sábado, 21 de março de 2015

Um sopro de cor... ou...

... na perspetiva de cor: ramificações e o céu, cinzentos, que lentamente ganham verdes e azuis (o azul chegou primeiro ao céu). A ausência e o que veste os meus sentidos. Um pouco agnóstico e pagão, ou outra ponte, se é que isso interessa, são tantas num mar de azul.

É por aqui que ando, e o que se segue: verdes que vão ganhando espaço e vício de vida... tenros... azuis cada vez mais amplos e saturados... que iluminam!... sobram alguns cinzentos dentro de mim.

No início da primavera...


Perspetiva de cores_Perspective color

“The Absence” by R. S. Thomas (1913-2000)*

It is this great absence
that is like a presence, that compels
me to address it without hope
of a reply. It is a room I enter

from which someone has just
gone, the vestibule for the arrival
of one who has not yet come.
I modernise the anachronism

of my language, but he is no more here
than before. Genes and molecules
have no more power to call
him up than the incense of the Hebrews

at their altars. My equations fail
as my words do. What resources have I
other than the emptiness without him of my whole

being, a vacuum he may not abhor?



Dendrites


Ode Pagã de Carlos Queiroz (1907-1949)

Viver! - O corpo nu, a saltar, a correr
Numa praia deserta, ou rolando na areia,
Rolando, até ao mar... (que importa o que a alma anseia?)
    
Isto sim, é viver!

O Paraíso é nosso e está na terra. Nós
É que temos o olhar velado de incerteza;
E julgamos ouvir a voz da Natureza
Ouvindo a nossa voz.

Ilusões! O triunfo, o amor, a poesia...
Não merecem, sequer, um dia à beira-mar
Vivido plenamente, - a sorver, a beijar
O vento e a maresia.

Viver é estar assim, a fronte ao céu erguida,
Os membros livres, as narinas dilatadas;
Com toda a Natureza, em espírito, as mãos dadas
- O resto não é vida.

Que venha, pois, a brisa e me trespasse a pele,
Para melhor poder compreendê-Ia e amá-Ia!
Que a voz do mar me chame e ouvindo a sua fala,
Eu vá e seja dele!

Que o Sol penetre bem na minha carne e a deixe
Queimada para sempre! As ondas, uma a uma,
Rebentem no meu corpo e eu fique, ébrio de espuma,

Contente como um peixe!

----------------------------------
P.S. Hoje é o Dia Mundial da Poesia;
     21st Century Portuguese Poetry translated into English;
     Ouvir e ou ler poesia;
     Um poema por semana.

     Thank you Patrick for this discovery.

quarta-feira, 18 de março de 2015

Vemvai... a idade não perdoa.

Tu que és velho
Vais devagar, demais...
Tu que és novo
Vens depressa, demais...

A idade não perdoa.

No cruzamento da Av. do Uruguai com a Estrada de Benfica, junto ao Edmundo, nos sinais luminosos, escutei um jovem a dizer "a idade não perdoa", pois um condutor idoso demorando a reagir ao sinal verde foi logo alvo de buzinadela, o que o deixou ainda mais atrapalhado. Foi apartir daqui que nasceu esta "quase poesia", só tive tempo de atravessar a rua, andar uns metros, encontrar um local para me sentar, e rabiscar o que se segue, no papel que tinha em mãos (Poemas Inconjuntos de Alberto Caeiro).

A vida não é um vaivém, mas sim um vemvai, como um rio, que corre sempre no mesmo sentido, milhões de gotas de água todas com o mesmo destino, a força do fluir é imparável desde o vigor da nascente até à placidez a jusante. Para morrer não há pressa, mas sim para viver. A idade não perdoa.


Nasceu assim.


----------------------------------

P.S. Caro Tiago, completas hoje mais uma volta ao Sol, deixas o ítrio e entras no zircónio, bem-vindo à "idade média" (brincadeira, o termo correto é meia-idade).

domingo, 15 de março de 2015

A insatisfação de Tolstoi.

