domingo, 1 de julho de 2018

À pala [de]...

Foi este domingo, a entrada não é paga, e porque Palla [Victor] é um dos arquitetos do livro [o outro é o Costa Martins]. E aqui arquitetos é em sentido literal e figurado, tal como a exposição e o seu título: «Lisboa 'Cidade Triste e Alegre': Arquitetura de um Livro». Está no Museu de Lisboa [Palácio Pimenta] até 16 de setembro de 2018.

Arquitetado e concretizado, coube ao tempo dar-lhe o estatuto de livro de culto sobre Lisboa: o "poema gráfico".




«É o que costuma acontecer com os livros de culto – que não são bem o mesmo que livros raros. O livro raro é quase impossível de encontrar, está a um passo de estar perdido, mas pode não valer nada. O livro de culto, pelo contrário, está em todo o lado mas não se lhe pode tocar. Tantaliza. Não pela escassez mas, porque, apesar de estar em todo o lado, insiste em escapar-se.
[...] limitamonos a participar de um processo coletivo e constante de recuperação, um formigar de interesses, de instituições, de eventos, de palestras, de exposições, que alimentam o livro e o mantêm vivo, atualizando o seu significado para novos contextos.
[...] é um livro moderno porque acumula esses sentidos: é um passeio disperso por um espaço urbano pobre, provinciano, rural, que se torna moderno porque dois arquitetos fotógrafos o olharam e registaram esse olhar de maneira moderna, sob a forma de um livro que acarinha o próprio ato de ser folheado.
[...] o índice é a parte mais linear, onde os autores constroem uma narrativa documental quase literária a pretexto de fornecer os dados técnicos e o contexto por trás de cada uma das imagens. É um índice que se lê para um livro que se vê.
[...] Cada fascículo era precedido e acompanhado de notas explicando o processo, o livro, seduzindo os leitores para o processo. Até o material incluído em cada fascículo era selecionado de maneira a que o leitor pudesse ir lendo o livro aos poucos. Ou seja, havia também um modo periódico de o ler, concebido para desaparecer no momento em que os fascículos se tornavam num livro.
[...] Era também um exemplo da economia modernista: a partir de um conjunto limitado de peças, módulos, e da sua disposição engendrava-se um repertório aparentemente ilimitado de leituras, de usos.»

in "Outra vez te releio", Mário Moura. Catálogo da Exposição [páginas 147 a 152].


Montagem minha, a partir da digitalização da capa e da lombada do catálogo da exposição, em virtude de exceder a área do meu scanner. Na lombada a palavra arquitetura está na grafia anterior ao AO. Provavelmente uma gralha.

Alguns dos meus momentos de apropriação. Dúvidas e pensamentos desconexos que estas "legendas" ajudaram a por um pouco de ordem. O lento método de tentativa e erro de um autodidata. 


A técnica não é senão o instrumento...
Halo de poeira cuprosa assinalando as mãos, foi o que também vi.


... a simples atitude selectiva e a escolha consequente são já factores que começam por negar o acaso.


Assisti ainda, quase na totalidade [mais de 30' de um total de 44'], ao documentário 'Lisboa, Cidade Triste e Alegre' de Luís Camanho, 2005.


Saída da sala onde podemos ler o texto do José Rodrigues Miguéis, encomendado para a obra,  qual friso cronológico... deslumbrante. Texto completo AQUI, de leitura imprescindível.


Estou a "ler o livro aos poucos", através da reedição da primeira versão do livro em fascículos, que o Jornal Público entretanto lançou. [Reduzida 15% lineares nas dimensões da edição original por decisão contratual da maioria dos Herdeiros dos Autores.]


Montagem minha, a partir da digitalização separada dos fascículos. Por vezes o scanner funciona como uma quase máquina fotográfica.

"Bato a pala" a tudo isto, e é para voltar.

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