domingo, 31 de julho de 2016

Proémio.

No olhar repentino fixei duas malaguetas cruzadas (não são), o Y deitado que faz lembrar a bandeira da África do Sul, o nosso verde, vermelho e amarelo...

A funny flag, why?... is the flag of Vanuatu (ops!... a minha ignorância)... a flag of convenience, on a Spanish ship...

Pergunta minha, respostas de um membro da tripulação. Parece que estamos num pequeno navio pirata. Ambiente muito descontraido, o navio balançava muito (tão bom), uma brisa moderada e constante (melhor ainda), o paredão alto do cais... a maré andava baixa, no oposto da minha satisfação.




ATYLA é o nome do navio, um dos participantes da «The Tall Ships Races Lisboa 2016». O penúltimo dos navios atracados, a montante do Cais do Jardim do Tabaco. Não é Classe A, estava na minha lista, mas não estava nas minhas prioridades, e dei por ele porque estava quase no fim, e pelo menos de ponta a ponta era obrigação marcar presença. AMERIGO VESPUCCI, ALEXANDER VON HUMBOLDT II, e CHRISTIAN RADICH acabaram por ser as deceções, por razões diferentes, mas que não têm a ver com os navios em si. O CUAUHTÉMOC, a outra grande surpresa, pelo ambiente festivo AQUI, o reencontro com um velho conhecido (o navio).

Christian Radich, Georg Stage e Maybe estiveram na primeira regata (de Torbay, sul de Inglaterra, a Lisboa) realizada há 60 anos.




Recordo Vanuatu do tempo da EXPO'98, em particular a música que escutei no pavilhão AQUI, e o CD que comprei. De regresso a casa Vanuatu ia nos meus pensamentos em música, e vagamente situado para os lados da Nova Zelândia (não é bem assim). Feito o acerto geográfico na Wikipédia, e rebuscado o CD, descubro o estranho nome, de familiar, da maior ilha de Vanuatu: Espiritu Santo. Quem a descobriu, e lhe deu o nome, foi o português Pedro Fernandes de Queirós. Uma vida que deu origem ao poema épico «Captain Quiros» de James McAuley.

A palavra Austrália que hoje usamos para o continente terá sido pela primeira vez usada por ele, e continuada por outros, pois acreditava que a Austrália do Espírito Santo seria parte de um continente. Não se limitou a descobrir de passagem, fundou uma colónia e fracassou, atravessou o Oceano Pacífico, e nenhum dos seu homens morreu de escorbuto, talvez porque tivesse descoberto que incluindo frutas e legumes na dieta dos seus marinheiros afastaria a doença.

De volta ao ATYLA, o navio tem o seu passado, e certamente é uma boa opção futura para ocupar um pouco das férias de verão dos jovens, haja interesse que o resto se consegue, porque férias é tempo de fazer coisas diferentes, o tempo de não fazer nada é no cemitério.

Proémio... é o Proem, título de abertura do poema Captain Quiros, o início improvavel, que transforma, surpreende, dá sentido, e do fim se fez princípio, ou tudo isto não passa de uma grande estopada, ou «a fórmula aventureira dos argonautas: navegar é preciso, viver não é preciso.» AQUI

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Post scriptum:

English translation ON HERE
Porque somos nós, europeus.


The Tall Ships Races 2016 - Race results.

domingo, 17 de julho de 2016

Acerca do aprender e do luxo.

Fazer uma correção linear, para sincronizar a legenda de um filme, teve efeitos colaterais inesperados. À luz dos meus olhos se destacou o que está a amarelo. Fui lá parar pela necessidade de escolher um segundo ponto, a isso obriga o linear, e vejo o Merlin a responder o que está marcado a verde.
1522
02:19:33,230 --> 02:19:37,969
Qual é a melhor coisa para a tristeza?
Ensinaste-me uma vez.

1523
02:19:38,407 --> 02:19:41,939
O melhor para a tristeza
é aprender algo.

1524
02:19:42,551 --> 02:19:44,076
Aprender algo?

1525
02:19:44,287 --> 02:19:48,194
É a única coisa
que nunca falha.