À insatisfação no prazer, e sua incessante busca por vias tortuosas, que encontrei em Grey, junto-lhe agora a insatisfação na vida de Tolstoi, também este por caminhos tortuosos, e que se traduz nas seis perguntas desconhecidas, às quais deveria responder:
  1. Para que viver?
  2. Qual o motivo da minha existência e da de qualquer outro indivíduo?
  3. Qual a finalidade da minha existência e da de qualquer outro?
  4. Que significa a distinção entre o bem e o mal que sinto em mim, e para que existe ela?
  5. Como devo viver?
  6. Que é a morte, — como posso salvar-me?

Tolstoi - Religioso e Sociólogo (Stefan Zweig - A Marcha do Tempo)

Dei por mim a fazer este paralelo quando, por acaso, lia este artigo de Stefan Zweig sobre Tolstoi, e que podem encontrar AQUI. Rapidamente confrontei as duas personagens, ambas com vidas de sucesso:

GREY              TOLSTOI
Ficção            Real
Séc. XXI (EUA)    Séc. XIX (Russia)
Magnata           Aristocrata
Cidade            Campo
Empresário        Escritor
Vintes            Cinquentas
BDSM(?)           6 Perguntas

É a marcha do tempo, de fundo e a de cada um. Apesar do hiato temporal entre ambas as personagens, têm um século a separá-las, as preocupações de cada um são as decorrentes das suas idades, o que é normal: aos vinte pensa-se no sexo, aos cinquenta pensa-se na morte, caricaturando e simplificando. O que não é normal no nosso tempo, digo nosso tempo porque é o tempo que me interessa, pois é o tempo em que estou vivo e que posso fazer coisas, entenda-se ser feliz,  é querer reduzir a felicidade ao mito do eternamente jovem, seja em orgias bizarras, seja no consumismo, que não é mais do que ter sempre coisas novas. É bom ter coisas novas, mas só isso não chega, há que crescer, quanto mais não seja porque o relógio de cada um não pára, a bem ou a mal vais crescer e morrer, literalmente, e depois pode ser tarde para ser feliz... termina-se infeliz e amargurado.

Stefan Zweig, autor do texto que referi, e que ando a ler e a descobrir prazerosamente, neste momento tenho em mãos "A Marcha do Tempo", é facil de encontrar nos alfarrabista, a preços simpáticos (este custou-me 2,50€), foi um autor famoso e muito lido, mas que caiu no esquecimento, e que terminou os seus dias no Brasil, na maior de todas as insatisfações: o suicídio. Vale apena ler a sua Declaração de despedida e a foto da sua morte.

Tudo começou com um filme, e de insatisfação em insatisfação termino com um filme: Grand Budapest Hotel, baseado vagamente na vida e obra de Stefan Zweig (Gustave H. no filme). Uma triangulação na insatisfação: 3 personagens, 2 filmes, 1 livro, e a minha curiosidade insatisfeita, não esta, mas as que se seguem ;)

domingo, 8 de março de 2015

A tasty book about type, not a flat wor(l)d.




On the day the book arrived, flipping through the book, was a visual orgy, so many fonts, illustrations, colors, and the smell of new book... inky ;)

A little confused?... no, it was enough to start reading and was flowing. The english is straight, I am portuguese native speaker, put the concepts into place, start watching what not see, systematize/organize, and discover new frontiers. I am a non professional user of fonts, which began to wake up to them in the late 80's, when I started to work with computers. It was love at first sight, which still remains.

To me, the book's core is chapter 9, everything revolves around it, and makes it a partner of reference, which will always be next to the Portuguese Dictionary. The chapters are short and concise, with practical examples (Type Safari is a must). The challenging and updated notes sharpened my curiosity.

Only started understanding the book title starting the chapter 11 (the word taster did not appeal to the sense of sight), and surprisingly, or not, the book ends with a back to basics: eat and talk about fonts, after all fonts are part of our lives. 


Worked pages of my book (underlined, annotated and scribbled with pencil 5B).

A book that is not "serious", but it is to take seriously.

Inky, chunky, vivid, juicy and eureka!... my five senses about the book, in order of arrival, since first contact: smell, touch, sight, taste and hearing (my joy in the enlightenment).

Congratulations Sarah.

----------------------------------
P.S. 
How interacting better with fontsBuy the book :)

Wake up & smell the fonts | Sarah Hyndman | TEDxBedford