júlio Pomar, não tanto pelas obras expostas, mas pelo que fui descobrindo depois.

Uma certa bonomia facial e a grande mão nubular enfrentam outra mão, esquerda, esquiva no espaço que resta, acusatória. Marinho, Marocas, Malandro, tanto faz - pouco importa, é Mário Soares que nos deixa na democracia e na Europa.

Em Nafarros lhe apertei a mão, à entrada da mercearia do Baeta, teria eu 10 a 12 anos (finais dos anos 70). Roupa clara, de camisa e calções, recordação talvez inexata. Bem disposto e com muito à vontade prontamente nos cumprimentou. O meu pai estava comigo, e comentaria depois que o achava pequeno na televisão, e que não era (o meu pai tem 1,70m).

Mário Soares deixou-nos e deixou-nos tudo (Miguel Esteves Cardoso, AQUI; english translation HERE).



Já está transformado em marcador.