T. H. White (Terence Hanbury White) (re)criou as seguintes palavras de Merlin:
«The best thing for being sad," replied Merlyn, beginning to puff and blow, "is to learn something. That is the only thing that never fails. You may grow old and trembling in your anatomies, you may lie awake in the middle of the night listening to the disorder of your veins, you may miss your only love, you may see the world around you devastated by evil lunatics, or know your honour trampled in the sewers of baser minds. There is only one thing for it then — to learn. Learn why the world wags and what wags it. That is the only thing the mind can never exhaust, never alienate, never be tortured by, never fear or distrust, and never dream of regretting.» AQUI
Na tradução para o português:
«A melhor coisa a fazer quando se esta triste - respondeu Merlin, começando a fumar e soltar baforadas - é aprender alguma coisa. Essa é a única coisa que nunca falha. Você pode ficar velho e trêmulo em sua anatomia, pode passar a noite acordado escutando a desordem de sua veias, pode sentir saudade de seu único amor, pode ver o mundo ao seu redor ser devastado por lunáticos malvados  ou saber que a sua honra foi pisoteada no esgoto das mentes baixas. Só há uma coisa  para isso : aprender. Aprender por que o mundo gira e o que o faz girar. Essa  é a única coisa da qual a mente não pode jamais se cansar, nem se alienar,nem se torturar,nem temer ou descrer, e nunca sonhar em se arrepender.» AQUI
E foi assim que parti em busca, e aprendi, que o filme de 1967 se baseia no romance «O Rei que Foi e Um Dia Será» (The Once and Future King), de T. H. White (Terence Hanbury White), que "fixa", porque mais perto de nós, e está na origem do filme de animação «A Espada Era a Lei» da Disney (1963), que ainda hoje continua a fazer parte das «sagas» familiares que se vão perpetuando na partilha do que vem, e do que vai, para a frente que é futuro.

Puxando pelo universo arturiano, na forma escrita, temos "ainda" (como se não fosse o "início") Thomas Malory e a sua «A Morte de Artur». Será que a preocupação de T. H. White, de dar resposta à tristeza, se insinua noutro discurso de Merlin, agora nas palavras de Thomas Malory?

Mas o propósito de tudo isto é só um, para mim é uma evidência: aprender alguma coisa, cada dia que passa, é muito prazeroso. Provavelmente sempre foi assim, as "palavras do Merlin" só vieram reforçar/relembrar. Não sei como é convosco :)

Noutro registo, e en passant literalmente, capto em segundos o que me foi oferecido pelo acaso:
«O luxo é também ter tempo para si sem ser obrigado a viver sob uma pressão contínua.» AQUI
O giro é que se começasse por vos procurar o que é o luxo, provavelmente iriam parar ao peso do que não se tem e se deseja, de tão inacessível de ser caro... ao puro engano! É como os três desejos do génio da lâmpada mágica. Por enquanto só tenho um desejo certo, quando e se encontrar... falar e escrever todas as línguas do universo, os outros dois continuam em aberto.

Mas o Karl Lagerfeld surpreende ainda mais (não tem nada a ver, mas tem: From Karl Lagerfeld to Karl Marx), na banalidade que nos envolve, como sal ou doce em excesso, que literalmente entropeçe o paladar:
«Porque hoje em dia, lamentavelmente, há muita gente sem nada para fazer e os outros, que são demasiado agitados. Então, isso também é um luxo. O luxo é também uma questão de qualidade, o luxo é também uma questão de fineza de espírito. Sabe, podemos fazer uma experiência. Não são apenas as coisas caras, é preciso que sejam bem feitas e que justifiquem o preço e que a qualidade deve ser impecável.»
E como se liga isto tudo (acerca do aprender e do luxo)? Pela fineza de espírito e na qualidade que depositamos naquilo que fazemos. Aprender é a chave de tudo. E aprender envolve tanta coisa. Vago demais?... talvez!... com pressa de terminar e ir até ao mar. FIM.

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Post scriptum:
  • Desde meados de fevereiro que preparei a visita, chegou a hora. Início na próxima sexta-feira, 22 de julho, «The Tall Ships Races Lisboa 2016» (60º Aniversário das «The Tall Ships Races»). A minha folha de escolhas: a verde navios prioritários a visitar, a sublinhado navios com alguma especificidade, a amarelo o significado do nome do navio. AQUI 

A foto é minha e mostra a diferença de tamanho entre o Creoula (menor) e a Sagres.


  • A grande exposição sobre Bosch. The 5th Centenary Exhibition no Museo Nacional del Prado. Já tenho o catálogo, falta a visita. Descobri Bosch através da capa de um LP dos Celtic Frost (Into the Pandemonium). A sua música continua para mim inacessível... AQUI... intragável, mas Bosch continua, e vai perdurar em mim como um misterioso e fantástico devaneio. Talvez o quotidiano estranho pela transformação das mentalidades, a pátina do tempo que acentua e descontextualiza. Mas há mais, por contrapartida do nosso Bosch no Prado (Tentações de Santo Antão), vem até nós o Autorretrato de Dürer, AQUI.

A capa do meu LP que me levou a descobrir Bosch.


terça-feira, 5 de julho de 2016

Adfyd a ddwg wybodaeth, a gwybodaeth ddoethineb.

O título da mensagem é um provérbio galês, que traduzido para o português, apartir do inglês, fica assim: a adversidade traz o conhecimento, e este a sabedoria.

O que nos contraria, as dificuldades experimentadas, levam ao nosso provérbio «a necessidade aguça o engenho».

Temos pois o conhecimento pela vivência ou pela prática de uma atividade, em ambos a experiência é a base sólida para o conhecimento, não é o que diziam os antigos, mas o que experimentei, nas palavras de Duarte Pacheco Pereira «a experiência, que é madre das cousas, nos desengana e de toda a dúvida nos tira», e que podem ler AQUI num texto surpreendente, porque nos convoca à descoberta, do Onésimo Teotónio Almeida.

Por incrível que pareça, esta «conversa» surge por causa do próximo jogo de Portugal no EURO 2016, e digo incrível porque não gosto de futebol. Para mim assistir a um jogo do princípio ao fim é tarefa fastidiosa. Continuo a achar que «A paixão pelo futebol não é apenas uma paixão desportiva. É a expressão de um país acabrunhado que só encontra nas chuteiras uma causa – e um sentido.» (JPC, AQUI), mas o entusiasmo do FJV, AQUI, e a afirmação «Algumas pessoas pensam que o futebol é uma questão de vida e morte. Posso assegurar-vos que é muito, muito mais importante do que isso» (Bill Shankly), ou «Coisas banais são o melhor do futebol» (AQUI), e o que o FJV vem escrevendo na coluna «Os Bravos do Pelotão», a propósito do Euro 2016, que religiosamente vou recortando, digitalizando e arquivando (AQUI), têm lançado sobre mim a suspeita de que estarei a perder algo.

Será que irei descobrir o porquê de tanta alegria na irracionalidade, de tanta baboseira e conversa fiada em torno do futebol, será que conseguirei ficar pregado e transtornado, aos berros e de pulsação alterada, a ver um jogo de futebol do princípio ao fim?... nada, até agora nada. Estou na mesma, em campo oposto/ausente/inexistente. Não há nada que chegue à vida secreta das árvores AQUI... e a outros «nadas» muito meus :)

Gales, o País de Gales, a que aludí no início através de um provérbio, é antes de tudo a recordação de uma aventura de «Os Cinco nas Montanhas de Gales» («Five Get Into a Fix» no original de 1958), que podem visualizar AQUI, na versão que passou na RTP nos anos 70-80, e o livro que li. Revejam os minutos iniciais, certamente terão sido filmados em Gales: as colinas, a placa a indicar LLANFAIRORLLWYN.




Mas a velha e mítica nação galesa é também a Camelot do Rei Artur, que continua por encontrar, perdida algures em Gales, na imaginação de muitos de nós... e assim nos alimenta.


Ilustração retirada do livro de John Howe, Mundos Perdidos.

Mais recentemente foi a descoberta de dois poetas galeses. O Dylan Thomas, sorvido num dia difícil, AQUI, e o R. S. Thomas, que me foi dado a conhecer pelo Patrick, e do qual vos apresento um poema que faz a ponte entre paisagem e história, com mitos à mistura, um poema sobre resiliênciae do qual me atrevi a fazer a tradução (a minha primeira).

A Welshman to any Tourist

We've nothing vast , no deserts
Except the waste of thought
Forming from mind erosion;
No canyons where the pterodactyl's wing
Falls like a shadow.
the hills are fine, of course,
Bearded with water to suggest age
And pocked with cavarns,
One being Arthur's dormitory;
He and his knights are the bright ore
That seams our history,
But shame has kept them late in bed.


Um Galês para algum Turista

Não temos nada vasto para lhe oferecer, não há desertos
Exceto o resíduo do pensamento
Formado a partir da erosão da mente;
Não há desfiladeiros onde a asa do pterodáctilo
Se precipite como uma sombra.
boas colinas, claro,
Barbadas de água insinuando a idade
E crivadas de cavernas,
Uma é a camarata de Artur;
Ele e os seus cavaleiros são o minério brilhante
Que sutura a nossa história,
Mas a vergonha manteve-los até tarde na cama.

Uma análise do poema AQUI. Quando se entende fica mais fácil de gostar. É o que me está a faltar no futebol :)

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Post scriptum

Ricardo e Lia, esta mensagem é-vos dedicada... porque nos encontrámos, porque andei com o rascunho da tradução do poema no bolso, enquanto conversávamos, porque é um começo/recomeço, porque não são precisos mais porquês. Alice é o vosso futuro.